Sumários
Produzir conhecimento em Arqueologia
8 Outubro 2021, 16:00 • Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião
Produzir conhecimento em Arqueologia:
Preparar uma Dissertação de Mestrado, seguido de algumas questões sobre boas práticas na investigação
1 Outubro 2021, 16:00 • Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião
Ao longo do percurso de Formação Avançada em que se encontram os estudantes é importante considerar duas coisas:1. Preparar um plano de Dissertação (v. sugestões abaixo);2. Ter em atenção as boas práticas de utilização das referências usadas (v. exemplos abaixo)
Sugestões para a organização de dissertações de Mestrado em
Arqueologia
Generalidades
Escreva um pequeno texto de não mais de 25 p. A-4 sobre a sua dissertação, considerando os distintos tópicos que adiante se apresentam.
Estas orientações não devem ser entendidas como questões diferentes (isoladas) que deverão ser abordadas separada e sequencialmente, mas antes como pontos de orientação e reflexão, para a organização de um projecto e realização da dissertação. Os diferentes tópicos propostos devem ser todos tratados.
Necessário será um prévio trabalho de levantamento bibliográfico e de leitura.
O Trabalho
Linhas de orientação para a realização do trabalho:
Pretende-se, basicamente, um plano detalhado da dissertação. Deverão necessariamente ser tratadas os seguintes aspectos:
A - A questão central e as hipóteses
B - O contexto historiográfico
C - As questões metodológicas
D - Questões relacionadas com as fontes que serão utilizadas
E - A estrutura da dissertação
F - Faseamento do trabalho e prioridades de pesquisa
Esclarecimentos
A - A questão central e as hipóteses
1. Qual é (ou quais são) a(s) questão(ões) central(is) e as principais hipóteses da dissertação?
2. Que subquestões e que subhipóteses derivam desta questão central?
3. Explique concretamente porque razão estas subquestões e subhipóteses serão desenvolvidas e não outras
4. Qual é o objectivo específico da dissertação?
B - O contexto historiográfico
1. A questão central da pesquisa relaciona-se com importantes debates, no âmbito da disciplina (ou da Arqueologia, em geral) e, em caso afirmativo, que debates?
2. Parte de alguma perspectiva teórica concreta?
3. Qual é o seu "contexto analítico"?
4. Pretende contestar alguma perspectiva previamente exposta, ou simplesmente ensaiar uma perspectiva original?
5. Como descreveria a natureza da sua investigação: histórico-culturalista, contextualista, processualista, hermenêutica, narrativista, comparativa, neo-marxista, ou uma síntese de algumas destas correntes? (é conveniente que saiba exactamente o que se entende por cada um destes conceitos, pelo que se recomenda a leitura de alguns manuais básicos no final destas folhas).
C - As questões metodológicas
1. Pretende que os resultados da sua dissertação se transformem em generalizações aplicáveis a outras realidades concretas (em outros contextos espaciais e cronológicos)?
2. De que forma pretende atingir tais objectivos e a que tipo de generalização se refere?
3. A sua abordagem pretende ser quantitativa (isto é, deseja descobrir/estabelecer relações entre variáveis) ou qualitativa (isto é, deseja descobrir/identificar explicações casuísticas, aplicáveis a situações concretas)?
4. Quais as variáveis, independentes e dependentes, centrais para a sua pesquisa?
Que relações e conexões pretende descobrir/demonstrar e que dados novos pretende utilizar?
5. Tenciona empregar uma perspectiva comparativa na sua investigação? Em caso afirmativo, em que sentido e com que objectivos pretende fazer a comparação?
6. Por que razão escolheu este período de tempo e espaço geográfico para o seu estudo?
7. Pensa usar determinados modelos na sua abordagem, em caso afirmativo, quais e como?
8. Como pensa utilizar os conceitos centrais da sua pesquisa e por que razão o fará nessa orientação em concreto?
9. Se pretende aplicar determinados métodos e/ou técnicas na sua pesquisa, explique por que razão os escolhe (e não outros) e por que razão os supõe úteis?
D - Questões relacionadas com as fontes que serão utilizadas
1. Faça um breve inventário das fontes que irá utilizar, com indicação da sua presente localização (em que Museu, em que Instituição ou na posse de que particular).
2. Faça uma breve descrição da natureza e volume de fontes a utilizar. Apresente, também, uma estimativa do tempo necessário para o seu tratamento (identificação, classificação, descrição, desenho, fotografia).
