Jogos de Kiarostami

20 Outubro 2016, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Voltamos à expressão particular do rosto no contexto também particular do filme Shirin de Abbas Kiarostami. O espectáculo que contemplamos joga às escondidas com sentimentos e emoções. E nós colaboramos nesse jogo. Só disso teremos verdadeira consciência quando acessarmos ao making of do filme. Até lá exploramos com Kiarostami muitas possibilidades de querermos tornar visível o que é invisível e assim se manterá.

 Em farsi, com legendas em inglês, é-nos contada a epopeia antiga iraniana da princesa Shirin e do seu amado Khusraw e a esta narrativa damos nós corpo através de imaginação despertada por audição. Este é o processo afecto à ideia de peça radiofónica de que muito poucos já terão memória. Partilhamos assim um mesmo universo com as actrizes presentes na sala de cinema que se sujeitam ao mesmo desafio que nos é proposto sem que nos demos conta disso.

Os rostos que contemplamos não são rostos naturo-artísticos como os que vimos no espectáculo de Kathakali e que requerem longo treino de domínio muscular. Os rostos que não nos olham nos olhos porque observam uma história que não vêem, adquirem uma consciência artística sendo naturais.

 

Filme visionado:

KIAROSTAMI, Abbas, Shirin, DVD, 2008, em farsi com legendas em inglês, 91 min