Sumários

Ainda a Teoria da Arte e a Iconologia

27 Fevereiro 2023, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


Ainda a Teoria da Arte e a Iconologia: de Aby Warburg a Panofsky e aos seus seguidores. Uma visão do discurso das artes em novas bases.

Um seguidor de Warburg: Rudolf Wittkower.

22 Fevereiro 2023, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


Um seguidor de Warburg: Rudolf Wittkower.

Segundo o iconólogo Rudolf Wittkower, na obra póstuma Allegory and the Migration of Symbols (ed. Londres, 1977), colectânea de estudos realizados entre 1937 e 1972, as obras de arte dão corpo, e transformam sempre, os códigos e símbolos das diversas experiências humanas ao longo dos tempos. Seguindo a lição de Aby Warburg, com quem Wittkower conviveu em Roma e Florença em 1927, antes de trabalhar no Warburg Institute, a lição iconográfica das alegorias e símbolos «em migração» permitiu-lhe abraçar consciente e vantajosamente a Iconografia para melhor entender o sentido das imagens. Os temas desse livro são os seguintes: 1. East and West: The Problem of Cultural Exchange 2. Eagle and Serpent 3. Marvels of the East: A Study in the History of Monsters 4. Marco Polo and the Pictorial Tradition of the Marvels of the East 5. 'Roc': An Eastern Prodigy in a Dutch Engraving 6. Chance, Time and Virtue 7. Patience and Chance: The Story of a Political Emblem 8. Hieroglyphics in the Early Renaisssance 9. Transformations of Minerva in Renaissance Imagery 10. Titian's Allegory of 'Religion Succoured by Spain' 11. El Greco's Language if Gesture 12. Death and Resurrection in a Picture by Marten de Vos 13. 'Grammatica' from Martianus Capella to Hogarth 14. Interpretation of Visual Symbols.

RUDOLF WITTKOWER (Berlim, 1901-Nova York, 1971) foi um grande historiador de arte alemão, que se destacou como profundo conhecedor da arte do Renascimento  e do Barroco; também se dedicou à Psicologia da Arte, ao inconsciente criativo e aos traumas ligados à criação artística; orientou os seus estudos segundo a iconologia de Aby Warburg, e de Panofsky, e as formas simbólicas de Ernst Cassirer, tendo desde sempre rejeitado uma leitura formalista das obras de arte.  Estudou um ano Arquitectura em Berlim, para seguir depois História de Arte na Universidade de Munique, com Heinrich Wölfflin, e em Berlim, com Adolph Goldschmidt. Perito em arte italiana, recebeu a influência crescente da Iconologia warburghiana, e demarcou-se cedo do Formalismo de Wölfflin. 

Cabe à lição iconológica, estádio avançado da História da Arte, desvendar as perenidades temáticas, as constantes codificadas, as trocas culturais (entre o Ocidente e o Oriente, p. ex.), os confrontos entre paganismo e racionalismo, as permanentes retomas de linguagens formais através dos códigos artísticos -- mesmo que estes símbolos possam estar afastados no espaço geográfico e no tempo histórico. Por exemplo, os temas mais explorados na arte do tempo do Humanismo do Renascimento revelam-se, muitas vezes, ecos de longínquas culturas, do Oriente pagão ao mundo greco-romano, e retomam os seus motivos sem que, apesar da mudança contextual, algo da sua primitiva identidade não deixe de perdurar no seu discurso formal, iconológico e simbólico.

No livro Born Under Saturn (de 1963) desenvolveu um dos melhores tratados sobre a Psicologia da Arte, sobre o humor merencoricus, a psique criadora e a evolução da condição social do artista, assim como o seu carácter e a sua conduta. Trabalhou no Instituto Warburg, em Hamburgo e em Londres.

Entre outras publicações, cabe destacar: Principios arquitectónicos na época do Humanismo (de 1949), Arte e Arquitectura em Italia 1600-1750 (de 1958), Born Under Saturn (1963) e Gian Lorenzo Bernini, o escultor barroco romano (de 1955).

Introdução ao estudo de Aby Warburg.

15 Fevereiro 2023, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


Introdução ao estudo de Aby Warburg (1866-1929): a Iconologia.

O grande fascínio provocado pela herança de Aby Warburg e pela Iconologia é explicada como sintoma de um certo descontentamento entre a nova geração de historiadores de arte, para quem a noção warburghiana de pathos, de sobrevivência de formas, de Nachleben (vida póstuma das imagens), e a montagem do seu BilderAtlas (criado em 1926, como processo de conhecimento através das imagens), ganham a maior actualidade.A História da Arte não se define no sentido cronológico ou evolutivo da análise estilístico-formal, mas sim através do estudo do sentido da involução morfológica que afecta de anacronismo todos os modos históricos e estilos. Urge estabelecer um espaço de reflexão e de investigação – Denkraun – que permita o projecto de uma psicologia histórica da expressãohumana a partir do estudo das imagens. Esse teatro será a Biblioteca, construída a partirde 1926 em Hamburgo para albergar a Kultgurwissenschstliche Bibliothek Warburg. 

