Artes do inconsciente criativo.
26 Setembro 2019, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Os novos géneros da arte e o alargamento metodológico da História da Arte face aos seus propósitos de intervenção. O inconsciente criativo e a dimensão do Fantástico. O Chateâu Idéal do carteiro Ferdinand Cheval.
Em 1974, António Reis realiza o filme Jaime, apoiado pelo Centro Português de Cinema. Jaime Fernandes, falecido em 1969, nasceu em Barco (Beira Baixo). Trabalhador rural, aos 38 anos foi internado por três décadas no Hospital Miguel Bombarda, como esquizofrénico-paranóico. Como pintor e desenhador, impôs-se: bastaram cinco anos para considerarem o camponês um génio em artes plásticas Dois anos após a morte de Jaime, António Reis descobriu um desenho seu num gabinete clínico do Hospital e partiu à investigação., reunindo mais cem desenhos do autor e retratando a sua existência.
A Arte degenerada (entartete Kunst, termo utilizado pelo regime nazi para atacar a Arte Moderna, banida por ser não-germânica judia-bolchevique, gerou uma das ondas iconoclásticas mais cruéis da História e vitimizou também a arte dos 'doentes mentais'. Os artistas foram reprimidos e muitas obras destruídas sem remissão! Arte Degenerada foi o título da exposição de Munique, de 1937, atacando as obras modernistas e destinada a inflamar a opinião pública alemã. Enquanto os estilos modernos de arte eram proibidos, os nazis promoviam pinturas e esculturas de estilo formal, académico e pró-III Reich, nas quais se exaltava a pureza racial e a obediência, a xenofobia e o ódio anti-judaico.
Em 1920 Hans Prinzhorn (1886-1933) reúne na Clínica Psiquiátrica de Heidelberg 5. 000 peças de doentes mentais provenientes de asilos de vários pontos da Europa. Em 1922 escreve a sua obra mais conhecida Artistery of the Mentally Ill onde analisa o trabalho de dez doentes psiquiátricos (the schizophrenic masters) seleccionados a partir da colecção de Heidelberg; Prinzhorn questiona as fronteiras que separam a arte dos doentes mentais e a arte das pessoas ditas “normais”. v vConsiderava que o impulso criativo era comum a qualquer ser humano independentemente do seu quadro psíquico. O trabalho de Prinzhorn foi divulgado no meio artístico. Vários artistas conheceram a sua obra e visitaram a sua colecção.BIBL.:
Artistry of the Mentally Ill: A Contribution to the Psychology and Psychopathology of Configuration, 1922, Hans Prinzhorn, Eric Von Brockdorff (translator), 1972.