Conceitos fundamentais na classificação de escritas: introdução.
10 Outubro 2017, 16:00 • Susana Tavares Pedro
1. Maiúsculas e minúsculas
2. Escrita usual — conceito desenvolvido por Giorgio Cencetti
3. Tendências gráficas — a fonte da evolução das escritas no processo gráfico
1. Maiúscula/minúscula
Classificação das várias séries alfabéticas segundo um critério
puramente formal: as escritas maiúsculas inscrevem-se entre duas linhas
paralelas, com extensões mínimas e neglicenciáveis de poucos traços
acima e abaixo das linhas: as escritas minúsculas inscrevem-se em quatro
linhas paralelas, o corpo das letras entre as duas linhas centrais e as
hastes ascendentes e descendentes inscritas entre estas e as linhas
externas.
Maiúscula e minúscula são termos que se aplicam a escritas,
entendendo-se sempre no sentido formal, ou a letras individuais e, neste
último caso, entendendo-se sempre em sentido substancial.
2. Escrita usual
CENCETTI, Giorggio (1948). “Vechi e nuovi orientamenti nello studio della paleografia”, La Bilbliofilia (50): 4-23.
(Cencetti 1948: 6)
“a escrita vulgar quotidiana, usada para todas as necessidades da vida”
(Cencetti 1948: 13) “simples escritas de todos os dias”
(Cencetti 1954: 54-55)
“Em cada época e em cada lugar as atitudes das escritas espontâneas dos indivíduos (as «mãos», as «caligrafias» de cada um) podem ser mais ou menos distintas: todas têm, contudo, algo em comum, mais que não seja o modelo ideal, o esquema, o molde, poder-se-ia dizer quase a ideia platónica dos signos alfabéticos. Este fundo comum, esta constância das escritas individuais, que de certa maneira as engloba todas e que por isso não pode ser constrangida e configurada em regras precisas e inderrogáveis, mas que no entanto tem características próprias e uniformes, constitui a escrita usual daquele tempo e daquele lugar”
“La scrittura «usuale» è quella di tutti i giorni e di tutti gli usi.” (1954: 54)
Alessandro Pratesi (1961) Paleografia, in Enciclopedia italiana, Terza Appendice, III, M-Z, Roma, 352-355
«usual» «a escrita de uso quotidiano em todas as suas multiformes manifestações, que, liberta de rígidos cânones escolares, modifica, inconscientemente e de maneira mais ou menos evidente, o tamanho, o número, a sucessão e a direcção dos traços, e acaba por modificar até a forma das letras».
3. É no âmbito das escritas usuais que se manifestam as mudanças provocadas pelas tendências gráficas, ou seja, pelos factores (imponderáveis mas mas muitos devidos a motivos estéticos ou materiais) que levam a que se escreva com caracteres inclinados ou arredondados ou angulosos, etc...
Muitas destas tendências são individuais e não têm conseguências na história da escrita, outras são expressão de motivos difusos e comuns a todos os escritores que introduzem nos signos alfabéticos modificações recorrentes com características idênticas em todas as escritas individuais até que, tornadas típicas, acabam por alterar, na mente de quem escreve, o modelo ideal, a ideia platónica da letra correspondente.
Alterações análogas em todas as letras conduzem à modificação e à evolução da escrita, ou seja, ao desenvolvimento do processo gráfico cujos factores elementares são as tendências.