Refugiados e Escravizados

10 Abril 2018, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

ABRIL                         3ª FEIRA                                        12ª Aula

 

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Fechámos aqui Os Protegidos de Elfriede Jelinek, talvez temporariamente, e abrimos os caminhos para Rotas da Escravatura (1444-1888), um espectáculo musical, vocal, dançado e narrado de Jordi Savall e seus artistas-intérpretes. Foi aconselhado para leitura o dossier em língua inglesa que acompanha o DVD com o espectáculo ao vivo produzido em França em 2015.

Permite esse dossier o acompanhamento do espectáculo na sua componente narrativa que tem o propósito de elucidar o espectador sobre a história da escravatura desde o séc. XV até ao final do séc. XIX. Estão em língua original e em tradução inglesa todas as letras das canções interpretadas em cena, produzindo uma melhor compreensão do que é cantado em línguas não entendíveis por falantes portugueses. O conjunto de textos permite também um maior aprofundamento da temática da escravatura ao longo dos séculos. Finalmente encontram ainda uma tabela actualizada da condição de escravizado até aos nossos dias.

Este assunto chama a terreiro o que estivemos antes a fazer com a peça de Elfriede Jelinek. Apesar de haver diferenças entre um refugiado e um escravo, não podemos negar que existem aspectos comuns: a condição de ambos indicia e sustenta a perda de identidade própria, a perda de identidade colectiva, a perda de identidade como espécie. Em ambas as situações constatamos que estamos perante desprotegidos da História como exercício de poder económico, político que pretende desculturalizar e desenraizar quem tem uma pequena voz ou voz nenhuma.

As Rotas da Escravatura (1444-1888) celebram como acto artístico multicultural, multi-instrumental e numa perspectiva democrática as tradições históricas de vários países que conheceram e experimentaram a condição de escravo.

Jordi Savall é um grande músico mas é sobretudo um ser humano excepcional. Com ele e com os seus intérpretes talvez possamos perceber melhor uma História inaprendida.

Deixei ficar duas perguntas:

1.      Com está estruturado este espectáculo?

2.      Como é possível tirar prazer estético da obra Rotas da Escravatura?

Leitura recomendada:

SAVALL, Jordi 2015, The Routes of Slavery (1444-1888), K. M. Diabaté, I. García, M. J. Linhares, B. Sangaré, B. Sissoko, LA CAPELLA REAL DE CATALUNYA, HESPÈRION XXI, 3MA, TAMBEMBE ENSAMBLE CONTINUO, PP. 100-179.

 

DVD visionado:

DVD do espectáculo apresentado ao vivo, a 17 de Julho de 2015, na Abadia de Fontfroide, Narbonne, França, no âmbito do X Festival de «Música e História para um Diálogo Intercultural», Aliavox. Tempo de duração: 2h08’30’’