Bauhaus em Dessau - artes cénicas - Wassily Kandinsky

16 Outubro 2019, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

OUTUBRO                                      4ª FEIRA                                          9ª Aula

 

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Interessou-nos o visionamento do último trabalho cénico de Kandinsky – Quadros de uma Exposição – realizado pelo artista, em 1928, no âmbito da sua leccionação na Bauhaus de Dessau. A encomenda agradou a Kandinsky como possibilidade de criar um «ballet em grande escala com efeitos multimédia» (Kandinsky, 1994: 749) Na verdade, este objectivo nunca foi alcançado e o pintor russo apenas conseguiu pôr em palco a obra musical de Mussorgsky, com título homónimo, no Friedrich Theater de Dessau, estreada a 4 de Abril desse ano. A pedido do director desse teatro, Georg von Hartmann, Kandinsky desenhou o cenário e os figurinos para esta Composição para Palco em dezasseis quadros, que também dirigiu, transformando assim as dez telas originais, pintadas por Victor Hartmann (1834-1873) e que haviam inspirado Mussorgsky para a obra musical mencionada, composta ainda no séc. XIX.

A transitividade artística impera neste caso, na medida em que, a pintura dá expressão à música que por sua vez propicia arte cénica.

A fundamentação teórica para esta pequena obra de arte, que à época causou muita perplexidade nos espectadores, tomava como ponto de partida o ensaio Sobre a síntese abstracta para palco (1923), disponibilizado em pdf, e que defendia:

1. As formas existem por si;

2. As cores sobre as formas também criam autonomia;

3. A estas junta-se a cor da luz como aprofundamento da pintura;

4. O seu jogo próprio produz o elemento da luz colorida;

5. A construção associada à música em cada quadro dá origem a uma integração de todas as formas artísticas no seu conjunto com vista a produzir uma síntese das artes.

Esta hipótese também poderia ocorrer como desconstrução.

No caso desta Composição para Palco, Kandinsky procura oferecer à música de Mussorgsky um contraponto pleno de elementos visuais.

Teoricamente não se trataria de um exercício de reprodução nem de sublinhado musical. A ideia seria confrontar os espectadores com uma «sonoridade abstracta» que pudesse distinguir ao mesmo tempo o fraseado musical e a sua correspondente pictórica.

É de considerar que o efeito causado por Quadros de uma Exposição na reconstrução a que assistimos poderá não conduzir a uma relação sintéctica como Kandinsky desejara. Este exercício de observação e atenção acústica atentas talvez determine um outro resultado.

 

Leitura recomendada

 

KANDINSKY 1994. Complete Writings on Art, edited by Kenneth C. Lindsay and Peter Vergo, Paris, New York: Da Capo Press

 

http://periodicos.unb.br/index.php/dramaturgias/issue/view/1638/365

https://www.dw.com/en/kandinsky-and-mussorgsky-what-happens-when-artists-inspire-each-other/a-19087823

DVD visionado

Bühne und Tanz | Stage and Dance – Wassily Kandinsky, Edition Bauhaus, 36 min. língua alemã e inglesa, 2014.