Antoninos e Severos: os imperadores provinciais e a construção da monarquia.
16 Abril 2020, 14:00 • Rodrigo Furtado
Nesta aula, vamos falar de dois assuntos:
- A questão da sucessão ao longo do século II d.C.: vejam o texto de bibliografia da aula de hoje e usem a net para:
- Quando Domiciano é assassinado, o senado não pensa em “não escolher ninguém”. No ano 96 d.C., todos os senadores vivos nunca tinham conhecido na sua vida nenhuma outra República sem um “imperador”. Tornou-se algo natural, ainda que nunca com um cargo/magistratura bem codificado, definido, com regras claras de sucessão e de exercício do poder. Nerva é escolhido, porque há mais de cem anos que era assim: esta República tinha um imperador.
- Ver caso a caso como se produz a sucessão de Nerva-Trajano, Trajano-Adriano, Adriano-Antonino Pio, Antonio Pio-Marco Aurélio e Lúcio Vero, e Marco Aurélio para Cómodo.
- A instabilidade volta a ocorrer, mas em regra estabelece-se uma sucessão de pai para filho. A questão é que, até Antonino Pio inclusive, nenhum dos imperadores terá filhos homens biológicos. Assim, todos vão adoptar (com a excepção talvez de Trajano). Isso mostra que este tipo de “regime republicano” está consolidado, e que, de algum modo, o imperador escolhe um sucessor. O problema põe-se quando Marco Aurélio tem um filho biológico, que é designado César (=herdeiro) logo com 5 anos de idade.
I. A resolução do problema da sucessão?
1. Por que razão a subida ao poder de Nerva marca definitivamente a existência do Principado?
2. A adopção de Trajano: motivos; um lobby hispânico?
3. A estranha adopção de Adriano: uma tomada de poder? O papel de Plotina.
4. Adriano e a preparação da sucessão: O que nos diz isto sobre o regime?
5. A sucessão de Antonino Pio: Marco Aurélio, cônsul em 140, com 19 anos; tem poder tribunício e imperium proconsulare desde 147; Lúcio Vero, cônsul em 154, com 24 anos.
6. A primeira bicefalia? De facto, não. Marco Aurélio e Lúcio Vero.
7. A sucessão de Cómodo: César em 166 e Augusto em 177. O primeiro nascido na púrpura.
- Após Cómodo (assassinado a 31/12/192), há uma nova guerra civil que é vencida por Septímio Severo.
Esta guerra confirma que quem controla o maior poder militar, nas legiões, toma, se quiser, o poder. O Senado é apenas quem concede formalmente/oficialmente os poderes ao novo “Augusto”. Mas quem escolhe é quem detém o poder militar, normalmente na periferia fronteiriça do império.
Septímio investe imenso na promoção de uma ideia “monárquica de poder”, como nenhum outro antes dele.
i. Faz-se adoptar a posteriori (em 193) como filho do falecido Marco Aurélio (morrera em 180), estabelecendo-se como herdeiro legítimo do poder imperial (o que mostra isso sobre o regime? Como interpreta Septímio o regime?);
ii. Renomeia o seu filho mais velho, Bassiano, conhecido com o nickname Caracala, como Marco Aurélio, tal como o seu novo avô.
iii. Diviniza Cómodo, o seu novo “irmão”.
iv. Garante a sucessão dos seus próprios filhos: Caracala (o tal Marco Aurélio, mas mais conhecido pela alcunha) é designado César (=herdeiro) e depois Augusto; o mesmo se passa com Geta, o segundo filho. Em 209, o império tem três “Augustos”: Septímio e os dois filhos.
v. Promove a ideia de “Casa Imperial” (=Domus Augusta), promovendo a sua mulher, Júlia Domna.
II. Os Severos: pólos do poder em confronto.
- Após Cómodo: Pertinaz, Dídio Juliano, Septímio Severo, Pescénio Nigro, Clódio Albino.
