Sumários

III. Sobre Conceito e Objecto - 3

9 Março 2020, 18:00 António José Teiga Zilhão

Leitura, análise e discussão de Sobre Conceito e Objecto (1892) de Gottlob Frege - 3

E. Distinção entre um conceito ser uma propriedade de um objecto e um conceito ser uma característica de um conceito mais complexo; distinção entre os usos do verbo ser (predicação e subordinação) por meio dos quais cada um destes comportamentos de um conceito são expressos. F. A incapacidade revelada por Kerry em estabelecer três distinções essenciais: a sua não distinção adequada entre os usos do verbo ser como indicador de predicação e como indicador de subordinação, a sua não distinção entre sentido e denotação de uma expressão, e a sua não distinção adequada entre os usos do verbo ser como indicador de predicação e como indicador de identidade. G. Extensão ao caso dos conceitos relacionais das dificuldades introduzidas pela própria estrutura da linguagem natural em respeitar a natureza essencialmente predicativa de um conceito quando se pretende dizer algo acerca dele. H. Conclusão do ensaio: é necessário ter-se sempre em mente os modos como a linguagem natural pode constituir um obstáculo à expressão da verdadeira estrutura do Pensamento.


 


III. Sobre Conceito e Objecto - 2

4 Março 2020, 18:00 António José Teiga Zilhão

Leitura, análise e discussão de  Sobre Conceito e Objecto (1892) de Gottlob Frege - 2

D. Crítica à posição defendida por Kerry de que, por um lado, a distinção entre conceito e objecto não seria ontologicamente irredutível, tendo apenas uma validade meramente contextual, e de que, por outro lado, o próprio Frege violaria o princípio da irredutibilidade (continuação):

iv) As marcas da objectualidade e da conceptualidade na língua: os termos para objectos viriam, no uso linguístico, acompanhados pelo artigo definido, enquanto que os termos para conceitos viriam, no uso linguístico, acompanhados pelo artigo indefinido - refutação da acusação de que a tese da irredutibilidade ontológica entre conceitos e objectos não estaria de acordo com o uso linguístico destas marcas. v) Análise de aparentes contra-exemplos à validade das mesmas (e.g., 'O Turco cercou Viena'; 'O Cavalo é um quadrúpede') e sua elucidação como meramente aparentes. vi) Distinção entre os casos de frases em que um conceito é predicado de um objecto e o caso de frases em que um conceito de primeira ordem cai sob um conceito de segunda ordem. vii) Nos casos de frases nas quais se afirma que um conceito de primeira ordem cai sob um conceito de segunda ordem, o conceito de primeira ordem mantém nas mesmas a sua natureza predicativa, apesar de, nelas, se estar a dizer algo acerca dele (como acontece no caso nas quantificações universais ou existenciais); ora, isto é precisamente o que não acontece no caso de frases do género 'O conceito tal e tal tem tal e tal propriedade', nas quais o termo 'O conceito tal e tal' ocorre no lugar do sujeito da predicação e a propriedade que dele se predica é uma propriedade de primeira ordem; viii) Nestas frases, o termo 'O conceito tal e tal' poderia ser substituído no âmbito da frase por um qualquer nome próprio (e.g., 'Júlio César'), sem que a frase perdesse sentido (tornando-se apenas falsa); já a substituição do termo 'O conceito tal e tal' por uma expressão conceptual no âmbito da mesma frase geraria um sem sentido; ix) Tipicamente, sem sentidos surgem quando se pretende predicar objectos de objectos, objectos de conceitos, conceitos de conceitos da mesma ordem, ou conceitos de ordens superiores de objectos; x) A importância da obediência ao princípio do contexto para a detecção da verdadeira estrutura de uma frase: algo só é um nome próprio ou um predicado no âmbito de um pensamento; neste sentido, há frases nas quais termos que habitualmente surgem como nomes próprios são, de facto, termos conceptuais (como é o caso, e.g., do termo 'Viena' nas frases seguintes: 'Só há uma Viena' ou 'Trieste não é nenhuma Viena'). xi) O conjunto de considerações anterior constituiria evidência de que o termo 'O conceito tal e tal', ao contrário do sustentado por Kerry, não referiria, de facto, um conceito, mas sim um objecto; logo, a tese da irredutibilidade ontológica conceito/objecto nunca seria realmente violada por Frege e, portanto, a posição de Kerry da dependência contextual dessa distinção ontológica seria não só falsa, como independente da posição proposta por Frege. 


