Sumários
O pensamento iconológico de Georges Didi-Hubermann.
13 Março 2023, 14:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Georges Didi-Huberman, historiador de arte e filósofo, professor na École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, é o herdeiro intelectual de Aby Warburg, de Walter Benjamin e de Georges Bataille, e tem consagrado a sua reflexão iconológica a uma leitura crítica da tradição da História da Arte e do pensamento das imagens. Abrangendo tanto as artes visuais como a História da Arte, a Psicanálise, a Antropologia e as Ciências Humanas, Didi-Huberman publicou mais de 40 títulos, traduzidos em várias línguas. a sua obra recobre uma multiplicidade assombrosa de temas e artistas, da histeria ao Holocausto, de Fra Angelico a Pasolini, entre outros. As fronteiras entre Historia da Arte, imagens e Antropologia foram felizmente abaladas no decorrer das duas últimas décadas. Na virada cognitiva visual do nosso tempo, essas ciências – Antropologia e História da Arte – outrora distintas, vão redescobrindo a natureza e os horizontes de seus próprios começos. Num ensaio de Etienne Samain, retraçam-se algumas das etapas de relações entre antropologia, imagens e arte, remetendo às contribuições de Gregory Bateson, Claude Lévi-Strauss, Alfred Gell, Hans Belting, William J.T.Mitchell e, em novo espaço crítico, a obra humanistica de Georges Didi-Huberman, na linhagem de Aby Warburg e Walter Benjamin. Situam-se as imagens e o saber visual num campo privilegiado de questionamentos sobre a nossa História e sobre o porvir de nosso planeta.
Importa não só pensar a imagem mas pensar por imagens, isto é, aprender a abrir, a desdobrar as imagens, para nelas se redescobrir, na perspectiva aberta por Walter Benjamin, os seus profundos valores de uso (de utilização, de projecto) para o nosso tempo. O antropólogo, o cientista social, o historiador de arte, tem de ir além da descrição, do registo, da documentação da história presente dos homens e das culturas, etc, pois deve «atentar nas pulsões e sofrimentos do mundo, e transformá-los e remontá-los numa forma explicativa implicativa e alternativa» (Didi-Huberman 2010:191) . As fronteiras entre Historia da Arte, imagens e Antropologia foram felizmente abaladas no decorrer das duas últimas décadas. Na virada cognitiva visual do nosso tempo, essas ciências – Antropologia e História da Arte – outrora distintas, vão redescobrindo a natureza e os horizontes de seus próprios começos. Num ensaio de Etienne Samain, retraçam-se algumas das etapas de relações entre antropologia, imagens e arte, remetendo às contribuições de Gregory Bateson, Claude Lévi-Strauss, Alfred Gell, Hans Belting, William J.T.Mitchell e, em novo espaço crítico, a obra humanistica de Georges Didi-Huberman, na linhagem de Aby Warburg e Walter Benjamin. Situam-se as imagens e o saber visual num campo privilegiado de questionamentos sobre a nossa História e sobre o porvir de nosso planeta.
Pergunta Didi-Hubermann: «Somos artistas, antropólogos, sociólogos, historiadores de arte, fotógrafos, videógrafos, amantes das imagens, seres humanos. Levanto esta questão: o que faremos das imagens (das imagens dos outros e de nossas imagens) para servir ao nosso século, para pensar nossa História, para fazer viver os homens? E, mais ainda: como faremos delas e com elas, lugares de conhecimentos e de questionamentos, actos de memória, campos de desejos e de futuros ?»
Balanço de trabalhos práticos
8 Março 2023, 14:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
TEMAS DE TRABALHOS PRÁTICOS DE TEORIA DE HISTÓRIA DA ARTE – Licenciatura em História da Arte – 2º Semestre – 2022/2023.
Ana Godinho – A produção artística num estado psicológico
alterado: caso de Yayri Kuzama.
Ana Macedo – O cânone nas artes.
Anabela Esteves – Collingwood: comentário à sua teoria
aplicada à análise de obras de arte.
Beatriz Pires – A ‘Ronda da Noite’ de Rembrandt: as agressões
iconoclásticas
Carla Quintaneiro – O Humor Melancólico e a teoria das Artes.
Carolina Delicado – O clima na arte da pintura.
Carolina Mano – O Feminismo na Pintura de Aurélia de Sousa.
Catarina Cristo Penha – A arte do Feminismo em Paula Rego.
