Inovação e resistência na arquitectura portuguesa do século XVI: entre moderno, antigo e vernáculo.

20 Novembro 2017, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Arquitectura portuguesa no século XVI.

Balanço sobre a existência de uma grande arquitectura portuguesa para além do ‘Manuelino’, tal como foi pressentida por Germain Bazin, Mário Chicó e Carlos de Azevedo, antes da saída do célebre livro de Kubler (1972) que definiu um estilo chão português, original solução vernácula do ‘modo de construír‘ português. A arquitectura e urbanismo português definem-se pela escala singela, perduração de módulos referenciais, apego à longitudinalidade no perfil, valorização da praça como centro comunitário, ortogonalidade irregular – isto é,  um estilo vernacular e lírico (como o definiu Yves Bottineau ), com peculiar gosto pelo decorativo, o uso dos materiais pobres, a visão da engenharia militar, poder de miscigenação com formas locais, e constante referenciação ao mar e à viagem como marcas de pluri-continentalidade. Exemplos de arquitecturas de tipologia portuguesa tardo-gótico de inspiração alentejana: Capela de São Sebastião do Alvito (Portugal), 1ª metade do séc. XVI; igreja do Priorado do Rosário de Goa (Índia), c. 1540, arq. Tomás Fernandes; e castelo-fortaleza de Gondar (Etiópia), esta já de final do século XVI.

A paisagem construída no Portugal quinhentista, tanto no caso da arquitectura sacra como na militar ou civil,  no espaço metropolitano e nos de expansão ultramarina, na obra real e na arquitectura imaginizada, é enriquecida por uma grande variedade de soluções, tanto a nível da morfologia de traças como no das linguagens de decoração.   Tal facto, que é facilmente verificável por uma análise de conjunto e pelo cotejo de estilemas, mostra as peculiaridades de uma realidade artística em que antigo e moderno, tradição vernácula e inovações tratadísticas, resistência de módulos e rupturas espaciais, coabitam nas encomendas e nos empreendimentos, sejam obras religiosas ou aristocráticas, entre o Gótico tardio, o ‘manuelino’, o Renascimento, o Maneirismo, o ‘estilo chão’, e outras expressões e estilemas de construção.