Balanço sobre a matéria dada. Linhas de metodologia em História da Arte no sentido de uma análise global.
5 Dezembro 2016, 10:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Balanço sobre a matéria dada. Linhas de metodologia em História da Arte no sentido de uma análise global.
Eppure si muove…: últimas reflexões sobre arte e globalização.
Este balanço final não é mais do que uma análise parcelar numa reflexão sem fim. Percebem-se contornos, diagnosticam-se problemas, mas é difícil definir rumos neste dealbar de novo milénio sob a realidade da globalização à escala planetária. Quais os quadros de referência e as bases instituídas que possam dinamizar o ‘mundo das artes’ ? A análise de Eric Hobsbawm na conferência Behind the times - the decline and fall of twentieth-century avant-gardes pareceu-me, pelo que contém de polémico (mas, por essa mesma razão, luminoso), a abertura plausível para ensaiar uma reflexão sobre o sentido das vanguardas activas nas artes de hoje e, principalmente, sobre o grau de intervenção da História-Crítica da Arte, submetida a um mundo globalizado [1].
Face a uma inusitada ascensão da História global, destaca-se à evidência que dispomos hoje de bases genuínas para analisar a especificidade da civilização europeia ou atlântica, as novas realidades decorrentes do pós-colonialismo, a ascensão de um capitalismo ultra-liberal agressivo e sem regulação, num mundo que se apresenta desideologizado e, por isso, mais vulnerável aos efeitos da ganância e da exploração sem peias. As artes, todavia, continuam a fluir. Nunca o ‘mundo da arte’ se mostrou um espaço tão interventivo, tão globalizado, tão apto a repensar o seu papel de identidade-memória e intervenção-sinal. Se pensarmos em termos de que são «os homens (que) fazem a sua própria história», um postulado do marxismo que nos abre às grandes questões da contemporaneidade, verificamos o seguinte: durante gerações da História, foram muitas as comunidades e sistemas sociais que buscaram a estabilização e a reprodução criando mecanismos para prevenir o futuro, acautelando os perigos do desconhecido (os grandes saltos nas brumas de um futuro incerto) e criando a resistência às transformações, fossem elas quais fossem. A globalização mundial veio agitar, com as suas contradições, os seus riscos, as suas ‘etapas’ desreguladas e o seu consumismo insano, novos ‘saltos no escuro’ que estimulam o auto-conhecimento, a criação artística e as dinâmicas que podem criar uma cidadania de valores. Quero crer, portanto, que as produções artísticas ganham novos estímulos, os equipamentos de crítica nova frescura de debate, os objectos de estudo dos historiadores de arte novas possibilidades de investigação, as incidências do mercado das artes novas dinâmicas de crescimento. Principalmente, esse Artworld definido por Danto ganha um espaço plural de redefinição.
Perante a imprevisibilidade dos amanhãs, a produção das artes, e a História-Crítica que a analisa, estuda, valoriza e promove, continuam firmes. Criam obra, exprimem ideias, agitam o ‘mundo das artes’, conferem-lhe qualidade. Ou seja, oferecem a imagem de um espaço operativo reforçado – porque útil, socialmente interventivo, capaz ainda e sempre de gerar emoções.[1] Eric HOBSBAWM, Atrás dos tempos: declínio e queda das vanguardas do século XX (título original Behind the times - the decline and fall of twentieth-century avant-gardes), trad. de Raquel Mouta, ed. Campo de Letras, Porto, 2001.