As temporalidades múltiplas/mútuas de passado, presente, futuro

11 Abril 2019, 10:00 Luís Filipe Sousa Barreto

Aula 20

11-04-2019                   

                  

O presente/”praesens” como fina camada de relação intra e entre passados e (possibilidades/escolhas de) futuros. O presente/existente como “o que está diante de mim”  e “o iminentemente urgente” ( E. Benveniste) . Do simultâneo como conexão/interação ao anterior e ao posterior.

A estrutura estratigráfica dos passados e o problema da possibilidade de crítico e fundamentado conhecimento histórico. A ambivalência do passado: como “distanciamento”/diferença através de traços (coisas, textos, etc.) sobreviventes/existentes no aqui e agora e como “proximidade” integrada/disseminada/metamorfoseado no presente. A proximidade e o distanciamento transmitido/em receção pela luz/sombra que se abate entre, por exemplo, s. XVI e s. XXI..

Não existe relação direta entre o campo de investigação histórica no s. XXI e o dossier dos traços, por exemplo, de Damião de Góis/1502-1574, Macau Ming (s. XVI-XVII), Hérodoto de Halicarnasso s. V a.C. Esses traços sobrevivem/organizam-se como processo multissecular/multimilenar de descontinuidades/transformações. Essa relação faz-se pois pelo passado intermediado/intermediário que mostra e esconde. A variedade de questionários históricos possíveis e com mútua implicação. O objeto/objetivo da transmissão de Damião de Góis, post 1574 e até 2002 como conhecimento / apagamento / valoração / ”memória” / “ilusão retrospetiva”.

O historiar quer descrever, interpretar, explicar (enquanto tema, problema, tópico) algo de existente, real, vivente num outro então presente e que hoje é passado. As possibilidades e os limites deste conhecimento plausível, provável, contrastável mas de modelo/tipo e jamais de pormenor/e muito menos de “tal como foi” pois o acesso/distância é fragmentário, disseminado. O “tal como foi” é sempre plural, múltiplo, diferencial conforme os grupos, posições, poderes. Foi/existiu e enquanto presença/presente foi múltiplo, contraditório, diferencial para os então presentes grupos, indivíduos, instituições, etc. A história como um fundamentado cálculo de probabilidades de outrora existentes/existências naquela (?) forma temporoespacial a partir de traços/sinais a reunir, inventariar, seriar, modelar em descrição - explicação. Sinais/traços acumulados e transmitidos em acaso e  necessidade jamais neutral. A investigação do historiar: “… não no espaço de uma ciência, mas como o movimento no qual se busca uma ciência… que faz da ciência não o horizonte problemático da investigação, mas o objeto polémico da sua investigação…” (Michel Foucault/1957).

A propósito do diálogo eletivo na aula com o colega Professor Sérgio Campos Matos. As aporias indivíduo-sociedade. As relações entre pluralidade – singularidade, tempoespaço situado e tempoespaço transmitido. A História como busca fenomenal-racional do enigma temporoespacial do humano. Dois historiadores num conhecimento aberto/incerto mas ainda assim conhecimento possível.

 

Bibliografia mencionada:

 

Elias, Norbert – Die Gesellschaft der Individuen, Frankfurt, Verlag, 1987 (trad. por., Lisboa, D. Quixote, 1993, deficiente)

 

Foucault, Michel – Dits et Écrits I. 1954 – 1975, Paris, Gallimard, 1994.