"É preciso um teatro sem espectadores"

22 Novembro 2016, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

Foi iniciado o primeiro contacto com o ensaio de Jacques Rancière, O Espectador Emancipado, através de conversa aberta e sem que todos os alunos estivessem ainda familiarizados com a substância do texto em estudo. Algum debate aceso surgiu perante o modelo pedagógico, ideológico e político que inspira a argumentação de Rancière e que este aplica à relação entre exequibilidade performativa e espectação.

O modelo de partida deriva de uma experiência real desenvolvida por Joseph Jacotot, professor do ensino secundário, ao tempo em Lovaina, quando corria o ano de 1818. Jacotot e os seus alunos empenharam-se em pôr em prática um método de aprendizagem que se baseava em quatro pressupostos: todos os seres humanos possuem a mesma inteligência; todo o ser humano recebeu de Deus a faculdade de ser capaz de se instruir a si próprio; podemos ensinar o que não sabemos; tudo está em tudo.

A adaptação deste ideário ao comportamento intelectual e afectivo do espectador na sua relação com quem faz o espectáculo constitui então o fundamento da atitude emancipatória daí decorrente. Nesta óptica, de que desenvolveremos leitura de algumas páginas de outra obra do pensador francês, O Mestre Ignorante, confrontar-nos-emos com uma proposta estético-filosófica de cariz utopista, ainda que frequentemente aplicada em núcleos sociais restritos e que se presentifica na ligação Teatro e Comunidade.

 

Leitura recomendada:

- RANCIÈRE Jacques 2010, O espectador emancipado, tradução de José Miranda Justo, Lisboa: Orfeu Negro.