Quando nos enraivecemos

27 Setembro 2016, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Comentário conjunto a passagens do 1º capítulo da obra Como sentimos… de Giovanni Frazzetto.

Tratou-se de questionarmos alguns aspectos mais visíveis da emoção desencadeada pelo estado de raiva, estado esse que se pode manifestar de modo irruptivo ou permanecer por longo tempo sem manifestação explosiva e imediata.

Diz-nos o autor que a raiva é «uma emoção crua». Ela acentua um estado de menorização em que nos possamos sentir em relação ao que nos afronta e que não somos capazes de virar a nosso favor. Repentina ou remoída a raiva está associada a uma vontade de fazer valer princípios morais que estão em causa e que se tornam foco de instabilidade e reacção. A raiva está tendencialmente associada àquilo que Frazzetto denomina de abordagem e/ou fuga.

Aspectos essenciais de um processo de enraivecimento:

- A raiva altera a voz

- A raiva está associada à escolha

- A tradição (platónica mas também kantiana), hoje contrariada pela Psicologia, Psicanálise e mais recentemente pela Neurociência, de que só o uso da razão conduz a um juízo moral

- O actual conhecimento do cérebro humano permite que se defenda o papel fundamental das emoções (também da raiva) no funcionamento conjunto da mente a que se associa a estrutura de ADN de cada um e o meio ambiente em que crescemos e nos desenvolvemos.

Diz Frazzetto: «Um gene não é a essência de um comportamento.»

 

Neste contexto avaliámos ainda a importância do estudo de Charles Darwin, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, a que voltaremos em breve, pela descrição de comportamentos espelhados no rosto humano ou no faciens animal e naturalmente pelo carácter universal e inato verificado no plano das emoções quase sempre detectáveis do mesmo modo em diferentes civilizações e culturas. Há algumas excepções que Darwin não chegou a demonstrar e para as quais estamos hoje despertos. Por exemplo: o modo como os indianos dizem sim e não; a cifração de uma linguagem expressiva e artística num espectáculo de Kathakali.

 

Leituras recomendadas:

- FRAZZETTO, Giovanni 2014, Como Sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não – dizer sobre as nossas emoções, Lisboa: Bertrand Editora, pp. 15-56; 57-97; 98-137; 176-213.

MENDES, Anabela, Notas para uma sociologia das artes do espectáculo – Reflexão sobre a utilização de parâmetros cognitivos aplicados a públicos de teatro e outras artes in: Maria Helena Serôdio (dir.), Sinais de Cena 17, Junho de 2012, 60-69.