Catarina Mourinho Oliveira – O Feminismo em Frida Kahlo.
Diogo Neves – O santuário da Misericórdias de Braga e a
iconoclastia.
Elsa Damas – As Três Idades da Mulher, de Gustav Klimt, e o
Feminismo contemporâneo.
Inês Candeias – A Psicologia da Arte: a ‘Alegria de Viver’
(1905-1906) de Henri Matisse.
Inês Possidónio – O Humor Melancólico: conceito e prática.
Joana Machado – A Cabeça Cubo futurista atribuída a Santa
Rita Pintor.
Joana Pereira – O Inconsciente Criativo.
Júlia Oliveira – ‘É mais interessante pintar as mulheres como
elas são’ (Paula Rego).
Leonor Conceição – Iconoclastia: o exemplo de Bansky (Ballon
Girl).
Madalena Abrantes – O retratismo: conceitos e prática.
Madalena Castelo – A pintura de Ana Malta à luz de ‘O fim
da história da arte ?’ de Hans Belting.
Marcos Freitas –Monet e a representação da Natureza segundo o
livro ‘Monet - O Triunfo do Impressionismo’ de Daniel
Wildenstein e a ‘História Social da Arte e da Cultura’ de Arnold
Hauser.
Maria Antónia Cunha – sobre Psicologia da Arte.
Maria Correia – O Comparatismo artístico na literatura
mitológica.
Maria Prosperi – O surgimento do Impressionismo: reflexão
sobre o conceito.
Mariana Rodrigues Conde – A Psiquiatria na Arte e a visão de
Arthur C. Danto
Marta Simões – a igreja do Espírito Santo da Pedreira sob o
olhar cripto-artístico.
Matilde Gonçalves – Origem e Processos de Criação da Pintura
Abstracta.
Matilde Alexandra Patrocínio – Ficha analítica do livro
‘Design as Art’ de Bruno Munari.
Nadine Berto – Hans Prinzhorn e a Psicologia da Arte.
Paula Ramos – A pintora Josefa Greno e a arte no feminino.
Raquel Saraiva – Acordes visuais: ouvir a cor em Kandinsky
(ou: O penteado africano, símbolo de resiliência e arte ?).
Ricardo Soares – O uso dos símbolos pelos pintores do Romantismo.
Rita Camacho – ‘Male gaze vs female gaze’: o caso do filme
‘Portrait of a Lady on Fire’.
Petra Salvador – Mulheres pintoras esquecidas no mundo da
História da Arte portuguesa.
Salomé Bernardes – O conceito de Aura de Walter Benjamin e a
Indústria Cultural.
Vanessa Côrte Real – A Desmemória (caso de estudo: o palácio
do Infante na Amora).
Erwin Panofsky.
6 Março 2023, 14:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
No livro Through the Looking-glass and what Alice found twere, Lewis Carroll narra o fascínio de Alice, junto ao gato negro Kitty, pelo grande espelho que a intriga, onde se reflecte o quarto em que está encerrada, até ao momento em que finalmente atravessa o espelho e penetra na sua aventura. Aí, dentro, tudo é igual à imagem que Alice podia ver reflectido na superfície, mas tudo o que não era entrevisto na imagem reflectida é, pelo contrário, muito diferente do imaginável... É o mundo da fantasia, todavia com regras precisas, um mundo que Alice tem de percorrer para o poder compreender na sua globalidade... Através do espelho... Através da imagem...
A abordagem iconológica encontra nesta dimensão de entrega ao total descobrimento as suas mais puras raízes, o seu inflamado desejo de flanquear a superfície das coisas (e das obras de arte) para poder descobrir o seu lado escondido, a sua face oculta... A História da Arte passou o tempo’vasariano’ das biografias e o tempo ‘morelliano’ das leituras formais dotadas da maior cientificidade, aprendendo nas várias vertentes – histórica, documental, laboratorial, sociológica, semiótica – um pouco da sua especificidade como disciplina dotada de fascínios no modo sempre irrepetível de saber ver em globalidade as obras de arte.
