Gostos musicais e sua expressão na Bauhaus

27 Novembro 2019, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Foi esta aula dada pelo aluno Tiago Ivo Cruz, e a meu pedido, considerando as suas competência no domínio da música erudita mas também em relação ao Jazz. Ambos os géneros foram cultivados em produções da Bauhaus, quer como composições que integravam pequenos espectáculos na área da dança e de objectos em movimento, quer como modo expressivo de celebrar momentos de convívio entre os membros da Bauhaus.

O texto que a seguir se apresenta é da autoria do aluno colaborador. A ele ficámos a dever um adequado enquadramento musical de época, uma exemplificação seleccionada através de partituras que expressavam as tendências da música erudita entre o início do séc. XX e as duas décadas seguintes.

«Apesar da proximidade com compositores e de alguma experimentação amadora por parte dos mestres da Bauhaus, não existia um curso independente de música na escola. No entanto, a música não deixou de estar presente na construção e nos momentos performativos e festivos da escola. O teatro ocupava bastante mais espaço além do palco. Tinha uma função de realização ideológica do pensamento comunitário e festivo da Bauhaus, e isso incluía sempre música, usualmente de forma amadora, pontualmente de forma profissional. 

Para falarmos em termos Bauhaus, por música devemos entender uma dramaturgia do som enquanto performance teatral:  o som, música ou barulho, como um elemento de construção cénica. A combinação de objetos e corpos em movimento com luz, cores, voz, barulho, sons e silêncios. 

Devemos por isso procurar de que forma a música estruturava estas manifestações. Dada a fraca documentação em torno da produção musical na Bauhaus, seja em Weimar ou Dessau, iremos procurar os exemplos possíveis de apresentações na Bauhaus, e criar um quadro de vários exemplos de produção musical de diferentes compositores da época, nomeadamente em torno de Stravinsky, Hindemith, Schoenberg e outros.

Falámos já nestas aulas sobre a Exposição Bauhaus de 1923. Importa por isso dar nota que o programa da exposição desse ano incluiu uma “Celebração da Nova Música”, com apresentação de História de um Soldado (versão áudio em francês), de Stravinsky, e de Marienleben, de Hindemith.

Para a estreia do Ballet Triádico em Stuttgart em 1922, Schlemmer recorreu a uma mistura eclética de música do século XVIII, música contemporânea e música clássica, que ia de Bach a Haydn, Mozart a Debussy. Não ficou satisfeito e pediu a Schoenberg uma obra própria, que nunca chegou a entregar, e depois pediu o mesmo a Hindemith que respondeu com um trabalho para piano mecânico. Sabemos que trabalharam juntos para sincronizar os movimentos dos bailarinos com o piano mecânico mas, o rolo de papel perfurado perdeu-se. Existe, no entanto, uma reconstrução da tocata para piano mecânico de 1926 que nos pode dar pistas para o som e recursos expressivos de Hindemith num piano mecânico. Ouvir também tocatta de Bach para referência.

Para compreendermos a alteração estrutural nos métodos de composição em voga do início do século XX até aos anos 30, ouvimos ainda comparativamente Noite transfigurada  (Schoenberg, 1899), e Suite op. 25 para piano (Schoenberg, 1921/23).  Ou ainda Sagração da Primavera (Stravinsky, 1913) até Oedipus Rex (encenação Bukowskymúsica Stravinsky, 1927).