Concetto, idea, liberalidade, scintilla divina, através da obra de Michelangelo (1475-1564)
11 Outubro 2018, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
MICHELANGELO Buonarroti (1475-1564), em vida foi considerado o maior artista do tempo; chamavam-lhe o Divino e ao longo dos séculos até os dias de hoje foi sempre tido na mais alta conta. Faz parte do reduzido grupo de artistas de fama universal, protótipo dos génios. Michelangelo foi um dos primeiros artistas ocidentais a ter sua biografia publicada ainda em vida. A sua fama de águia das artes era tamanha que, como nenhum artista anterior ou contemporâneo, sobrevivem muitos registos sobre a sua carreira e a sua personalidade, e os simples esboços de suas obras eram tidos como relíquias por uma legião de admir dores. Para a posteridade Michelangelo permanece como um dos poucos artistas aptos a expressar a experiência do Belo, do Trágico e do Sublime numa dimensão cósmica e universal. Miguel Ângelo Buonarroti teve oportunidade de conhecer em vida à publicação de duas elogiosas biografias, por Giorgio Vasari, editada em 1550, e por Ascanio Condivi, esta dada à estampa em 1553. Posteriormente à morte do escultor, Giorgio Vasari publica uma segunda edição das suas Vite… (1568), e aí reformula alguns dos juízos que havia emitido acerca da vida e obra do grande mestre.Esta segunda edição das Vite (…) constitui, ainda hoje uma das bases fundamentais de estudo para a compreensão da vida e obra do nosso artista. O pintor-escritor Ascanio Condivi (1525-1574) nasceu no seio de uma família de mercadores em Ripatransone, vai para Roma em 1545, aí conhece Miguel Ângelo e ingressa na sua oficina. Acaso por vontade expressa do próprio Miguel Ângelo, Condivi decide escrever uma nova biografia do artista, com o intuito de corrigir algumas das afirmações de Giorgio Vasari. Essa biografia “oficial” é publicada em 1553 e grangeia sucesso.
O português Francisco de Holanda (1517-1584) foi o primeiro artista português a estadear em Roma, em 1538-1540, na embaixada de D. Pedro Mascarenhas, e conheceu Miguel Ângelo, registando no tratado Da Pintura Antigua os diálogos que com ele manteve sobre antigualhas, liberalidade, pintura antiga e moderna e filosofia neoplatónica. Francisco de Holanda é o maior expoente da reflexão estética da Bella Maniera em Portugal. Pintor e humanista, filho do iluminador António de Holanda, partiu para Roma no âmbito da política de D. João III de estímulo à presença de bolseiros naquele que era o maior centro da cultura da época. Deixou desenhos da viagem no álbum Antigualhas e o tratado com os célebres Diálogos de Roma. Sobre o artista, são essenciais os estudos da historiadora de arte Sylvie Deswarte.
Michelangelo via-se mais como escultor que pintor ou arquitecto. Participou do debate sobre qual das artes – Pintura ou Escultura -- seria mais nobre, a questão do paragone, e pôs-se do lado dos escultores. Em carta a Benedetto Varchi em 1547, disse: «Creio que a pintura só atinge sua excelência na medida em que se aproxima dos efeitos do relevo, enquanto que um relevo é considerado pobre quando se aproxima do carácter da pintura. Costumo pensar que a escultura é o farol da pintura, e que entre ambas existe a mesma diferença que há entre o sol e a lua. Contudo, também considero ambas em essência a mesma coisa, na medida em que ambas procedem da mesma faculdade, e daí que é fácil estabelecer entre elas harmonia e encerrar as disputas, que gastam mais de nosso tempo do que produzir as figuras em si. Sobre aquele homem (Leonardo da Vinci) que escreveu que a pintura é mais nobre que a escultura, acho que minha empregada sabe mais do que ele.
Análise de várias obras de Michelangelo e da influência por elas gerada.