III. Paradoxos Semânticos - 4

14 Março 2022, 11:00 António José Teiga Zilhão

C. O Problema de Moore


1. Os tipos de frases que, segundo Moore, compõem o problema com contornos paradoxais que ele identificou: 
 i) 'P e não creio que P'; ii) 'Creio que P e não P' (ou: 'P e creio que não P').
2. A origem do contorno paradoxal subjacente a estas frases: por um lado, a asserção destas frases surge-nos como absurda; mas, por outro lado, como é possível entender que seja absurda a asserção de uma frase conjuntiva com sentido, a qual é composta por termos que podem ser simultaneamente verdadeiros em múltiplas ocasiões? 
3. A solução proposta pelo próprio Moore: a asserção implica a crença; assim, a asserção de P por um falante implicaria implicitamente a frase que afirmaria a sua crença em P; neste sentido, a frase problemática 'P e não creio que P' geraria a contradição implícita 'Creio que P e não creio que P', o que explicaria o diagnóstico de absurdo associado à frase problemática.
4. A dificuldade associada à proposta de solução de Moore: uma vez que a implicação entre asserção e crença não é uma implicação lógica, qual é a sua natureza? 
5. A resposta de Moore a esta questão: a implicação tem o estatuto de uma inferência indutiva - a experiência ensinar-nos-ia que, na esmagadora maioria dos casos, quem faz uma asserção crê no que assere; as frases problemáticas contrariariam as nossas expectativas gerando assim o diagnóstico de absurdo.
6. O carácter insatisfatório da resposta de Moore: tipicamente, a violação de expectativas de natureza empírica não gera um diagnóstico de absurdo; só a violação de conexões de natureza conceptual o faz; fica então por clarificar qual é a conexão de natureza conceptual que existe entre a asserção e a crença.
7. A análise wittgensteiniana das frases que compõem o problema de Moore: a asserção de 'Creio que P' é, em geral, apenas uma variação estilística da asserção de que P; neste sentido, a frase problemática seria imediatamente contraditória, pois seria logicamente equivalente à frase obviamente contraditória 'P e não P'. O diagnóstico de absurdo seria assim perfeitamente justificado e nada ficaria por explicar.