3. Explique por que razão recorrerá a essas fontes e não a outras.
4. Indique as potencialidades e limitações das suas fontes.
5. Explique se vai usar as suas fontes numa perspectiva quantitativa ou qualitativa, ou uma combinação de ambas.
E - A estrutura da dissertação
1. Apresente os títulos dos Capítulos da Dissertação, pela ordem em que serão apresentados.
2. Esclareça qual será a sua opção na construção da dissertação e por que razão pensa ser essa, em particular, a mais adequada aos seus propósitos.
3. Indique que questões e subquestões serão tratadas em cada capítulo da dissertação.
4. Indique, sob o título de Conclusão qual é a sua expectativa de resposta às questões centrais colocadas.
5. Apresente a lista da principal bibliografia de referência que irá usar, correctamente citada (recomenda-se a utilização das normas de citação do IPA, visto que, potencialmente, poderá desejar editar a sua dissertação nas colecções deste organismo).
6. Apresente a lista dos potenciais apêndices a apresentar.
F - Faseamento do trabalho e prioridades de pesquisa
1. Apresente um faseamento do projecto de dissertação, com uma clara indicação de quando deverá estar concluída cada uma das suas partes. Com realismo e clareza, indique que compatibilidade existe entre o seu plano e os prazos disponíveis.
2. Estabeleça, com rigor e clareza, uma hierarquia de prioridades nas distintas partes do plano da dissertação: que partes são essenciais e que partes poderão ser abandonadas ou aligeiradas, se o tempo lhe faltar.
Leituras recomendadas, para um esclarecimento das principais correntes teóricas:
ALARCÃO, J. (1996) - Para uma conciliação das arqueologias. Porto: Afrontamento.
GAMBLE, C. (2001) - Archaeology: the basics. London, Routledge
HODDER, I. (1986) - Reading the past. Current approaches to interpretation in archaeology. Cambridge: Cambridge University Press (há uma tradução espanhola publicada na editora Crítica: Barcelona).
JOHNSON, M. (1999) - Archaeological Theory. An introduction. Oxford: Blackwell
(há tradução espanhola publicada na editora Cátedra, de Madrid).
RENFREW, C. / BAHN, P. (Eds.) 2005 – Archaeology. The Key Concepts. London: Routledge.PLÁGIO E OUTRAS PRÁTICAS INCORRECTAS
Transcrição do Artigo 8.º (Fraude na realização de elementos de avaliação)
1. A fraude na realização de elementos de avaliação não é tolerável em meio universitário, implicando a sua prática a anulação automática do elemento de avaliação em causa, sem prejuízo de eventual procedimento disciplinar a que haja lugar.
2. Para os efeitos do presente regulamento, constitui fraude todo o tipo de práticas realizadas pelo aluno que resultem no falseamento do processo de avaliação, designadamente:
a) O plágio, consubstanciado em cópia, não assinalada como tal e/ou com omissão da fonte, por qualquer meio, de conteúdos de autoria de outrem, independentemente do suporte original (ex.: outro elemento de avaliação, obra bibliográfica, comunicação ou artigo, em papel ou formato digital);
b) A apresentação de elementos de avaliação de autoria de outrem, realizados por encomenda;
c) A consulta não autorizada de materiais aquando da realização de elementos de avaliação presenciais;
d) Apresentação de trabalhos já avaliados em outras unidades curriculares.
3. A prática de fraude é considerada especialmente grave a partir do 2.º ano do ciclo de estudos de licenciatura, pelo que a sua ocorrência determina ainda a impossibilidade de conclusão da unidade curricular no ano lectivo a que a prática respeite.
4. A prática de fraude no âmbito do 2.º e 3.º ciclos de estudo determina abertura do competente processo disciplinar e, no caso de envolver a dissertação, a interdição de frequência da FLUL por um período até 5 anos.
Algumas notas importantes
1. A inclusão de uma obra na bibliografia, não dispensa a sua citação ao longo do texto, cada vez que se refere informação nela colhida.
2. A citação, para além de correcta, deve ser precisa, definindo com rigor os elementos citados: o número das páginas, dos quadros, das imagens, das notas, etc. Não deve limitar-se à indicação da obra em geral (por ex. Ribeiro, 2005) quando se visam elementos contidos apenas numa parte dela.
3. A prática do plágio não respeita só a livros, mas a toda a propriedade intelectual, qualquer que seja a sua natureza e forma de apresentação.
