Arquipélago Bijagó - inapropriado lugar para jovens portugueses
11 Dezembro 2019, 16:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
DEZEMBRO 4ª FEIRA 24ª Aula
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Dedicámos a nossa aula ao visionamento integral do filme Os Escultores de Espíritos de Luís Correia e Noemie Mendelle, disponibilizado para nós e em exclusivo pela produtora portuguesa LX-Filmes. Esta possibilidade e autonomização no trabalho interpretativo sobre como vivem os Bijagós hoje tornou-se assim mais completo e permitiu-nos assimilar em sequência vários aspectos do viver Bijagó. Contam-se entre eles, processos de acompanhamento às artes, à cultura e ao viver quotidiano. É o caso, por exemplo, da escultura, das danças femininas, das danças masculinas, da incorporação religiosa dos defuntos, através da sua relação com o espaço da casa, considerando o entendimento do lugar do corpo e do lugar de deslocamento do espírito. Fomos, porém, ainda sensíveis à representatividade imitativa que as mulheres descobrem no movimento das aves quando estas apanham alimento no mar e que logo são associadas às cerimónias das defuntas, aquelas mulheres que preparam e enterram dentro de casa os seus mortos.
Assistimos de bem longe a alguns rituais sacrificiais, que impressionaram algumas das alunas pelo degolar de animais. Esse acto foi quase discreto mas teve suficiente impacto em pessoas mais sensíveis.
A uma última pergunta minha sobre se entre os presentes na sala haveria alguém capaz de viver naqueles lugares, a resposta foi taxativa e negativa. Ao tentar ainda cativar voluntários para uma hipotética acção junto de ONGs locais, obtive tímido assentimento e por prazo bem curto.
Verifiquei assim que este estudo de caso, ainda em curso, não está a conseguir motivar os jovens alunos e alunas para descobrirem nesta sociedade antiga os benefícios causados por suas crenças e princípios de âmbito social mas também como construção geracional inspirada no bem comum, na aprendizagem integrada, no respeito pelo envolvimento natural e por uma esperança de vida relativamente alta. A proposta atribuída à etnia Bijagó supera e em muito o modo de vida ocidental.
Aceitando a resposta dos alunos resta-me defender como reflexão o que naquele arquipélago acontece nos dias de hoje e que resguarda um longo passado difícil (por abandono, por voragem colonialista) mas que os Bijagós têm conseguido superar e assim continuam a fazer. A voracidade com que este povo começa a ser tragado pelo investimento externo não em benefício próprio (agricultura, turismo, pesca, empreendimentos de construção) poderá transformar para sempre uma sociedade para a qual olhamos ainda como um exemplo de regulação e sobriedade no viver.
Leituras recomendadas
DAMÁSIO, António 2017. A Estranha Ordem das Coisas – A vida, os sentimentos e as culturas humanas, Lisboa: Temas e Debates | Círculo de Leitores. Pesquisa orientada a partir de índice de conceitos no final da obra. O conceito em estudo é homeostasia. A referência no volume em papel é a p. 374.
SARAIVA, Clara 2015. Os Sítios Sagrados no Arquipélago dos Bijagós, Lisboa: Instituto Marquês de Valle Flor.
http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2018/02/estudositiossagradosfinal.pdf
SEMEDO, Rui Jorge 2015. Inventário sobre artesanato, dança e cantiga Bijagó, Lisboa: Instituto de Marquês de Valle Flôr.
http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2017/12/estudoartesanato_final.pdf
Pequenos vídeos
https://www.youtube.com/watch?v=P9EN8_jvOfI 4’32
https://vimeo.com/300486291 (No reino secreto dos Bijagós, um excerto do filme) 12’54
https://www.youtube.com/watch?v=6cEQAKYnFoA (Neram N’Dok) 40’54
Mapas observados
http://www.africa-turismo.com/mapas/guine-bissau.htm
http://carlserra2003.tripod.com/mapaGB.htm
http://www.africa-turismo.com/guine-bissau/mapa-bijagos.htm
https://www.uniaonet.com/afgarqbijagos.htm
Filme
Os Escultores de Espíritos de Luís Correia e Noemie Mendelle, LX-Filmes, 2014, 54’.