Sumários

Bons exemplos, bons princípios

20 Dezembro 2019, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

DEZEMBRO                        4ª FEIRA                               27ª Aula

 

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Nesta última aula foi opção visitarmos o documentário de Luis Correia e Noémie Mendelle, No Reino Secreto dos Bijagós, como fecho lógico a propósito do que fomos realizando em torno do povo Bijagó enquanto estudo de caso cultural e artístico e relacionado com a íntima relação do Homem com a Natureza.

Encerrámos assim um programa que começou por valorizar emoções e sentimentos para se abeirar de comportamentos humanos ancestrais e contemporâneos que exercem de forma despótica o mal sobre outros. O último capítulo desta trajectória pretendeu valorizar aqueles cujo comportamento e valores enaltecem a condição humana na sua íntima configuração com a Natureza e o Cosmos.

 

 

Filme visionado

Luís Correia e Noémie Mendelle, realização, No Reino Secreto dos Bijagós, Episódio II, N’Omang, Plantas Sagradas, 2014, 60’

 

 

Aulas previstas em Dezembro – 6

Aulas dadas em Dezembro – 6

Saídas culturais - 0


Realização do segundo teste de avaliação de conhecimentos com consulta.

18 Dezembro 2019, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Realização do segundo teste de avaliação de conhecimentos com consulta.


Dos males de uma civilização atordoada

13 Dezembro 2019, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

         6ª FEIRA                               25ª Aula

 

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A totalidade da aula de hoje ficou reservada ao visionamento do filme Kadjike (115’) do realizador guineense Sana Na N’Hada, rodado, em 2013, em várias tabancas do Arquipélago de Bijagós e também na baixa de Bissau.

Já em visionamentos anteriores de outros objectos documentais nos apercebemos da existência de algumas tensões intergeracionais, a propósito das práticas ritualísticas, das facilidades para se optar por monoculturas, do valor que o dinheiro passa a adquirir, das promessas que o mundo exterior ao Arquipélago transforma em sonhos adiados, em particular, para os jovens rapazes.

O filme que pudemos ver traz consigo um muito mais grave problema para as populações locais que continuam a viver em absoluto respeito pela Natureza. Esse problema – transporte, fabrico e recolocação de droga – e que o filme de ficção trabalha de forma exemplar, não obstante a acentuada visão pedagógica do mesmo, procura repor a ordem abalada por um jovem rebelde a todos os ensinamentos ancestrais e através do qual é feita a exemplificação de um caminho perdedor. Apesar disso, a compreensão do perigo através de experiência própria, traz o protagonista de volta à tabanca e torna nele firme a vontade de regeneração, sendo assim reposta a ordem inicial.

No entanto este filme que parece reflectir sobre as ameaças do exterior de uma forma demasiado bondosa ainda que realista, não consegue por isso apaziguar um fenómeno cada vez mais preocupante e disseminado nestes territórios que não recebem do governo central e das autoridades nacionais qualquer resposta eficaz.  

Sana Na N’Hada é um realizador consagrado na Guiné-Bissau e também a nível internacional. O seu contributo político e social para alertar o país para o enorme negócio da droga não colhe infelizmente grande interesse entre governantes.

O que se passa no Arquipélago de Bijagós é do conhecimento de todos os que lá vivem. Contra este tipo de pragas terríficas nem os espíritos nem o Deus Nindo podem accionar os seus poderes. A Natureza Bijagó dá mezinhas a partir de plantas, torna fecunda a vida deste povo mas é fraco o seu poder contra os traficantes e cartéis da droga que descobriram um paraíso para o tornarem num inferno.

Sana Na N’Hada filma em modo lento a sua ficção, por vezes utilizando o registo teatral em determinadas sequências. É, por exemplo, visível a organização de dois ou três intervenientes locais em preparação para a cena vindos de detrás de árvores. Apesar disso, o registo de abertura com que é contada a história da lendária rainha Acapacama e das suas filhas, constrói um distinto horizonte mítico que é ao longo do filme continuado em modo narrativo. Intencionalmente ou não há uma voz que acompanha o domínio do sagrado como reforço daquilo que defendem os velhos da aldeia, em particular, o feiticeiro, figura central no processo de regeneração do jovem inebriado por um fraco futuro.

