Revisitação a Oskar Schlemmer: dois solos

4 Dezembro 2019, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

DEZEMBRO                                               4ª FEIRA                                          22ª Aula

 

 

4

 

A aula de hoje começou por recuperar duas opções cénicas, respectivamente da coreógrafa Margarete Hasting (1970) e do coreógrafo Gerhard Bohmer (1989), a partir da sequência a solo dançada sobre a figura da elipse e designada por Oskar Schlemmer como Schwartz (preto), 3ª parte, e correspondendo a um primeiro momento da cena a desdobrar-se por três figuras – a bailarina e os dois guerreiros-lutadores.

Na primeira reconstrução (A) a bailarina executa todo um movimento elíptico que implica, ao mesmo tempo, não apenas a deslocação do seu corpo no espaço, mas igualmente a consciência de que a saia do figurino, em si um adereço com peso próprio e que ela veste, é uma elipse desdobrada e como tal também iluminada. Os movimentos da bailarina estão igualmente condicionados pelos adereços nos antebraços e por um toucado concebido com esferas de cor branca. A ideia de Oskar Schlemmer não terá sido a de facilitar a leveza do bailado, como inspiração clássica, quando fantasia um figurino com estas características. E a coreógrafa Margarete Hasting, como comprovámos, mantém grande proximidade aos estudos e esboços do professor da Bauhaus.

O desenho coreográfico é assim simples, sem grandes exigências físicas, uma vez que a bailarina caminha mais do que dança. Qual então o princípio que orienta a deslocação no espaço da intérprete? Talvez nos possamos aproximar de um dos propósitos defendidos por Schlemmer para o trabalho em cena e que consistia numa relação orgânica entre o ser humano e o espaço. Isto poderá então querer dizer, neste quadro, que entre o chão-espaço e o corpo no espaço existe um rigoroso desenho coreográfico a ser desempenhado no lugar geométrico da elipse, sendo a partir deste então criado o lugar artístico. O desenho da elipse produz-se em duas diferentes instâncias dando origem a uma percepção duplicada mas em conjugação.

Como espectadores ficamos à espera de ver reproduzir-se este modelo, o que aliás acontece. E acontece numa perspectiva que vai ao encontro da concepção teórico-prática que Oskar Schlemmer defendia: a ordem cósmica está intimamente associada à sua representação na Terra. A bailarina desloca-se em movimento sincopado, no quase silêncio do espaço (a música tem características de sussurro), seguindo um desenho-órbita em que ela mesma se torna.

No caso da coreografia de Gerhard Bohmer (B), a intérprete já não dança em preto e branco, mas em azul e preto. O chão adquire a cor azul uniforme que se projecta na circularidade da saia da intérprete e no seu toucado. Os antebraços tornam-se flexíveis, as mãos ajustam-se de vez em quando a tocar as circunferências da saia num ajuste de equilíbrio. Tudo muda em relação à versão A. A intérprete não tem desenho de chão para cumprir de forma directa e à nossa vista, tem antes um desenho coreográfico pré-definido que evolui em várias direcções, dançando em pontas e preparando as mesmas. De certo modo, a concepção entre o humano e o espaço torna-se mais orgânica, viva e harmoniosa. O figurino-adereço é feito de materiais mais leves que libertam o movimento, e a própria trajectória inicia-se e conclui-se em cena. Derivação a partir de Schlemmer? Claro que sim.

Tendo nós concluído este duplo visionamento Hastings/Bohmer, podemos afirmar que Oskar Schlemmer não tem sido muito revisitado desde a década de vinte do século passado. E nesse sentido o trabalho destes dois investigadores-coreógrafos adquire uma importância essencial para a História da Dança, a que acrescentaríamos todo o aparato conceptual que acompanhou a estética de Schlemmer, já anterior à Bauhaus, mas que só na Escola foi possível desenvolver em colaboração com os diversos ateliers que aí funcionavam. Nomeadamente de escultura, pintura, design.

Acederemos ainda numa das próximas aulas, após presença dos nossos convidados, a registos de época da preparação dos trabalhos coreográficos de Oskar Schlemmer.

Finalizaremos este nosso percurso com a Bauhaus observando pequenos filmes de Arquivo realizados durante o período de vigência da Escola mas não integrados em atelier próprio.

Em alternativa poderemos ver um filme de 2019, Die neue Zeit (O tempo novo), de Lars Kraume como reconstituição de época sobre a Bauhaus e que foi este ano premiado no Festival de Cannes. Neste caso avizinha-se alguma dificuldade de superação de natureza técnica na introdução da língua inglesa, pois o filme na origem é em alemão. Os 270’ de duração da obra requerem também ajuste adequado, sendo uma possibilidade estender a segunda parte do visionamento para a abertura da aula de 8 de Janeiro, a última do semestre e dedicada à avaliação final.

Ambas as propostas serão postas à consideração dos alunos.

 

DVD visionado

Bühne und Tanz | Stage and Dance – Oskar Schlemmer, Edition Bauhaus, 30 min. The Triadic Ballett (1970) Objectos fílmicos reconstruídos por Margarete Hasting (1969, 1970), 72 min. The Triadic Ballett (1989), objecto fílmico reconstruído por Gerhard Bohmer Língua alemã, língua inglesa na legendagem inicial de cada coreografia, 2014.

 

Endereços electrónicos sugeridos

https://www.bauhaus100.com/the-bauhaus/people/masters-and-teachers/oskar-schlemmer/

https://performatus.net/estudos/oskar-schlemmer/