Teste presencial

17 Maio 2018, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

TESTE DE TEORIA DA HISTÓRIA DA ARTE – Licenciatura em História da Arte

(1ª chamada) – 17 de Maio de 2018 – Prof. Vitor Serrão

 

 

 

I

Leia atentamente as sete seguintes questões e responda de modo suficiente, com estilo claro e num texto bem estruturado, com recurso a exemplos se e quando necessário, a TRÊS delas:

 

1.         Quais os limites que foram apontados, de um modo geral, à prática da Iconologia como processo de análise das obras de arte ? E em que medida esses ‘limites’ podem e devem ser contestados ?

 

2.         Em que sentido o conceito de aura formulado por Walter Benjamin (1936) expressa um novo modo de entrever relações estreitas e clarificantes entre a matéria bruta, o imaginário da produção de bens de consumo e a singularidade (aurática) das obras de arte ?

 

3.         Face à prática de investigação que tem desenvolvido, pensa que o conceito Trans-Contextualidade (tal como foi formulado por Arthur C. Danto) ajudou a reestruturar a História Crítica da Arte e a abrir novas vias de análise e fruição das obras de arte ?

 

4.         Quais as razões profundas do iconoclasma como prática destrutiva que se repete, com tão nefastos efeitos, ao longo da História e em que moldes pode ser considerada um terreno fértil de trabalho para os historiadores de arte ?

 

5.         O conceito de iconologia do intervalo, definido no início do século passado por Aby Warburg, abriu os historiadores de arte para um olhar em globalidade para o seu objecto de estudo. Em que termos esse conceito nos ajuda a situar os fenómenos da produção, época a época, sem constrangimentos nem visões preconcebidas ?

 

6.         Será que a abertura da História da Arte a vertentes «de género» (Feminismo, art outsider/Art Brut, arte pós-colonial, arte ingénua, street art, gay and lesbian studies,novos primitivos’, arte pública, etc) acentuou, num mundo globalizado como o nosso, a adequação da Teoria da História da Arte aos seus objectivos programáticos ?

 

7.         Uma visão globalizante e ontológica sobre o mundo das artes, como o definiu Theodor Adorno, atesta o quanto esse mundo nos traz de perene e de sublime, espécie de «movimento contínuo algures entre o efémero e o inesgotável». Será o conceito de sublime definido por esse filósofo da Escola de Frankfurt uma justificação para a História-Crítica da Arte no sentido da sua maior abertura analítica e crítica ?

 

 

II

 

Leia atentamente os dois seguintes textos e escolha UM deles para um comentário claro, bem estruturado, suficientemente desenvolvido e com reflexão original.

 

1.                  Comente o seguinte texto de Howard Becker (Mundos da Arte) a partir de uma visão mais ampla do conceito de artworld de Arthur C. Danto: «Para que as reputações das obras de arte se imponham duradouramente, os críticos e a gente ligada à esfera da estética devem estabelecer teorias da arte e critérios que permitam reconhecer o território da arte. Sem tais critérios, ninguém poderá formular juízos acerca das obras, dos géneros e das disciplinas que, por sua vez, determinam os juízos dos artistas». É justa esta perspectiva de «mundo da arte» que atribui a responsabilidade da reputação do artista ao trabalho colectivo operado no seio dos vários artworlds ? Ao realçar a cooperação entre estes, Becker destaca o momento em que a obra de arte se mostra, isto é, o momento de exposição: «O juiz só fala depois de exposto o caso; no caso do réu, tem de contratar advogado e, em cooperação, construir argumentos de defesa; ora o artista tem também de forma a sua identidade, buscar e obter parcerias, procurar formação, desenvolver técnicas. De forma leviana se afirma que o artista pode fazer o que bem entender e só depois terá sucesso em função do mundo da arte».

 

 

2.                  Como afirmou o historiador de arte e iconólogo alemão Aby Warburg (1866-1929), «a História da Arte é a investigação orientada e inter-disciplinar que visa o entendimento globalizante (estético, histórico, ideológico, contextual, trans-contextual) das obras de arte à luz da compreensão dos seus ’pontos de vista’ intrínsecos, isto é, das condições culturais, políticas, socio-económicas, ideológicas e das suas perdurações e continuidades – ou seja, o entendimento iconológico das obras». O autor defende, assim, uma espécie de Antropologia das Imagens, a partir dos conceitos de pathos (ou seja, a sobrevivência de formas) e das chamadas Nachleben (a vida póstuma dos códigos imagéticos, que transmigram e tendem a adquirir novas corporalidades). Note-se que estes conceitos vieram quebrar a tradicional visão histórica das artes como um continuum… Comente este belíssimo texto de síntese à luz daquilo que conhece dos conceitos de Warburg, sem deixar de se pronunciar sobre a sua aplicação no campo da Iconologia e sem esquecer o peso que a contribuição iconológica deste grande pensador alemão tem, sem dúvida, na reflexão teórica e na investigação da História da Arte do presente.

 

 

Vitor Serrão