Francisco de Holanda teórico do renascimento português. Metodologias de abordagem à sua obra.

19 Novembro 2018, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Francisco de Holanda teórico do renascimento português. Metodologias de abordagem à sua obra. O tratado DA PINTURA ANTIGUA (1548), a defesa do conceito neoplatónico de IDEA, e a reivindicação da liberalidade estatutária.

Os dois pilares da Teoria da Arte de Francisco de Holanda – a imitação da Natureza e da Antiguidade, de um lado, e a idea neoplatónica, por outro – têm como ponto de contato o processo criativo descrito por Holanda nos dois tratados, o Da Pintura Antiga (1548) e o Do Tirar polo Natural (1549). A centralidade do «tirar do Natural» nessa sua Teoria de Arte acaba por justificar um tratado autónomo, apesar de a matéria relativa ao desenho e à composição da figura humana, nas suas diferentes poses e situações, tivesse já sido tratada no Livro I do Da Pintura Antiga, em capítulos muito subsidiários de Pompónio Gáurico, como demonstrou A. González García. O próprio raciocínio de validação das imagens já fora defendido nas páginas do Da Pintura Antiga e alargado às «figuras naturaes dos principes», preludiando o tratado Do Tirar polo Natural, concluído no ano seguinte. Faltava, contudo, o contributo decisivo da «individualidade» que distingue de forma substantiva o Retrato de qualquer outra representação da Figura Humana.

Se Francisco de Holanda fundamenta metafisicamente a possibilidade do Retrato e teoriza todos os domínios da sua estética e execução plástica, não abre, em contrapartida, nenhum subcapítulo para a autorrepresentação, ou seja, para os retratos dos artistas por eles próprios. Contudo, ele próprio se autorretratou no fólio final do seu álbum De Aetatibus Mundi Imagines e não há qualquer dúvida de que considerava os artistas dignos de representação, no grupo dos que eram «famosos nas armas, no desenho, nas letras, ou em qualquer singular arte liberal». É interessante notar que, nessa hierarquia, o desenho, mãe de todas as artes segundo Holanda, precede as letras e outras artes liberais.

No conjunto parco de três retratos, destacados em tondi, de grandes personagens do seu tempo que encontrou durante a viagem a Itália e que escolheu deixar-nos no Álbum das Antigualhas, um deles é de Miguel Ângelo, sendo os outros dois o do Papa Paulo III, que emparelha com o do artista florentino, e o do Doge de Veneza Pietro Lando.