Este é um filme africano muito especial, como outros materiais que vimos, e que nos revela uma sociedade baseada em regras muito antigas que fundamentam o viver das populações. A conflituosidade é baixa e nasce essencialmente de uma vontade natural no ser humano de querer testar-se, de querer sonhar diferente, de querer pelo menos ensaiar outros modos de vida. A compreensão deste tipo de conflitos não ignora os ensinamentos de uma cultura ancestral e que se projecta inteiramente numa natureza disponível.

 

Filme

Kadjike (115’) do realizador guineense Sana Na N’Hada, LX-Filmes, 2013, 115’


Arquipélago Bijagó - inapropriado lugar para jovens portugueses

11 Dezembro 2019, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

DEZEMBRO                        4ª FEIRA                               24ª Aula

 

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Dedicámos a nossa aula ao visionamento integral do filme Os Escultores de Espíritos de Luís Correia e Noemie Mendelle, disponibilizado para nós e em exclusivo pela produtora portuguesa LX-Filmes. Esta possibilidade e autonomização no trabalho interpretativo sobre como vivem os Bijagós hoje tornou-se assim mais completo e permitiu-nos assimilar em sequência vários aspectos do viver Bijagó. Contam-se entre eles, processos de acompanhamento às artes, à cultura e ao viver quotidiano. É o caso, por exemplo, da escultura, das danças femininas, das danças masculinas, da incorporação religiosa dos defuntos, através da sua relação com o espaço da casa, considerando o entendimento do lugar do corpo e do lugar de deslocamento do espírito. Fomos, porém, ainda sensíveis à representatividade imitativa que as mulheres descobrem no movimento das aves quando estas apanham alimento no mar e que logo são associadas às cerimónias das defuntas, aquelas mulheres que preparam e enterram dentro de casa os seus mortos.

Assistimos de bem longe a alguns rituais sacrificiais, que impressionaram algumas das alunas pelo degolar de animais. Esse acto foi quase discreto mas teve suficiente impacto em pessoas mais sensíveis.

A uma última pergunta minha sobre se entre os presentes na sala haveria alguém capaz de viver naqueles lugares, a resposta foi taxativa e negativa. Ao tentar ainda cativar voluntários para uma hipotética acção junto de ONGs locais, obtive tímido assentimento e por prazo bem curto.

Verifiquei assim que este estudo de caso, ainda em curso, não está a conseguir motivar os jovens alunos e alunas para descobrirem nesta sociedade antiga os benefícios causados por suas crenças e princípios de âmbito social mas também como construção geracional inspirada no bem comum, na aprendizagem integrada, no respeito pelo envolvimento natural e por uma esperança de vida relativamente alta. A proposta atribuída à etnia Bijagó supera e em muito o modo de vida ocidental.

Aceitando a resposta dos alunos resta-me defender como reflexão o que naquele arquipélago acontece nos dias de hoje e que resguarda um longo passado difícil (por abandono, por voragem colonialista) mas que os Bijagós têm conseguido superar e assim continuam a fazer. A voracidade com que este povo começa a ser tragado pelo investimento externo não em benefício próprio (agricultura, turismo, pesca, empreendimentos de construção) poderá transformar para sempre uma sociedade para a qual olhamos ainda como um exemplo de regulação e sobriedade no viver.

 

Leituras recomendadas

DAMÁSIO, António 2017. A Estranha Ordem das Coisas – A vida, os sentimentos e as culturas humanas, Lisboa: Temas e Debates | Círculo de Leitores. Pesquisa orientada a partir de índice de conceitos no final da obra. O conceito em estudo é homeostasia. A referência no volume em papel é a p. 374.

