A dinâmica da presença mercantil brasileira no Índico (século XVIII-XIX) (aula ministrada por Luís Frederico Dias Antunes)

4 Março 2022, 12:30 Ângela Vieira Domingues

A posição da historiografia portuguesa na exaltação da natureza multicontinental e plurioceanica de um grande império multicultural, mas uma análise predominantemente centrada na atuação dos portugueses. Este predomínio de análises centradas na história e na presença dos portugueses no Oriente muda a partir de c. 2001, com amplas e diversificadas visões sobre o império colonial: na sua articulação com várias comunidades, em função de redes comerciais ligadas por laços familiares e pessoais. A dimensão económica do Brasil no Índico: a presença mercantil, os mercados, os negociantes, as mercadorias, a criação dum mercado inter-colonial que incorpora a América Portuguesa. 1º tema: A importância da Carreira da Índia e a integração dos portos brasileiros na rota, como escalas planeadas e obrigatórias e de importante comércio legal e ilegal ou clandestino, mas altamente lucrativo; a participação dos comerciantes da Bahia e do Rio de Janeiro nos negócios associados à carreira; o ouro e o tabaco brasileiro contra os têxteis de algodão indianos, essenciais ao tráfico de escravos e ao vestuário dos estratos mais pobres da população brasileira; as conexões comerciais causadas pelas "caixas das liberdades", formas encontradas pela coroa para pagar o soldo às tripulações,  concedendo-lhes permissão para transportar mercadorias da Índia livres do pagamento de direitos alfandegários para comerciar nas escalas; 2º tema: A presença brasileira no Índico africano durante a segunda metade do século XVIII como uma consequência das políticas mercantilistas pombalinas para o Estado da Índia. A Carreira como a "coluna vertebral" dos contatos entre a Europa e o Oriente até à abertura do Canal do Suez. A participação de pequenos negociantes baianos e cariocas, que acumulam cargos oficiais na administração do Império, no comércio com a Índia. As alianças matrimoniais vantajosas e o enriquecimento com um comércio feito com a ilha de Moçambique e Inhambane, baseado em carregações de escravos, marfim, ébano, tecidos e o seu peso numa economia pré-monetária. O desconhecimento, por parte dos mercadores brasileiros, das diferentes regras de funcionamento dos mercados entre as duas costas africanas. 3º tema: O comércio privado feito por famílias abastadas brasileiras com a Índia (Goa, Surrate, Diu, Bombaim, Damão) em finais do século XVIII; a base da riqueza: os têxteis indianos e o tabaco brasileiro; os escravos especializados de Moçambique (pedreiros, cabouqueiros); a diversificação dos investimentos por parte de grandes comerciantes brasileiros que procuram proteger os seus negócios com a diversificação de produtos e de mercados: o comércio de longa distância e o comércio de cabotagem entre portos brasileiros; as lojas de retalhos e os prédios urbanos e agrícolas. Ascensões sociais e a sua participação na formação das elites brasileiras na primeira metade do século XIX. Novos caminhos de investigação.


Autores: José Roberto do Amaral Lapa, Jorge Pedreira, João Fragoso, Pedro Puntoni