Kathakali - tradição, repetição e ritualização

8 Outubro 2020, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

 

OUTUBRO                                       5 ªFEIRA                                          3ª Aula

 

8

 

Dedicámos os primeiros minutos da aula de hoje ao comentário do documento formal sobre avaliação. Este documento é, por isso, agora enviado aos alunos na íntegra para que o possam consultar sempre que o desejem.

 

SOCIOLOGIA DAS ARTES DO ESPECTÁCULO

1º Semestre

20120-2021

MODALIDADES CONVERGENTES DE AVALIAÇÃO:

1. Modalidade única

Escrita presencial (60%)

2 Testes com consulta, de duração máxima de uma hora e vinte minutos, a realizar nos dias 12 de Novembro de 2020 e 17 de Dezembro de 2020

 

3. Oral em presença (20%):

² Participação espontânea na aula;

² Participação individual ou em grupo, solicitada e com preparação prévia, em data a combinar e sempre que possível, sobre uma pequena unidade do programa (cerca de 10 minutos por pessoa);

² Participação solicitada no âmbito de toda e qualquer discussão relacionada com a matéria no espaço da aula.

 

4. Interesse e participação em actividades extra-curriculares (20%)

Mais do que a simbólica percentagem na avaliação, o que importa mesmo é que se possa implementar um espírito de grupo e se crie uma boa relação de cultura e partilha de opinião crítica, a propósito de objectos artísticos e culturais disponíveis na comunidade.

 

5. Entendimento da avaliação

Os dados sobre avaliação de potenciais trabalhos, testes e outros contributos no âmbito desta cadeira, a fornecer aos alunos, serão sempre qualitativos, à excepção da nota final em pauta, no final de semestre, que será numérica. A opção por uma avaliação nestes moldes pretende abrir espaço para uma sempre necessária margem de tolerância em situações de dúvida.

Apresenta-se a escala valorativa de correspondências para conhecimento de todos:

 

Muito Bom                 18 - 20

Bom                            16 - 17

bom                             14 - 15

Suficiente                   12 - 13

suficiente                    10 - 11

Insuficiente                8 - 9

Medíocre                    5 - 7

Mau                            0 - 4

Serão consideradas aproximações até às décimas, sempre que se justifique (+ / -).

6. Recepção de alunos

O horário de recepção dos alunos é às 2ªs feiras das 13:00 às 14:00 na sala 2.2 ou na esplanada do lago, sempre com marcação prévia e definição do assunto a tratar. Só assim haverá condições para que o encontro de trabalho possa ser optimizado.

Para esse efeito e outros que se venham a manifestar de interesse faculto o meu endereço de e-mail: anmendes@netcabo.pt

As marcações poderão também ser feitas em presença no espaço da aula.

 

Nota breve:

Sistemáticas experiências de leitura e avaliação de trabalhos e testes produzem objectos de inspiração duvidosa e inqualificável. Tal prática leva-me a considerar necessário fazer um aviso a todos os alunos com o objectivo de que possa existir entre nós confiança mútua. Esse aviso traduz-se na solicitação de um curto texto que, em caso de necessidade, deverá ser escrito e assinado por quem tentar passar de aluno a prevaricador:

Eu, abaixo assinado, declaro por minha honra que todo e qualquer trabalho ou teste escrito por mim não reproduz obra ou parte de obra de outrem sem que disso tenha sido dado conhecimento.

 

Anabela Mendes / 1.10.2020

 

Ocupámos a aula de hoje com o visionamento de uma representação de Kathakali realizada, em 2008, num pequeno teatro de bairro na cidade de Cochim. O DVD do espectáculo destinava-se prioritariamente a espectadores estrangeiros. Os autóctones raramente o compravam. Exceptuavam-se os alunos de artes performativas de algumas escolas da cidade que o compravam para estudo, a preço muito reduzido, quase simbólico: 3 rupias (o,036 €). Aos espectadores estrangeiros eram entregues folhas de sala em inglês com a história escolhida dos livros sagrados e que seria representada durante essa tarde. A ficha técnica era detalhada. Pedia-se pequeno contributo para ajudar o teatro e a escola de Kathakali a ele agregada.

Nesta produção não é possível acompanhar ao vivo o comportamento dos espectadores em sala. À semelhança do que acontece nos espectáculos ao ar livre, eles sentiam-se-em-casa. A sala de espectáculos estava cheia, as pessoas entravam e saiam no meio da representação, havia animais domésticos por perto, as crianças pequenas eram amamentadas, os adultos também comiam e bebiam, mantendo decoro e respeito, comentavam em voz baixa os acontecimentos. Faziam longos silêncios em cenas de conflito aberto, mas também em momentos de sedução em que todo um corpo expressava um conjunto de emoções.

Olhámos com algum detalhe para a actuação de cada um dos actores-bailarinos. Demos a palavra ao espaço despojado, verificámos a convergências das diversas artes em palco e de como elas sublinhavam a seu tempo a intervenção umas das outras. Seguimos a história de uma flor devia ser recolhida nas montanhas a pedido de uma esposa e de como dois irmãos desavindos encontram entre si a harmonia. Estivemos no mundo de deuses e semi-deuses que nessa condição melhor ensinam os homens. Fizemos referência à legendagem do DVD, por um lado apropriada a leitura pelos espectadores estrangeiros (frase entre parêntesis curvo) e à sua redução a uma ou duas palavras que se sobrepunham às posições das mãos dos actores-bailarinos (os mudras9 e aos movimentos correspondentes do rosto e suas expressões. Quão difícil de seguir isto é para nós! A nossa capacidade de percepção e atenção perde-se e abre-se então à criação de um outro espectáculo. O nosso. Este não é coincidente com o do restante público autóctone que, aliás, aprecia o que mais se lhe adequa. Deste ponto de vista a capacidade de concentração no espectáculo é naturalmente semelhante ao que acontece com arte performativa ocidental quando o grau de dificuldade do que assistimos também se complexifica. Esse grau de concentração tem muitas variantes associadas, por exemplo, ao interesse, ao cansaço, à descodificação de linguagem(ns), à possibilidade de estabelecer núcleos imaginativos a partir do que nos emociona. Neste campo o grau de subjectividade é essencial.

Comentámos de forma breve a organização limpa do espaço num espectáculo de Kathakali. Em cena encontrava-se apenas um banco que tinha uma tripla função: servir de assento, ajudar a elevar um corpo com demasiado peso devido ao excessivo figurino e ao chapéu usados, permitir que sobre a sua pequena superfície fossem executados paços de dança em equilíbrio.

Através deste breve estudo de caso pudemos verificar que os tópicos de tradição, repetição e ritualização mantém ainda hoje uma relação directa com as artes performativas orientais. Mas noutras regiões do globo existem espectáculos que também favorecem esta passagem de testemunho cultural e artístico. Recordo, apenas a título de exemplo, o espectáculo que se representa em São Tomé e Príncipe conhecido como Tchiloli.

https://www.youtube.com/watch?v=DaDYy2KVepA

 

DVD visionado em fracções:

MARGI, Thiruvananthapuram (agrupamento) 2008, Kathakali, DVD, Legendas em inglês, 1h 29 min.

 

 

A gravação premeditada de aulas retira às mesmas a espontaneidade de participação.