LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA
11 Abril 2018, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
Poética: Technè poiètikè
Uma produção com technè (conhecimento)
As categorias estruturantes poièsis – mimèsis – katharsis
I. A Poièsis entre as actividades humanas fundamentais
Distinção das actividades: theôria / poièsis / praxis:
Metafísica A 2, 982b;
E 1, 1025b 18: Dado que também a ciência da natureza encontra-se circunscrita a um género do ente (pois se circunscreve ao tipo de essência em que o princípio de movimento e repouso está nela mesma), é evidente que ela não é nem ciência prática, nem ciência produtiva (pois o princípio daquilo que é susceptível de ser produzido está no produtor (inteligência, ou técnica, ou alguma capacidade), e o princípio daquilo que é susceptível de ser feito está no agente (a escolha); de fato, uma mesma coisa é susceptível de escolha e susceptível de ser feita); consequentemente, se todo conhecimento racional é ou prático, ou produtivo, ou teórico, a ciência da natureza há-de ser teórica, mas teórica a respeito de um ente tal que é capaz de mover-se, e apenas a respeito do tipo de essência que é conforme à definição no mais das vezes, e que não é separada. (Tradução de Lucas Angioni).
2. A articulação entre poiesis e mimèsis
Poética, 4: causas naturais da imitação
Poética, 1: meios, modos e objecto da imitação
A technè como imitação da natureza (physis): diferença e ligação entre o ser natural e a obra humana.
LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA
Technè como imitação e aperfeiçoamento do natural (Física II, 8)
Causas naturais da imitação (cap.4)
Analogia entre a obra e o ser vivo: tal como o natural, a arte segue um processo (energeia) que deve tender para o seu fim (telos) como realização completa (enteléqueia).
Compreensão da mimèsis em termos de processo diacrónico / do movimento (metabolè) que produz a obra como um ente singular determinado (ousia).
Critérios formais / intrínsecos/ da obra / adequação entre forma e fim
Equivalência entre beleza e perfeição, ou concepção objectivista da beleza / a per-feição como acabamento, finita, completa.
7, 1450b34: completude, totalidade e extensão
7, 1451a 10: “quanto à extensão, o mais comprido é o mais belo”
13, 1453a 21: “a mais bela tragédia do ponto de vista da arte”
15, 1454b 9: “ao fornecerem a forma própria, pintam retratos semelhantes, mas em mais belo.
Primado do critério do objecto
a) primado do objecto (enredo (mythos), os caracteres (ethos, pl. ethè) e o pensamento (dianoia) sobre os meios ( expressão, ou elocução (lexis) / música, ou canto (melopoia) e sobre o modo (o espectáculo).
b) primado do enredo – homens em acção - sobre os caracteres e o pensamento (Cap.6).
1450a 15: a tragédia é representação, não de homens, mas de acções
O enredo não é o real dado, mas é constituído pela actividade mimética segundo uma correcta estruturação dos factos (sustasis)
Transposição da realidade em obra
1451b 27: “não deixa de ser poeta por contar factos reais”
1451b 22: “não é preciso seguir exclusivamente as histórias tradicionais”
“talento”: 51b …
Tragédia e teoria das causas
A obra é um composto (sunolon) de matéria e forma
Causa material: o objecto (enredo, caracteres e pensamento)????
-- formal: perfeição intrínseca/ regras da technè poética (para cada género)????
-- eficiente: technè poética + o talento do poeta
-- final: prazer próprio da catarse (ouvinte/ espectador/ leitor)
Poética, Pedagogia e Ética
Cap. 4: prazer de aprender/ prazer de reconhecimento
Cap.25: ser, parecer, dever ser
1460 b 23: Sófocles (como devem ser), Eurípides (como são)
Poética e Linguagem
--Teoria da metáfora (cap. 21-22): “bem metaforizar é ver (theorein) o semelhante” (1459a 4-8)
1. - do género à espécie: o meu barco parou / o meu barco está ancorado
2. - da espécie ao género: Ulisses realizou dez mil façanhas / Ulisses realizou um grande número
3. da espécie à espécie dentro de um género comum: (tirar) :
Arrancando a vida com a brônzea espada
Cortando com o bronze indestrutível
4.- por analogia
- quando falta o termo
- por negação ou privativa
- a lógica própria
- função intelectual e ética:
- do prazer do reconhecimento à catarse como elevação (purificação/libertação/ sublimação)
Obra singular expõe um universal: poesia e filosofia
Comentários:
Nietzsche, O nascimento da Tragédia: apolíneo e não dionisíaco;
Freud, “A criação literária e o sonho acordado”; “Caracteres psicopatológicos sobre o palco”
José Pedro Serra, Pensar o Trágico.