Notícia: outros aspectos

13 Março 2020, 16:00 Ernesto José Rodrigues

Pontuação

       É um assunto dramático, e lamentável, na Imprensa lusa. A tragédia maior é dar com uma vírgula entre sujeito e verbo. Veja-se, aqui, como separadora de enumerações (A autarquia aprovou a construção de novas estradas, pontes, etc.), de repetições vocabulares e quando a oração subordinada vem antes da subordinante (Embora a guerra continue, o povo está firme).

       A vírgula e os dois pontos (menos o ponto e vírgula) exigem um treino continuado de leitura dos bons autores e grandes jornalistas. Decidir se as siglas vêm com ou sem ponto.

       O mesmo se dirá para os parêntesis e, em especial, para as aspas e travessões, tão presentes na reportagem e na entrevista. Aquelas concorrem nas citações, inclusive nos títulos, e quando a palavra ou sintagma remete para um campo semântico segundo (O ministro está "queimado").

       O apóstrofo, menos comum, mereceu larga atenção dos actuais ortógrafos de Portugal, do Brasil e dos PALOP, que igualmente se debruçaram sobre as maiúsculas e minúsculas.

       Reduzir, esbater mesmo, a pontuação nos títulos e antetítulos. Atentar, sobretudo, no perigo dos pontos de exclamação e de interrogação, além das reticências.

 

       Caixas altas e baixas

       Segundo Daniel Ricardo (Manual do Jornalista, 1989, pp. 93-101), é conveniente escrever com maiúscula inicial:

       1. substantivos comuns que façam parte de nomes próprios: Palácio de Belém; Rio Tejo.

       2. cognomes, nomes de guerra e de código e alcunhas: D. Dinis, o Lavrador.

       3. Homem na acepção de humanidade; Estado enquanto figura de Direito Público: Chefe de Estado; referindo-se a Portugal, designações como País, Nação, Pátria, Revolução, República, Hino Nacional, Bandeira Nacional.

       4. nomes dos órgãos de soberania, de movimentos políticos, da instituição militar, das organizações policiais, do sistema fiscal, associações, empresas, etc. 

       5. termos que identifiquem povos e grupos étnicos se, no singular, já exprimem uma ideia plural: O Açoriano é hospitaleiro.

       As alíneas multiplicam-se e alguns casos são flagrantes:

o Executivo camarário [o Diário de Notícias dá tudo em baixas], mas não, como aquele pretende, Município (antes, município) de Leiria; 1º Bairro Fiscal; a luz do Sol; a II Guerra Mundial: a Redacção de O Telégrafo [ou d'O Telégrafo; do Telégrafo é mais prático, embora menos correcto]; etc. Está-se a perder a maiusculação nas familiares Imprensa e Comunicação Social.

       Minúscula inicial levam, p. ex., as palavras que designam graus e títulos académicos, postos políticos, militares, eclesiásticos, nobiliárquicos, honoríficos: o professor Óscar Lopes, o ministro da Justiça, o primeiro-ministro, o provedor de Justiça, o governador de Macau... Mas: o Presidente da República.

       Num contexto local, de sensibilidades à flor da pele, pode ser conveniente referir o Secretário Regional das Pescas... Estas questões de proximidade têm os seus melindres.

       Nomes dos dias, meses e estações surgirão em minúsculas, segundo o novo Acordo Ortográfico.

 

       Identificação

       Aproximar do leitor aqueles de quem se fala é, também, preocupação do jornalista. Este nunca deve tratar por tu os entrevistados, nem fazer preceder de artigo definido os nomes dos indivíduos.

       Sendo conhecidos, dê-se o nome por que são mais facilmente identificáveis junto do grande público: Mota Amaral, e nunca João Bosco Mota Amaral; muito menos, o sr. / senhor dr./doutor J. B. Mota Amaral e, pior ainda, se antecedido por qualificativos próprios do mau jornalismo: distinto, ilustre, notável, eminente, virtuoso, sábio, fogoso, aplaudido, festejado, saudoso...

       Os títulos de função e os eclesiásticos ganham em ser separados dos nomes a que dizem respeito: Mário Soares recebeu ontem o primeiro-ministro. Após a reunião, o Presidente da República, etc.

       Se o "quem" da notícia é um desconhecido, urge fornecer o retrato completo, do nome à idade, profissão, local de trabalho e morada: José dos Santos Mateus, 35 anos, empregado bancário a viver em Oeiras, etc. Num segundo momento, bastaria dizer José Mateus.

       Preferir mulher de a esposa de ou senhora de. Não temer viúvo (em lugar de companheiro, p. ex.) quando se trata, de facto, de viúvo. A isso se chama precisão vocabular.

 

       Numerais

       Os cardinais até dez escrevem-se por extenso.

       Também por extenso devem vir os cardinais que iniciam períodos, citações, antetítulos, títulos, subtítulos, intertítulos.

       O mesmo para cem, a não ser que componha outro número: Havia cerca de cem pessoas na sala; mas: o empréstimo ultrapassa 100 milhões de contos. [Ver-se-á, em baixo, como o Expresso fura esta norma.]

       Igual regra serve para mil, milhar, milhares, milhão, milhões: um milhão de pessoas; votaram 155 mil eleitores. [A oscilação entre dezenas de milhar/milhares prejudica esta forma, que, por analogia, favorece dezenas de milhões e nunca de milhão.]          

       Quantias monetárias com cifrão vêm, naturalmente, em algarismos árabes: 12$50; quando a soma for redonda, ao número, por extenso ou não, segue-se escudo (s) ou conto (s): dois escudos, 400 contos.

       Em algarismos vêm, também, os números de tabelas, dos quadros de resultados, das percentagens, das coordenadas geográficas, dos pesos e medidas: Cerca de 8 por cento (e não %) dos leitores; a 44 graus de latitude norte e a 8 graus de longitude oeste; apreenderam 4 toneladas de carne numa área de 8 metros quadrados, descia a temperatura a dois graus negativos. Outros casos não levantam especiais dificuldades.

       A indicação das medidas de tempos varia de jornal para jornal: às 9 e 30; às 9h30; às 21.00; às 21H00; às 21 h.

       Os grupos de três algarismos nos grandes números são separados por espaços em branco: 453 892 671 (não 453.892.671).

 

       Siglas

       Sigla pouco conhecida surge entre parêntesis logo após o nome por extenso. Casos há em que a sigla, entranhadamente ligada ao próprio nome, vem em primeiro lugar, por interposto travessão: O Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro (IBNL); mas: a ATV - Associação de Telespectadores.

       Úteis numa segunda citação, não devemos sobrecarregar o texto de siglas e, sobretudo, acumular em poucas linhas siglas mal conhecidas.