Como parece ser quem escreve «Os Protegidos»?

27 Fevereiro 2018, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

FEVEREIRO                                 3ª FEIRA                      3ª Aula

 

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Iniciámos a nossa aula com o visionamento de um documentário dedicado à escritora austríaca Elfriede Jelinek, por altura da atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2004.

Alguns alunos assustaram-se e saíram da sala.

O que estávamos a ver, uma entrevista feita à autora em norueguês com resposta de Jelinek em alemão e raramente em inglês criou perplexidade entre os presentes. Encetei alguma tradução possível para tornar menos obscuro o objecto de visionamento. Não sei se fui bem sucedida.

Para mim o importante não era tanto a compreensão do discurso, embora este fosse relevante, caso nós soubéssemos todos norueguês, alemão e inglês, (teríamos o mesmo problema na presença de qualquer outra língua desconhecida) mas aquilo que este vídeo mostrava para além da leitura e da conversa.

A ideia consistia em entrarmos pela mão de uma desconhecida entrevistadora e do seu operador de câmara na casa da nossa autora desconhecida. Nem sempre os autores se deixam filmar em vários espaços das suas casas, nos mostram os objectos de que se rodeiam, tocam piano à nossa frente ou escrevem à velocidade da luz nos seus computadores só para que nós possamos ver como são hábeis. Ou acariciam os livros da sua biblioteca do mesmo modo que afagam um ou outro urso de peluche aos quais dão nomes próprios e para os quais olham como filhos. Sugestionada pelos objectos de que se rodeia e que nos mostram uma casa cheia e despida ao mesmo tempo, Elfriede Jelinek mostra-nos a ordem da sua vida. Fala-nos longamente da sua infância, do tempo da II Guerra Mundial, do pai judeu e social-democrata, da mãe aristocrática e conservadora e da sua vivência quase sempre aterrorizada desse período que se viria a manifestar no seu comportamento e maneira de ser até aos dias de hoje.

Estamos perante uma mulher-criança que aprendeu a controlar as suas descompensações através da produção literária, musical, em suma, pelas artes, com a filosofia.

E ela? Como é ela? Como se nos revela fisicamente? Com que elegância usa um penteado fora de moda, criando ela própria uma moda discreta? Como aflora o queixo num momento ansioso dando rumo aos longos dedos? Como dirige o olhar para o exterior da casa? Como se senta numa cadeira-fetiche em matéria transparente? Como é a sua voz? Como nos transmite ela as suas emoções? Este foi o objectivo do visionamento.

 

Prosseguimos o nosso trabalho em torno do texto dramático Os Protegidos com a leitura de um breve resumo de As Suplicantes de Ésquilo com a intenção de percebermos como eram diferentes os pontos de partida das duas obras, o que não quer dizer que As Suplicantes atravessem a matéria de Os Protegidos num enredamento inesgotável e sempre intencional.

 

Para melhor compreendermos o cruzamento de conteúdos nesta peça, traçámos em conjunto no quadro um esquema provisório sobre assuntos e temas e não ainda sobre motivos. Queremos estar por dentro da peça e não sobre ela nos pronunciarmos em modo superficial.

 

Leitura recomendada:

ELFRIEDE JELINEK, Die Schutzbefohlenen (Os protegidos), 2013-2016, tradução de Anabela Mendes, dactiloscrito, 2017.

http://www.elfriedejelinek.com/

https://www.youtube.com/watch?v=fxeEpHMYtUw

ÈSQUILO, As Suplicantes, prefácio, tradução e notas de Ana Paula Quintela Ferreira Sottomayor, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos, 1968.

 

ÉSQUILO, As Suplicantes, prefácio, tradução e notas de Ana Paula Quintela Ferreira Sottomayor, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos, 1968.

ÉSQUILO, As Suplicantes, Tradução de Urbano Tavares Rodrigues, Porto: Inquérito, s/d.

 

 

 

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