 A célebre KBW (Kulturwissenschaftliche Bibliothek Warburg), biblioteca para as ciências da cultura, era peça fundamental do projecto científico de Warburg, na medida em que permitia dar expressão muito concreta à sua ideia de uma unitária Kulturwissenschaft, de uma «ciência universal da cultura» que anula rígidas divisões disciplinares. Ela constituiu a sede e ponto de partida – material, metodológico e temático – de importantes investigações que têm a sua origem bem localizada no «círculo Warburg». 

A Cripto-História da Arte e o estudo das 'obras de arte mortas'.

13 Fevereiro 2023, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


 A Cripto-História da Arte e o estudo das 'obras de arte mortas'.

 A Cripto-História da Arte, nova proposta de conceptualização para a nossa disciplina, parte da revalorização da noção de fragmento, não apenas como memória parcelar da obra ausente, mas colmo testemunho vivo da sua essência,  senão como indício perene (tal como o iconólogo E. H. Gombrich o referiu, ao acentuar que a H. da Arte  impõe sempre a ideia do conjunto artístico, e do seu contexto) – uma avaliação da obra em globalidade.No corpo de instrumentos de trabalho de que dispõem a História da Arte e as Ciências do Património conta-se o conceito operativo de Cripto-História de Arte, que assenta precisamente no estudo das obras de arte fragmentárias e mortas, ou seja, no papel que cabe aos indícios (mesmo de todo desaparecidos) para a caracterização histórica, artística, cultural, e estilística, dos vários «tempos» patrimoniais. Parte-se do princípio de que esta disciplina científica não deve ser restringida ao estudo das obras vivas, ou seja, os grandes monumentos, edifícios classificados e peças de valia museológica, mas também ao estudo daquelas muitíssimas obras que já desapareceram, por incúria ou destruição.

.Acresce a utilidade de se estender esta análise dialéctica assente na noção de fragmento à essência de todo o património visto na sua máxima globalidade, ao estudo daquele que persiste truncado e, até, a projectos artísticos que quedaram inacabados ou não chegaram mesmo a realizar-se. Conceito com útil verificação prática pela comunidade científica, insere-se dentro de um quadro de pesquisa definido em vários níveis de abordagem (cripto-analítico, dedutivo, reconstitutivo, ‘encreativo’). Trata-se de visão alargada em termos teórico-metodológicos, assente na base de dados inventariais como instrumento maior, integrando as perdas patrimoniais no ‘corpus’ exaustivo de bens, ainda que fisicamente já não existam  . Tal como a prescrutação micro-artística integrada (recorrendo-se a Carlo Ginzburg), à dimensão de existências em contexto periférico, o conceito alarga este esforço de revalorização ao atentar na valência específica das franjas da paisagem construtiva em espaços de periferismo, incluindo a esfera dos patrimónios a preservar na dimensão desvalorizada das micro-produções artísticas e evitando muitas das inexoráveis perdas que se sucedem no tempo.

     Uma História de Arte operativa, apta a alargar as suas bases teóricas e metodológicas não pode reduzir o seu objecto de estudo às obras de arte vivas; também as que desapareceram do nosso convívio, as que só sobrevivem através do indício ou do fragmento, ou seja, as obras de arte mortas, têm uma palavra a dizer aos historiadores, aos críticos e fruidores de arte.

Morelli e o Formalismo.

8 Fevereiro 2023, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


O FORMALISMO de Giovanni Morelli (1816-1891): uma Teoria assente no primado da Forma como base canónica de identificação de estilemasCorrente reaccionária ou, pelo contrário, imprescindível para a boa prática da História da Arte ?  O Formalismo, que deve a Morelli o seu prestígio, foi sempre avaliado em termos extremados: ora como o próprio fim da História da Arte, ora como a sua negação, ou seja, um entrave aos reais objectivos da própria disciplina, fosse ela documental, ou laboratorial, ou de contextulização histórica, ou de estudo de mercado, ou iconológica, a semiótica, etc. A verdade é que, sem saber ver, a História da Arte não pode progredir. E muita da História da Arte que se reclamou anti-formalista, de facto, não sabia ver… O que leva a considerar que um retorno a Morelli, como se advoga nos nossos dias, longe de ser uma constatação de derrota, é sim a prova de que a nossa disciplina só pode avançar numa perpectiva de globalidade se não existirem estigmas de nenhuma espécie.