SARAIVA, Clara 2015. Os Sítios Sagrados no Arquipélago dos Bijagós, Lisboa: Instituto Marquês de Valle Flor.

http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2018/02/estudositiossagradosfinal.pdf

SEMEDO, Rui Jorge 2015. Inventário sobre artesanato, dança e cantiga Bijagó, Lisboa: Instituto de Marquês de Valle Flôr.

http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2017/12/estudoartesanato_final.pdf

 

Pequenos vídeos

https://www.youtube.com/watch?v=P9EN8_jvOfI 4’32

https://vimeo.com/300486291 (No reino secreto dos Bijagós, um excerto do filme) 12’54

https://www.youtube.com/watch?v=6cEQAKYnFoA (Neram N’Dok) 40’54

 

Mapas observados

http://www.africa-turismo.com/mapas/guine-bissau.htm

https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Modelo-digital-de-terreno-da-Guine-Bissau_fig1_276550761

http://carlserra2003.tripod.com/mapaGB.htm

http://www.africa-turismo.com/guine-bissau/mapa-bijagos.htm

https://www.uniaonet.com/afgarqbijagos.htm

 

Filme

Os Escultores de Espíritos de Luís Correia e Noemie Mendelle, LX-Filmes, 2014, 54’.


Estratificação social, cerimónias religiosas animistas e sobrevivência da etnia Bijagó

6 Dezembro 2019, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

DEZEMBRO                                               6ª FEIRA                                          23ª Aula

 

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Nesta aula fizemos leitura acompanhada e comentada de excertos da obra Inventário sobre artesanato, dança e cantiga Bijagó de Rui Jorge Semedo com a intenção de salientar as diversas fases por que passam homens e mulheres na sociedade Bijagó e que correspondem a processos de crescimento e amadurecimento orientados por cerimónias e rituais, considerados de grande importância na integração social deste povo.

Verificámos ainda que a estruturação destas fases, cada uma delas designada por nome específico em língua Bijagó, mantém um carácter de absoluta inflexibilidade o que acentua a dependência hierárquica do funcionamento destas celebrações que se praticam desde há séculos e que suportam a coesão entre as várias gerações. O bem comum está acima da individualização e a expressão artística (artesanato, dança e canto) incorpora o modo como estas etapas são assinaladas e como é justificada a relação com Nindo (Deus) e Irãs (espíritos que povoam a Terra e as águas oceânicas podendo sempre intermediar entre os seres humanos e o divino).

Foi-nos perceptível que existem fissuras em alguns comportamentos de jovens em relação aos mais velhos, em função do natural desejo de querer experimentar mundos diversos fora do horizonte do Arquipélago. O processo de adaptabilidade geracional, a par das novas opções de cultivo da terra (cultura extensiva de caju) e dos frequentes actos predatórios em relação à pesca parecem constituir as principais preocupações deste povo.

No entanto, a representatividade da arte mantém-se de forma tradicional. E isso deverá constituir motivo da nossa reflexão.

Veremos na próxima aula obra completa (64’), cedida pela LX-Filmes, sobre estas questões. Também faremos visionamento sobre a importância de conhecer as plantas sagradas.

Estes dois objectos documentais permitem-nos perceber a importância da Natureza nas tomadas de posição entre velhos e jovens.

 

 

Leituras recomendadas

DAMÁSIO, António 2017. A Estranha Ordem das Coisas – A vida, os sentimentos e as culturas humanas, Lisboa: Temas e Debates | Círculo de Leitores. Pesquisa orientada a partir de índice de conceitos no final da obra. O conceito em estudo é homeostasia. A referência no volume em papel é a p. 374.

SARAIVA, Clara 2015. Os Sítios Sagrados no Arquipélago dos Bijagós, Lisboa: Instituto Marquês de Valle Flor.

http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2018/02/estudositiossagradosfinal.pdf

SEMEDO, Rui Jorge 2015. Inventário sobre artesanato, dança e cantiga Bijagó, Lisboa: Instituto de Marquês de Valle Flôr.

http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2017/12/estudoartesanato_final.pdf

 

Pequenos vídeos

https://www.youtube.com/watch?v=P9EN8_jvOfI 4’32

https://vimeo.com/300486291 (No reino secreto dos Bijagós, um excerto do filme) 12’54

https://www.youtube.com/watch?v=6cEQAKYnFoA (Neram N’Dok) 40’54

 

Mapas observados

http://www.africa-turismo.com/mapas/guine-bissau.htm

https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Modelo-digital-de-terreno-da-Guine-Bissau_fig1_276550761

http://carlserra2003.tripod.com/mapaGB.htm

http://www.africa-turismo.com/guine-bissau/mapa-bijagos.htm

https://www.uniaonet.com/afgarqbijagos.htm