Análise de coreografias de Oskar Schlemmer

20 Novembro 2019, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

NOVEMBRO                        4ª FEIRA                               18ª Aula

 

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Iniciámos a aula com o visionamento de uma parte do DVD dedicado a Oskar Schlemmer e às suas máscaras. Chamava-se essa pequena produção Dance Masks. E na verdade fomos surpreendidos por um exercício coreográfico de manipulação em espaço negro e corpos invisibilizados pelo negro que punha em destaque diferentes rostos de máscaras em movimentos individualizados e em montagem de grupo que nos levavam em diferentes direcções. Familiarizámo-nos assim com a Antiguidade Clássica, representada numa figuração moderna da Tragédia Grega, observámos a construção de máscaras a três dimensões e de inspiração figurativa (máscara de rosto de criança) ou caracterização de um tipo social (talvez o ganancioso) associado à velhice como caricatura (nariz e barba excessivos). As restantes máscaras foram produzidas sob a influência dos princípios da Bauhaus para esta área artística. O fenómeno da desconstrução tornou-se evidente na maior parte das figuras geometrizadas e surpreendentes. Que leitura poderíamos então fazer desta selecção artística a que tivemos acesso?

Para Oskar Schlemmer á mascara era um elemento primordial da criação dos corpos artísticos, artificiais, que pretendia colocar em cena. A máscara desempenhava as habituais funções a que está ligada desde sempre, e neste caso ela acentuava traços de carácter ou servia a representação do reconhecimento, por exemplo, da idade de inocência, da passagem do tempo, mas igualmente poderia responder por uma leitura política de enquadramento desse imaginário tão produtivo. Neste pequeno conjunto cénico, as máscaras associadas à despersonalização invocam na desconstrução dos seus elementos uma forma de captar uma época conturbada e difícil que se furtava à transformação positiva das relações entre as pessoas. O período da República de Weimar na sua fase final Oskar anunciava já muitas incógnitas que chegariam em força com o nacional-socialismo.

Oskar Schlemmer foi um artista com uma enorme consciência política e ainda que a sua arte nem sempre desse a entender essas inquietações, se formos atentos compreenderemos com relativa clareza o tipo de figuras que ele propõe, que tendo uma beleza estética surpreendente, e estando sempre numa relação directa e orgânica com o espaço (este vale tanto como os artistas, suas cores e formas), pré-anunciam a mecanização do mundo, a automatização dos gestos e movimentos que de certo modo hoje conhecemos.

Será que a conceptualização e esteticização das obras de Oskar Schlemmer se anunciam como proposta de alternativa ao mundo real? Ou nessa «figuração artística» existe uma denúncia desse mesmo mundo?

Assistimos a seguir a três coreografias de composição de O Ballet Triádico que Oskar Schlemmer concebeu, em 1922, e já dentro da sua leccionação e concepção artística na Bauhaus. Estes três momentos denominaram-se através de cores: amarelo, rosa e preto. A versão a que tivemos acesso foi reconstruída por Margarete Hasting.

Aguardaremos o visionamento da versão de Gerhard Bohner (1989) na próxima aula para nos podermos pronunciar sobre as diferentes concepções destas coreografias, elas mesmas já resultado da recepção da obra original.

 

DVD visionado

Bühne und Tanz | Stage and Dance – Oskar Schlemmer, Edition Bauhaus, 8 min. Mask Dance, 30 min. The Triadic Ballett (1970) Objectos fílmics reconstruídos por Margarete Hasting (1969, 1970). Língua alemã, língua inglesa na legendagem inicial de cada coreografia, 2014.

 

Endereços electrónicos sugeridos

https://www.bauhaus100.com/the-bauhaus/people/masters-and-teachers/oskar-schlemmer/

https://performatus.net/estudos/oskar-schlemmer/