Ser separado cria união - Da Geografia do território Bijagó e suas consequências
29 Novembro 2019, 16:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
NOVEMBRO 6ª FEIRA 21ª Aula
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Tomámos um rumo simples mas que nos implicava como observadores e que consistia em olharmos para distintos mapas geográficos da Guiné-Bissau como conjunto. Pedi aos alunos que dissessem o que lhes faziam lembrar as várias imagens. Polvos e outras formas animalescas foram as preferências dos alunos. Alguém terá dito uma explosão. Nos primeiros casos assinalados não foi possível acolher a ideia de territórios geologicamente separados. A ideia de explosão fazia pelo menos prever que em tempos muito antigos, aquilo que hoje é a Guiné-Bissau continental se tinha separado por fragmentação de um razoável número de parcelas (88 é o número oficial) conhecidas no seu conjunto como Arquipélago de Bijagós.
O exercício de visionamento de mapas permitiu criar uma ordem comum a partir da qual, e independentemente das formas que cada um descobriu nas imagens, se tornou possível o entendimento de que o factor separabilidade teria de ser tido em conta em relação ao povo Bijagó. Ao contrário das outras etnias (mais de 20) que povoam em mistura a parte continental da Guiné-Bissau, a etnia Bijagó espalha-se por um território de área diversa e povoa há séculos na distância ilhas que o Atlântico colhe e que alojam este povo como dedos que se soltaram de uma mão.
Para o bem e para o mal a condição de separados permitiu a esta etnia chegar à contemporaneidade de forma antiga, i. e., continuar a ser capaz de preservar tradições, costumes, rituais, princípios que orientam a vida e também a morte, uma língua própria, e manter perante outros capacidade de afirmação, organização e defesa do seu território que é lugar de todos independentemente da idade.
E foi justamente para ilustrar este princípio de que o separado pode ser um reforço do unido que iniciámos o visionamento do documentário intitulado Neram N’Dok que significa: levem e guardem convosco. Tratando-se de um projecto partilhado pelas ONGs Trinigena (Guiné-Bissau) e Instituto Marquês de Vale Flôr (Portugal), este filme mostra-nos como a protecção da biodiversidade é assunto de todos, devendo por isso atrair vontade comum e responsável na defesa de recursos naturais.
O filme ainda não concluído quanto ao visionamento permite que reconheçamos a importância da protecção dos bens naturais levada a cabo pelas comunidades locais. Esta acção continuada traz consigo, por sua vez, o reforço da presença religiosa e espiritual deste povo, presença essa que se revê em formas de representação celebratória como o canto, as diferentes expressões artesanais e a dança.
A exemplificação deste documentário cobre a região de Urok, também conhecida por região de Bolama e que agrega as ilhas Formosa, Nago e Chediã ou ilha de Maio, bem como os ilhéus Quai, Ratum e Acococo. Ver mapas.
Leituras recomendadas
DAMÁSIO, António 2017. A Estranha Ordem das Coisas – A vida, os sentimentos e as culturas humanas, Lisboa: Temas e Debates | Círculo de Leitores. Pesquisa orientada a partir de índice de conceitos no final da obra. O conceito em estudo é homeostasia. A referência no volume em papel é a p. 374.
SARAIVA, Clara 2015. Os Sítios Sagrados no Arquipélago dos Bijagós, Lisboa: Instituto Marquês de Valle Flor.
http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2018/02/estudositiossagradosfinal.pdf
SEMEDO, Rui Jorge 2015. Inventário sobre artesanato, dança e cantiga Bijagó, Lisboa: Instituto de Marquês de Valle Flôr.
http://www.imvf.org/wp-content/uploads/2017/12/estudoartesanato_final.pdf
Pequenos vídeos
https://www.youtube.com/watch?v=P9EN8_jvOfI 4’32
https://vimeo.com/300486291 (No reino secreto dos Bijagós, um excerto do filme) 12’54
https://www.youtube.com/watch?v=udegEFdeZmQ (Neram N’Dok) 40’54
Mapas observados
http://www.africa-turismo.com/mapas/guine-bissau.htm
http://carlserra2003.tripod.com/mapaGB.htm
http://www.africa-turismo.com/guine-bissau/mapa-bijagos.htm
https://www.uniaonet.com/afgarqbijagos.htm
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