4. Naturalmente, toda a informação disponibilizada on line deve ser citada com o mesmo rigor, de acordo com regras específicas. A fraude que envolve este recurso encontra-se particularmente difundida, atingindo enormes proporções no meio académico. A experiência tem demonstrado que muitos dos utilizadores da web são pouco criteriosos na escolha das fontes a que recorrem. Os instrumentos geralmente mais fiáveis e rigorosos não são descobertos pela maioria, que se limita, com frequência, aos que aparecem em primeiro lugar nos motores de busca. Em boa parte dos casos os trabalhos baseados nestes recursos não passam de cópias mais ou menos escandalosas de informação elementar, duvidosa ou mesmo errónea.
Ao contrário, parecem ser pouco ou nada usados os grandes repositórios de obras científicas (B-on, Jstor, Muse e muitos outros fornecedores de periódicos e monografias em formato digital). No entanto, a Faculdade de Letras, através do site da Biblioteca, proporciona indicações de grande utilidade para a exploração de um número muito substancial de instrumentos desta natureza.
EXEMPLOS PRÁTICOS
PLÁGIO E OUTRAS PRÁTICAS INCORRECTAS SIMILARES |
FORMAS CORRECTAS |
Relacionar Endovellicus e Silvanus parece colher alguma viabilidade a partir dos dados iconográficos disponíveis. (PLÁGIO: cópia do texto, sem a devida citação) |
Como sustenta José Cardim Ribeiro (2005, p. 732) “/.../ relacionar Endovellicus e Silvanus parece /.../ colher alguma viabilidade a partir dos dados iconográficos disponíveis” (toda a reprodução do texto alheio obriga ao uso de aspas) |
Partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponde a uma interpretatio de Fauno / Silvano. (PLÁGIO: uso de informação alheia, sem a devida citação) |
Partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponde a uma interpretatio de Fauno / Silvano (Ribeiro, 2005, p. 732-737; 749-750). |
Segundo alguns autores, partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponde a uma interpretatio de Fauno / Silvano. (Prática incorrecta, uma vez que omite a referência ao autor e à obra de onde se retira a informação que usa) |
Segundo José Cardim Ribeiro (2005, p. 732-737; 749-750), partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponde uma interpretatio de Fauno / Silvano. |
Segundo José Cardim Ribeiro, partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponde a uma interpretatio de Fauno / Silvano. (Prática incorrecta, uma vez que não cita a obra de onde se retira a informação) |
|
Segundo José Cardim Ribeiro (2005, p. 732-737; 749-750), partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponde uma interpretatio de Fauno / Silvano. Considera-se igualmente que Endovélico é uma divindade essencialmente benfazeja, benemerente, salutífera e, na sua generalidade, protectora dos indivíduos. (Prática incorrecta: a origem da informação deve ser referida em todas as circunstâncias, mesmo que repita, em todo ou em parte, uma citação anterior, mais ou menos próxima). |
Segundo José Cardim Ribeiro (2005, p. 732-737; 749-750), partindo da análise da documentação referente a Endovélico, em particular de alguns elementos iconográficos, pode sugerir-se que esta divindade corresponda uma interpretatio de Fauno / Silvano. Considera-se igualmente que Endovélico “é /.../ uma divindade essencialmente benfazeja, benemerente, salutífera” e, na sua generalidade, protectora dos indivíduos (Ribeiro, 2005, p. 749). |
O TEXTO ORIGINAL QUE SERVE DE EXEMPLO, foi retirado de:
RIBEIRO, José Cardim (2005) - O deus sanctus Endovellicus durante a romanidade, uma interpretatio local de Faunus/Silvanus? In: Acta Palaeohispanica IX = Palaeohispanica. Zaragoza. 5, pp. 721-766
p. 732
A nossa proposta em relacionar Endovellicus e Silvanus parece, pois, colher alguma viabilidade a partir dos dados iconográficos disponíveis. Mas torna-se necessário legitimá-la —ou, pelo menos, reforçá-la — através de outros indícios, confrontando tudo aquilo que conhecemos do culto de Endovellicus com os vários elementos caracterizantes do culto de Silvanus, e aferindo a sua mútua compatibilidade (cfr. quadro colocado no final do texto). Ensaiemos pois este percurso, alicerçando-nos, quanto aos diversos aspectos do deus itálico, sobretudo na excelente monografia de Peter Dorcey (1992).
p. 749-750
Para os seus múltiplos devotos, Endovellicus é agora uma divindade essencialmente benfazeja, benemerente, salutífera — um protector das famílias, das crianças, enfim, de toda a heterogénea sociedade que vive nos territórios circundantes. O seu intrínseco carácter infernal, porém, mantem-se evidente nas práticas oraculares e no tipo de animais sacrificados. Mas a sua personalidade tornara-se já culturalmente mais próxima através de um certo sincretismo com Faunus e Silvanus — e com base neste último se idealiza a sua imagem. Com o devir dos tempos este numen ancestral vem, enfim, a surgir-nos renovado e mesmo sublimado através de uma verdadeira dimensão heroizante e salvífica: sobre os monumentos que lhe são dedicados aparecem agora gravadas palmas, coroas de louros e génios alados portadores de tochas fosforescentes.
