História da escrita latina V, Graus de competência escribal
5 Dezembro 2017, 16:00 • Susana Tavares Pedro
ESCRITA HUMANÍSTICA
3.º escrita na idade moderna (desde o s. XV) - Battelli
4.º humanístico-moderno: recuperação das formas da época carolíngia pelos humanistas italianos (s. XV) e ulterior adopção nos países europeus (XVI e XVII) com excepção da Alemanha; Portugal fins XVI-XVII - Cenceti
Em meados dos. XIV, em Itália, ligado ao movimento dos pré-humanistas, houve um descontentamento com a letra medieval.
à roda de 1400, em Florença, dá-se a viragem completa, com a adopção de uma letra nova, não.gótica, a carolina dos séculos 10, 11. Nasce a letra moderna e espalha-se lentamente (em Portugal só cerca de 1550). A partir de 1500 a expansão é rápida fora de Itália, principalmente na França, Inglaterra, Catalunha...., mas na Alemanha só se difunde em meados so século XX
1. Petrarca. Grande humanista Italiano, ele próprio copia os seus textos e desenvolve uma letra especial, que na correspondência privada exprime como o objectivo de encontrar uma letra nova: é a semi-gótica.
Vários dos seus discípulos pré-humanistas continuam a tentativa de reformar a esrita, nomeadamente na segunda metade do s, XIV, Bocaccio. Na mudança de século o chanceler de Florença criara em seu redor um grupo de pré-humanistas de onde surgem três responsáveis pela nova letra: Coluccio Salutati, que introduz uma novidade ao copiar certas letras do alfabeto carolino, Poggio Bracciolini, que em 1402 copia o primeiro códice conhecido escrito integralmente segundo o modelo carolino, e adopta as maiúsculas capitais para as iniciais em substituição das maiúsculas góticas e unciais. Poggio montou uma oficina de escribas de escódices de luxo e difunde-se assim a letra humanística caligráfica solene, tb letra poggiana, que é o modelo transposto para a imprensa.
Niccoló Niccoli é um colega de Poggio, herdeiro de uma família de mercadores, que 20 anos após o primeiro trabalho de Poggio, fabrica para seu uso pessoal uma letra também influenciada pela carolina e que dará origem à humanistica caligráfica. Os códices mais antigos datam da década de 20 do século XV mas não se difunde pela Itália antes da 2.ª metade do século.
Desta desenvolve-se uma escrita mais cursiva, especialmente na corrrespondência, com uso restrito, mas que em 1500 passa igualmente para a imprensa pela mão de Aldo Manuzio, um dos maiores impressores italianos do tempo, que funde o tipo itálico.
Na cúria papel romana forma-se a partir da letra de Nicoli uma variante caligráfica, entre 1500 e 1520, a que se chamou a cancelleresca.
Surgem os primeiros manuais de caligrafica, da mão de Ludovico Arrighi (La operina) que ensina a cancelleresca e de Tagliente, em Veneza, que publica a Opera dhe insegnare a scrivere, obras que promovem a rápida difusão da nova letra.
Competência escribal (Petrucci 2002: 19-21)
Podem identificar-se seis categorias distintas de alfabetizados com base nas suas capacidades de escrita pessoais e específicas e, nos casos que que tal é possível, de leitura.
1. os cultos
Indivíduos que dominam sem dificuldade, quer do ponto de vista da produção de textos quer do do seu uso, todas as tipologias gráficas comummente usadas na sociedade a que pertencem; sabem geralmente também escrever textos em língua diversa da sua nativa e receberam instrução de nível superior
2. os alfabetizados profissionais
Empregam, com competência técnica por vezes elevada e sobretudo para fins profissionais de produção ou de reprodução textual, algumas (regra geral nunca todas) das tipologias e das técnicas gráficas em uso no seu tempo e no seu ambiente; as suas capacidades de leitura são bastante inferiores às de escrita e o seu grau de instrução é frequentemente de nível médio-baixo
3. os alfabetizados de uso
Possuem competências de leitura e escrita de nível médio-alto, que exercitam regra geral funcionalmente para exigências específicas de trabalho ou de relacionamento social (correspondência); o seu grau de instrução é médio-alto, a sua actividade de leitura é constante e criteriosamente seleccionada
4. os semialfabetizados funcionais
Possuem competências gráficas limitadas; escrevem apenas por necessidade e ocasionalmente, sempre na sua língua materna; lêem pouco ou pouquíssimo, por vezes nunca, mesmo que tecnicamente o possam fazer. (podem ser identificados com boa parte dos subescritores de documentos europeus altimedievais)
5. os semialfabetizados gráficos
Possuem competência escribal extremamente reduzida que os torna capazes de escrever apenas textos brevíssimos (subscrições, contas, séries alfabéticas, etc); não lêem ou fazem-no apenas quando obrigados e geralmente sem compreender o que lêem; o seu grau de instrução é elementar, mesmo bastante baixo.
6. os analfabetos
Não são tecnicamente capazes de ler nem de escrever, mesmo tendo por vezes recebido uma instrução rudimentar; a sua cultura é essencialmente oral e visual.