Comentário crítico avaliação

29 Abril 2020, 12:00 Maria João Quintas Lopes Baptista Neto

Foi enviado aos alunos um e-mail com o enunciado do comentário escrito que deverão realizar em substituição do teste presencial para avaliação da disciplina de Gestão Integrada do Património Artístico.

Transcreve-se o enunciado envido:

Avaliação da disciplina de Gestão Integrada do Património Artístico


Nota Prévia: Pede-se um comentário crítico a um excerto de uma entrevista concedida por António Filipe Pimentel, então diretor demissionário do Museu Nacional De Arte Antiga, à imprensa escrita, a 15 de janeiro de 2019. Na elaboração do comentário, deverão ser observados os aspetos contidos no texto em estreita relação com critérios de gestão, sem deixar de ter em conta os conteúdos programáticos desenvolvidos na disciplina, tais como os fundamentos da gestão patrimonial, entidades gestoras, fundos, mecenato e crowdfunding. O comentário, que deverá ter entre 1000 e 1500 palavras,  será obrigatoriamente enviado até às 00:00H do dia 6 de maio, para o endereço: mjneto@letras.ulisboa.pt

I

Estabeleça um comentário crítico ao seguinte texto: 


Excertos de uma entrevista a António Filipe Pimentel aquando da sua demissão de Diretor do Museu Nacional de Arte Antiga.


A campanha “"Vamos pôr o Sequeira no Lugar Certo"” e o mote lançado - “compre um píxel da Adoração dos Magos” - conseguiu que milhares de pessoas metessem a mão no bolso para o museu adquirir uma peça importante da pintura portuguesa. Teve tanto sucesso que sobrou dinheiro, usado para comprar mais dois quadros. Uma ação que não só não custou um cêntimo ao Estado, como aumentou o interesse do público pelo museu.

Em Portugal não é habitual este tipo de iniciativas partir de um museu, mas são comuns e fazem parte da agenda anual noutros países em que instituições semelhantes ao MNAA procuram em efemérides ou em propostas de abordagem à arte motivos, que também se traduzam em boas oportunidades promocionais, e que fazem parte da gestão dos espaços. Em Portugal, os museus não têm independência funcional, administrativa ou financeira. Nem sequer têm identidade fiscal. O Ministério da Cultura, que é a tutela, diretamente ou através dos seus vários departamentos, toma as decisões e arrecada as receitas. E estas duas visões distintas sobre a gestão dos espaços de cultura colidiram na gestão do MNAA e o desenlace acabou por ser a decisão de António Filipe Pimentel de não se manter à frente do museu. Nas suas próprias palavras, no centro da questão está uma "palavra maldita que ninguém se atreveu a pronunciar durante muitos anos": autonomia.


P. Os museus beneficiaram muito com o aumento do turismo?


R. Não, os museus não beneficiaram com o aumento do turismo. Os visitantes do museu não provêm do turismo organizado, esses são os visitantes dos monumentos

(…)

Estamos a falar dum país muito estranho, onde ninguém tem a noção do que é um museu, não têm a noção da diferença entre um museu e um monumento. O Monte da Lua, por exemplo, uma estrutura de que fui a favor, que só tem monumentos e o parque natural, conseguiu criar uma economia fechada, um circuito de sucesso que permite uma reinversão contínua no restauro e na reabilitação.

O Monte da Lua consegue ter uma economia fechada e auto-sustentável. O que ele fez foi zerar as dívidas da Parques de Sintra e fazer o seu programa a partir daí. Sendo que, tendo um número fiscal, por exemplo, pode fazer projetos europeus e ter colaborações de todo o tipo que a nós estão vedadas. Fixa o preço do bilhete, enquanto nós não o podemos fazer. Veja o absurdo de uma instituição financeira e administrativa como esta que poderia ser mais auto-sustentável, embora nunca rentável. Mas um monumento é uma caixa registadora; não tem os custos de um museu, não tem programação, não tem investigação científica, obras que circulam por toda a parte, obras que vêm, etc. Por isso é aquele segmento em que o turismo verdadeiramente se projeta.

Quanto a este museu, sempre se imputam os custos, que é uma estrutura altamente deficitária – quando o défice é apenas de um milhão e meio de euros – e depois esse valor poderia ser menor se nós tivéssemos a autonomia de gerir pelo menos as nossas imagens. Nós não somos donos das imagens das nossas obras. Não as podemos usar.


P. Então e o merchandising, o que se vende na loja do museu?


R. A loja não é do MNAA; é uma loja no MNAA. As receitas não são nossas. Veja, por exemplo, o museu Thyssen, que tem cerca de um milhão de visitantes, gera quatro milhões de euros na loja. Além disso, a loja de um museu tem uma dupla finalidade, não é só fazer dinheiro, é também promover o dinheiro futuro, ou seja, afirmar a marca da instituição, criando nas pessoas a apetência de voltar. Ora, se nós vendemos na nossa loja as loiças do Palácio da Ajuda, é um bocadinho difícil as pessoas identifiquem as suas compras connosco.


P. O negócio das lojas está centralizado pela tutela, é isso?


R. Exato. Portanto ou temos a loja só com meia dúzia de produtos nossos ou, para ter uma loja que apeteça entrar, temos de receber peças dos outros museus nacionais. É extraordinário que se tenha desperdiçado, mais uma vez, a oportunidade de finalmente se olhar a sério para a questão dos museus, e que todos eles precisam de meios. Uma coisa é perceber que todos os museus são importantes e têm que ter meios e outra e tratá-los por igual como se tivessem a mesma escala.



In: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/antonio-filipe-pimentel-estamos-a-falar-de-uma-questao-que-envolve-uma-palavra-maldita-que-e-autonomia

Consulta a 28 de abril de 2020