Apresentação do Programa, Bibliografia e normas de avaliação
24 Setembro 2021, 16:00 • Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião
Objectivos de aprendizagem
O Seminário pretende apresentar uma trajectória epistemológica da Arqueologia desde os inícios do século XX, no contexto das Ciências Sociais, apresentando e comentando os objectivos, virtualidades e limitações das distintas “escolas” de pensamento.
Pela selecção de autores e obras consideradas significativas, devidamente enquadradas e contextualizadas, pretende-se que os estudantes aprendam a entender como se foi produzindo conhecimentos gerais sobre o passado das sociedades humanas a partir do registo arqueológico. Pretende-se explicar como as diferentes correntes de pensamento contribuíram para o enriquecimento das práticas arqueológicas Um enriquecimento que se fez mais numa óptica aditiva / cumulativa (“estratigráfica”) do que por rupturas paradigmáticas.
O objectivo final é treinar o estudante a construir conhecimento a partir do registo arqueológico e a preparar um primeiro esboço da sua própria dissertação de Mestrado.
Conteúdos programáticos
A Arqueologia seus fins e métodos (método tipológico e método estratigráfico).
Estudar sociedades do passado através de amostras pobres e truncadas.
Uma vocação transdisciplinar e interdisciplinar.
Arqueologia: entre a História e a Antropologia.
O Nascimento da Pré-História e a afirmação da Arqueologia.
Do Positivismo ao Histórico-Culturalismo.
A Teoria Geral de Sistemas e o ”processualismo” nas suas distintas versões.
A Arqueometria como área de análise neutra.
O “linguistic turning” e o pós-processualismo
A Arqueologia Hoje
Bibliografia
Alarcão, J. 1996 - Para uma conciliação das arqueologias. Porto: Afrontamento.
Gamble, C. 2001 - Archaeology: the basics. London: Routledge
Johnson, M. 1999 - Archaeological Theory. An introduction. Oxford: Blackwell.
Renfrew, C. / Bahn, P. (Eds.) 1991 – Archaeology Theories, Methods and Practice. London: Thames and Hudson.
Id. (Eds.) 2005 – Archaeology. The Key Concepts. London: Routledge.
Trigger, B. G., 1989 - A History of Archaeological Thought. Cambridge: C.U.P.
Avaliação:
Cada estudante deverá realizar obrigatoriamente dois ensaios: uma ficha de leitura de uma das obras propostas e um ensaio comparativo de duas das obras recomendadas:
Trabalhos práticos:
1. Com vista a aprofundar e conhecer melhor as diferentes correntes epistemológicas da Arqueologia, propõe-se que se realize um pequeno ensaio comparativo de duas (ou mais) das seguintes obras, tidas por representativas de distintas correntes de pensamento:
Binford, Lewis R 1991 - Em busca do passado : a descodificação do registo arqueológico. Mem Martins: Europa-América
Childe, V. Gordon 1976 - Para uma recuperação do passado : a interpretação dos dados arqueológicos. Lisboa: Bertrand.
Clarke, D. L. 1978 – Analytical Archaeology. 2ª ed., London: Methuen.
Hodder, I. 1986 - Reading the past. Current approaches to interpretation in archaeology. Cambridge: Cambridge University Press.
Exemplo:
Chide vs Clarke
Childe vs Binford
Childe vs Hodder
Clarke vs Binford
Binford vs Hodder
Etc.
2. Realização de uma ficha de leitura de uma das obras propostas. No caso dos Key Concepts pode escolher dois ou três conceitos e realizar a ficha de leitura sobre os mesmos.
Para além dos trabalhos necessários à avaliação, deve ainda o estudante:
3. Realizar um ensaio de construção do projecto de Dissertação de Mestrado.
Not Taught.
17 Setembro 2021, 16:00 • Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião
Aula não leccionada por o docente se encontrar ainda em trabalho de campo