III. Sobre Conceito e Objecto - 1

2 Março 2020, 18:00 António José Teiga Zilhão

Leitura, análise e discussão de  Sobre Conceito e Objecto (1892) de Gottlob Frege - 1

A. Usos lógico e psicológico do termo 'conceito' e necessidade de distinguir entre eles. B. O problema da definição: o uso de definições é necessariamente limitado - aquilo que é ontologicamente simples não pode ser definido, apenas pode ser apontado ou elucidado por meio de sugestões e descrições; conceitos e objectos como simples ontológicos e irredutíveis uns aos outros. C. O problema da identificação dos simples ontológicos: estes não são dados imediatamente à experiência; aquilo que é dado imediatamente à experiência são sempre compostos; é necessário muito trabalho de análise e decomposição dos compostos dados à experiência para se conseguir identificar os simples que os integram. D. Crítica à posição defendida por Kerry de que, por um lado, a distinção entre conceito e objecto não seria ontologicamente irredutível, tendo apenas uma validade meramente contextual e de que, por outro lado, o próprio Frege violaria o princípio da irredutibilidade: i) Tese: o conceito tem uma natureza irredutivelmente predicativa, enquanto que os objectos são irredutivelmente não predicativos. ii) Análise de um primeiro conjunto de aparentes contra-exemplos a esta tese: o das frases de identidade nas quais nomes que referem objectos aparecem em lugares aparentemente predicativos; na realidade, estas frases podem ser tomadas ou como frases nas quais dois nomes são feitos cair sob um predicado binário que denota um conceito relacional, ou como frases nas quais um dos termos nominais é apenas parte constituinte de um predicado unário sob o qual é feito cair o outro termo nominal; um tal predicado unário denota então um conceito sob o qual apenas um único objecto cai. iii) Análise de um segundo conjunto de contra-exemplos à tese de Frege (os exemplos de Kerry): o das frases nas quais um termo do género 'O conceito tal e tal' aparece no lugar do sujeito de uma predicação com sentido; segundo Frege, em tais casos, o termo do género 'O conceito tal e tal' não referiria um conceito; ele referiria antes um objecto, o qual, por sua vez, representaria um conceito. 


Workshop

19 Fevereiro 2020, 18:00 António José Teiga Zilhão

A aula foi substituída por uma das sessões do workshop internacional 'Two Notions of Capacity'


II. Sobre Sentido e Denotação - 3

17 Fevereiro 2020, 18:00 António José Teiga Zilhão

Conclusão da leitura, análise e discussão de Sobre Sentido e Denotação (1892) de Gottlob Frege - 3

Continuação da análise da questão: Será a denotação de uma oração subordinada no contexto de uma frase complexa um valor de verdade? 

A) Análise da questão nas orações subordinadas substantivas, adjectivas e adverbiais: i) as orações subordinadas em discurso indirecto (já analisadas) são um caso particular de orações substantivas; ii) extensão do caso das orações subordinadas em discurso indirecto em que a denotação das mesmas e dos termos singulares que nelas ocorrem é indirecta para a generalidade dos casos em que há, nas orações substantivas, uma atribuição de atitude proposicional; iii) extensão da análise anterior ao caso das orações adverbiais finais, imperativas, interrogativas, i.e, àqueles casos nos quais as orações adverbiais se comportam como orações substantivas; iv) análise do caso das orações subordinadas, substantivas ou adjectivas, começadas por um pronome relativo, e que exprimem uma descrição definida: nestes casos a denotação da oração subordinada é um objecto ou indivíduo e o seu sentido é apenas parte de um pensamento e não um pensamento completo; v) defesa da tese de que, no âmbito dos usos cognitivos do discurso, o uso correcto de um nome próprio pressupõe que o mesmo tem uma denotação; vi) análise do caso das orações adverbiais de tempo e lugar como um sub-caso das orações substantivas anteriormente analisadas; vii) análise do caso das orações condicionais em dois sub-casos distintos: a) o das que constituem frases condicionais que exprimem generalidade e nas quais apenas a frase no seu todo exprime um pensamento, não o fazendo as orações constituintes e b) o das que constituem frases condicionais que não exprimem generalidade e nas quais ambas as frases constituintes exprimem pensamentos completos e denotam valores de verdade; viii) análise das orações conjuntivas e de alguns tipos de orações concessivas como casos de orações subordinadas que denotam um valor de verdade e têm um pensamento completo como sentido; ix) análise de casos de difícil decisão: o daquelas orações subordinadas que, além do pensamento que exprimem, estão também associadas a pensamentos colaterais, e que, por isso, se pode dizer delas que têm duas denotações, uma directa e outra indirecta. 

B) Análise da conclusão do ensaio SSeD: a conclusão de SSeD como recapitulação da solução de Frege para o enigma da identidade - no estabelecimento de uma relação de identidade do género 'a=b', apesar de ser condição da verdade da frase que os termos partilhem a mesma denotação, estes diferem no seu sentido, o que permite explicar por que é que o estabelecimento da mesma pode ter um valor cognitivo genuíno e fecundo.