Traduzir o passado

3 Novembro 2021, 15:30 Marta Pacheco Pinto

Discutiram-se dois excertos de Cartas persas (1721), de Montesquieu (a introdução e a carta 129), que expõem respectivamente a ficção da tradução, através da paródia ao prefácio de tradutor, e uma visão disfórica da tradução como acto sem génio ou criatividade. Estes dois excertos do romance epistolar serviram de mote para introduzir Rakushisha (2007), de Adriana Lisboa. Entrecortando-se escrita diarística com uma narrativa na terceira pessoa e a leitura da tradução do diário de Bashô, neste romance a acção é desencadeada pelo projecto de ilustração da tradução de Bashô. Sendo a ilustração uma forma de leitura e de tradução (intersemiótica), trouxe-se à colação o excerto "Optic translator" (2020), de David Karashima. A leitura do romance de Adriana Lisboa foi articulada em torno do seguinte conjunto de tópicos: livro, leitura e escrita; ficção de tradução (diário de Bashô); tradução intersemiótica (texto e imagem); viagem (oriente) e tradução (autodescoberta e regeneração); incomunicabilidade, tradução e dor; tradução como espaço de afeição; tradução e memória (diário).