- A monarquia hereditária:
1. adopção de Septímio Severo + novo nome de Bassiano + divinização de Cómodo;
2. a sucessão: Caracala (César 196; Augusto 198); Geta (César 198; Augusto 209);
3. Júlia Domna: Augusta; Pia, Felix, mater Augustorum, mater castrorum, mater senatus
- Após Caracala: Heliogábalo e Severo Alexandre.
- O senado: a perda de manobra.
- Os pretorianos: a incapacidade de imposição de um candidato.
- As legiões: definitivamente, depende delas a sucessão.
- Um novo eixo de poder: Britânia-Reno, Danúbio, Oriente.
- O segundo tópico da aula de hoje tem a ver com ideologia. Todo o período entre Augusto e os Severos oscila entre dois pólos de entender e de exercer o poder com raízes muito anteriores à existência de Roma: a ideia de um poder partilhado, exercido em grupo, na cidade, pelas assembleias e conselhos, na polis ou na República. A ideia de um poder monárquico, imperial, de base territorial alargada. Em Roma, estes pólos cristalizam-se em torno de duas opções: por um poder de natureza mais “republicano”, em que o “imperador” exerce os seus poderes de acordo e em respeito pelo senado e simulando a continuação “normal” da República; por um poder de natureza monárquica, cujos modelos melhores são Alexandre Magno e os reis helenísticos – vejam-se Calígula, Nero, Cómodo ou Heliogábalo. Será importante perceber que a imagem que ainda hoje temos destes imperadores são condicionadas pelo facto de que os historiadores romanos que nos falam sobre eles são quase sempre senadores ou próximos do senado. Assim, têm uma visão muito negativa e deturpadora de todos os imperadores mais “helenizados”.
III. Estruturas ideológicas entre a República e a Monarquia: os Júlio-Cláudios e os Flávios.
1. O modelo republicano/senatorial: Tibério, Cláudio, Vespasiano, Tito;
2. O modelo orientalizante:
3. Calígula: deificação de Drusila; o problema da estátua no templo de Jerusalém;
4. Nero: as duas partes do principado; o incêndio de Roma; a domus aurea e o colosso; poesia, canto, jogos e teatro; a popularidade de Nero;
IV. A ideologia dos Antoninos. O apogeu.
1. A ideologia republicana: a libertas restaurada.
2. A ideologia da conquista militar: a emulação aceitável de Alexandre – Dácia, Arábia, Mesopotâmia;
3. A ideologia helenística de Adriano.
4. A ideologia helenística de Cómodo:
1. A titulatura;
2. A refundação de Roma;
3. O novo Hércules.
V. A ideologia dos Severos: o triunfo da monarquia.
1. A monarquia familiar.
2. O príncipe e o senado:
a. divinização de Cómodo; b. o arco do triunfo e a cúria;
3. A ‘monarquia absoluta’: «o que agrada ao príncipe tem valor de lei; o príncipe está acima das leis».
VI. Os modelos políticos do Mediterrâneo.
1. O modelo monárquico pré-clássico: os modelos egípcio e mesopotâmico – exotismo, exuberância e riqueza;
2. O modelo urbano: das primeiras cidades à expansão do modelo político.
3. O modelo monárquico helenístico: uma ideologia crioula. Entre o mundo pré-clássico e o Egeu; entre o rei-cidadão e o rei-deus.
4. O modelo republicano em Roma.
a. Cidade, cidadãos, auto-governo e libertas.
b. Ir à Grécia era como ir ao supermercado? Escolher umas coisas e rejeitar outras; a imagem dos reis helenísticos; o exemplo de Alexandre; os Ptolemeus e a ideia de decadência.
c. Um Império sem fim pode ser governado como uma cidade?
5. O modelo augustano.
a. Uma República com um príncipe;
b. A Libertas: morreu ou restaurou-se?
c. O que é afinal Roma do ponto de vista político?