Entre 1926 e 1933, Panofsky foi professor na Universidade de Hamburgo, onde havia começado a lecionar em 1921. Abandonou a Alemanha quando os nazis tomaram o poder em 1933 (era de ascendência judia) e instalou-se nos EUA Estados, para onde havia viajado como professor convidado em 1931. Foi professor no Instituto para Estudos Avançados da Universidade de Princeton (1935-1962), mas também trabalhou nas universidades de Harvard (1947-1948) e New York (1963-1968). Foi amigo de Wolfgang Pauli, um dos criadores da física quântica. Para Panofsky a História da Arte é uma ciência em que se definem três momentos inseparáveis do ato interpretativo das obras de arte na sua globalidade: a leitura no sentido fenoménico da imagem; a interpretação de seu significado iconográfico; e a penetração de seu conteúdo essencial como expressão de valores. A arte medieval e do Renascimento (que estudou profundamente), estão definidos em seu livro Renascimentos e Renascimentos na Arte Ocidental. Foi amigo de Wolfgang Pauli, um dos criadores da física quântica.
Eis que a ICONOLOGIA ultraopassa a sua dimensão de ramo operativo da História da Arte e, passando pelo bom uso da Iconologia, é capaz de apontar sentidos, descodificar programas, entretecer mistérios que as imagens oferecem aos espectadores, ao longo dos tempos. Depois do uso do termo no dicionário de símbolos que Cesare Ripa editou em Roma (Iconologie, 1593) e reeditou, ilustrado, em 1603, a Iconologia ressurge em Roma, em Outubro de 1912, no X Congrès International d’Historiens d’Art, por palavras de Aby Warburg (1866-1929), ao expôr a sua «leitura iconológica» dos frescos do Palazzo Schifanoia em Ferrara, em oposição às leituras formais e estritamente descritivas dos seus colegas. Na sua biblioteca de Hamburgo, Aby Warburg reunirá materiais de approche interdisciplinar da H. Arte com a Astrologia, a História das Religiões, a Antropologia, a Sociologia, a Literatura, o Folclore, etc, assim nascendo o Instituto Warburg, que o regime nazi obrigará a transferir em 1933 para Londres. Sob direcção de Fritz Saxl, ´o Instituto recebe grande impacto: aí se formarão Ernst Cassirer. Meyer Shapiro e Erwin Panofsky, entre outros...
Rudolf Wittkower e a Iconologia.
1 Março 2023, 14:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Rudolf Wittkower e a Iconologia.
RUDOLF WITTKOWER (Berlim, 1901-Nova York, 1971) foi um grande historiador de arte alemão, que se destacou como profundo conhecedor da arte do Renascimento e do Barroco; também se dedicou à Psicologia da Arte, ao inconsciente criativo e aos traumas ligados à criação artística; orientou os seus estudos segundo a iconologia de Aby Warburg, e de Panofsky, e as formas simbólicas de Ernst Cassirer, tendo desde sempre rejeitado uma leitura formalista das obras de arte.
Estudou um ano Arquitectura em Berlim, para seguir depois História de Arte na Universidade de Munique, com Heinrich Wölfflin, e em Berlim, com Adolph Goldschmidt. Perito em arte italiana, recebeu a influência crescente da Iconologia warburghiana, e demarcou-se cedo do Formalismo de Wölfflin. No livro Born Under Saturn (de 1963) desenvolveu um dos melhores tratados sobre a Psicologia da Arte, sobre o humor merencoricus, a psique criadora e a evolução da condição social do artista, assim como o seu carácter e a sua conduta. Trabalhou no Instituto Warburg, em Hamburgo e em Londres.
Entre outras publicações, cabe destacar: Principios arquitectónicos na época do Humanismo (de 1949), Arte e Arquitectura em Italia 1600-1750 (de 1958), Born Under Saturn (1963) e Gian Lorenzo Bernini, o escultor barroco romano (de 1955). Cabe à lição iconológica, estádio avançado da História da Arte, desvendar as perenidades temáticas, as constantes codificadas, as trocas culturais (entre o Ocidente e o Oriente, p. ex.), os confrontos entre paganismo e racionalismo, as permanentes retomas de linguagens formais através dos códigos artísticos -- mesmo que estes símbolos possam estar afastados no espaço geográfico e no tempo histórico. Por exemplo, os temas mais explorados na arte do tempo do Humanismo do Renascimento revelam-se, muitas vezes, ecos de longínquas culturas, do Oriente pagão ao mundo greco-romano, e retomam os seus motivos sem que, apesar da mudança contextual, algo da sua primitiva identidade não deixe de perdurar no seu discurso formal, iconológico e simbólico.
Ainda a Teoria das Artes e os estudos iconológicos.
27 Fevereiro 2023, 14:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
De Aby Warburg a Panofsky e seus seguidores. Actualidade do pensamento iconológico.