Constituição material (2)

15 Outubro 2019, 10:00 Ricardo Santos

Continuação da aula anterior. Terceira opção: niilismo. Não há estátuas nem pedaços de barro, mas somente partículas elementares sem partes menores. Se a Física actual estiver certa, só há electrões e quarks. Quando uma pluralidade de partículas compõem um todo, o todo não é uma entidade adicional, além das partículas. Existem apenas as partículas. Estátuas e outros objectos macroscópicos do mesmo género (mesas e cadeiras, paus e pedras) são causalmente redundantes, quer dizer, não têm poderes causais próprios, diferentes daqueles que lhes são conferidos pelas partículas subatómicas que os constituem. O ‘princípio eleático’: só devemos aceitar a existência de entidades que tenham poderes causais próprios. O niilismo não pode ser refutado por simples observação. Mas podemos lançar dúvidas sobre o niilismo se considerarmos que é possível que não haja partículas indivisíveis. Quarta opção: aceitar a Coabitação, adoptando o tetradimensionalismo. Além de se estenderem no espaço (e terem partes espaciais), os objectos materiais estendem-se também no tempo (e têm partes temporais). Cada parte espacial existe num só lugar e cada parte temporal existe num só momento. O objecto no seu todo consiste em todas as suas partes juntas, espaciais e temporais. A estátua e o pedaço de barro são dois objectos diferentes, mas um faz parte do outro: todas as partes da estátua são partes do pedaço de barro, mas não inversamente. Por isso, o princípio de que é impossível as mesmas partes formarem dois todos diferentes não é violado. Consegue também explicar-se porque é que a destruição da estátua não destrói o pedaço de barro (ainda que sejam feitos da mesma matéria), sem ter de invocar nenhuma ‘maior fragilidade’ (?) daquela. Objecção: o tetradimensionalismo nega a realidade da mudança.