IV. Problema Mente-Corpo - 3

14 Novembro 2019, 16:00 António José Teiga Zilhão

O argumento de Kripke contra o materialismo reducionista (defensor da identidade tipológica): i) O materialismo reducionista afirma que podemos entender as identidades psico-físicas (e.g., dor=disparo das fibras-C) como sendo do mesmo género que as identidades teóricas descobertas pela ciência (e.g., água=H2O; calor=energia cinética molecular média); ii)  Refutação de Kripke do materialismo reducionista: a) as identidades teóricas da ciência, se verdadeiras, são (pace Kant) verdades necessárias a posteriori (i.e., são, efectivamente, identidades - as suas negações não podem ser afirmadas sem que se incorra numa contradição - mas a sua descoberta é mediada por trabalho empírico efectivo); b) as supostas identidades psico-físicas propostas pelos filósofos materialistas podem ser negadas sem que se incorra numa contradição; logo, elas não são necessárias; não sendo necessárias, tão-pouco podem ser identidades; c) caso elas exprimam concatenações realmente existentes no mundo empírico, as supostas identidades psico-físicas exprimem concatenações contingentes (i.e., elas exprimem concatenações de natureza causal); d) mas causas e efeitos são eventos distintos entre si e independentes um do outro; e) logo, o que o materialismo reducionista contende é que poderíamos 'reduzir', por meio de uma definição com a forma de uma identidade, o termo que designa um efeito ao termo que designa a sua causa; f) mas uma tal contenção é incorrecta - as causas nem definem nem são idênticas aos seus efeitos; g) logo, o materialismo reducionista é improcedente.