Sumários
. A VIRAGEM SUBJECTIVISTA DA ESTÉTICA
18 Abril 2018, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
. A VIRAGEM SUBJECTIVISTA DA ESTÉTICA
1. SENTIMENTO INDIVIDUAL E NORMA DO GOSTO EM DAVID HUME
(Of the Standard of Taste, 1757).
– Essays and Treatises on several subjects in two volumes, ed. T.H. Green & T.H. Grose London, vol. 1, 1877; The Philosophical Works, ed. T.H. Green & T.H. Grose, 4 vols., London, 1882-1886.
Gosto e sentimento
O gosto não é uma propriedade das coisas, existe unicamente no espírito de quem a contempla, e cada espírito percebe uma beleza diferente. Uma pessoa pode mesmo perceber deformidade aí onde outra é sensível à beleza; e cada indivíduo deveria estar de acordo com o seu próprio sentimento (sentiment), sem pretender regular o dos outros. (Of the Standard of Taste; Essays and Treatises, 245).
... todo o sentimento (sentiment) é real (real) e não tem uma referência a não ser a ele mesmo, quer se tenha ou não consciência disso. (Ibid., 244).
A delicadeza da imaginação
Uma causa óbvia de que muitos não sintam o justo (proper) sentimento da beleza é a falta dessa delicadeza da imaginação, que é requerida para dotar a sensibilidade (sensibility) dessas finas emoções. (Ibid., 249).
“os princípios gerais do gosto”
Sucede que, no meio de toda a variedade e caprichos do gosto, há certos princípios gerais de aprovação e de censura, cuja influência um olhar atento pode detectar em todas as operações do espírito. (Ibid., 248).
Os princípios gerais do gosto são uniformes na natureza humana... (Ibid., 260).
Embora seja certo que beleza e deformidade, mais ainda que doce e amargo, não são qualidades nos objectos, mas pertencem inteiramente ao sentimento, interno ou externo, deve reconhecer-se que há certas qualidades nos objectos que são dispostas (fitted) pela natureza a produzir estes sentimentos (feelings) particulares. (Ibid., 250).
O consenso dos críticos
Se bem que os princípios do gosto sejam universais e quase, senão inteiramente os mesmos em todos os homens, todavia muito poucos homens estão qualificados para dar o seu juízo sobre uma obra de arte ou para estabelecer o seu próprio sentimento como sendo o padrão da beleza. (Ibid., 257).
A norma [padrão] (Standard) do gosto
... uma regra pela qual os sentimentos diversos dos homens possam ser reconciliados ou pelo menos uma decisão, proposta, confirmando um sentimento ou condenando outro. (Ibid., 244).
... um sentido (sense) forte, unido à delicadeza do sentimento, melhorado pelo exercício (practice), aperfeiçoado pela comparação, e depurado de todo o preconceito, só ele pode conferir a um crítico este carácter apreciável; e o veredicto conjunto de tais homens [...] é a verdadeira norma do gosto e da beleza. (Ibid., 258).
2. SENTIMENTOS ESTÉTICOS E ANTROPOLOGIA EM EDMUND BURKE
– A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful (1757); ed. de David Womersley, com o título A Philosophical Enquiry into the Sublime and Beautiful, London, Penguin, 2004 (contém a Introdução de 1759 "On Taste").
A afecção das paixões
Belo e sublime são ambos ideias (ideas) provocadas por qualidades das coisas, têm nelas a causa eficiente. O belo por qualidades como a pequenez, a variação gradual, a delicadeza, a cor, a graça, a elegância; o sublime por qualidades, tais a grandiosidade, a obscuridade, a vastidão, a infinitude.... Não resultam de um raciocínio, mas de uma afe
cção das paixões, sem intervenção de processos intelectuais.
Não é pela força de uma atenção e de um exame prolongado que julgamos belo um objecto; a beleza não requer nenhuma assistência do nosso raciocínio (reasoning); e mesmo a vontade lhe é indiferente; a presença da beleza desperta tão eficazmente em nós um certo grau de amor quanto a aplicação do gelo ou do fogo produz as ideias de calor ou de frio. (A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful, Parte III, II).
... a beleza consiste [...] numa qualidade dos corpos que age mecanicamente sobre o espírito humano, mediante a intervenção dos sentidos. (Enquiry, Parte III, XII).
... o gosto (Taste) [...] não é uma ideia simples, mas uma ideia composta, em parte de uma percepção dos prazeres primários dos sentidos e dos prazeres secundários da imaginação, e em parte dos veredictos da faculdade do juízo, no que concerne às várias relações dessas duas espécies de prazeres e no que diz respeito às paixões humanas, aos costumes e às acções dos homens. São esses os elementos constituintes do gosto e o fundamento de todos eles é o mesmo no espírito humano, pois como os sentidos são as grandes fontes das nossas ideias e, por conseguinte, de todos os nossos prazeres, a base inteira do gosto é comum a todos os homens e existe, portanto, um fundamento sólido para um raciocínio irrefutável sobre essas matérias. (Enquiry, Introdução).
A duplicidade dos prazeres e das paixões
Aconselha‑nos, pois, o bom senso que se deva distinguir mediante algum outro nome duas coisas de naturezas tão diversas, como um prazer (pleasure) que é simples e sem nenhuma relação com outro sentimento, daquele prazer cuja existência é sempre relativa e estreitamente vinculada à dor (pain). Seria muito estranho se esses sentimentos afecções (affections), tão diferentes nas suas causas e de efeitos tão diferentes, devessem ser confundidos porque o uso vulgar os colocou sob uma mesma denominação genérica. Sempre que tiver oportunidade de falar sobre esse tipo de prazer relativo, chamo‑o de deleite (delight). [...] Tal como empregarei a palavra deleite para indicar a sensação (sensation) que acompanha a eliminação da dor ou do perigo; portanto, quando me referir ao prazer positivo chamá‑lo‑ei, na maioria das vezes, simplesmente de prazer (pleasure). (Enquiry, Parte I, IV).
O sublime, analogon delicioso do medo
Tudo o que seja de algum modo capaz de incitar as ideias de dor e de perigo, isto é, tudo o que seja de alguma maneira terrível (terrible), ou relacionado com objectos terríveis ou que opera de modo semelhante ao terror (terror) constitui fonte de sublime, isto é, produz a mais forte emoção (emotion) que o espírito é capaz de sentir. (Enquiry, Parte I, VII).
A paixão a que o grandioso e sublime na natureza dão origem quando essas causas actuam de modo mais poderoso, é assombro (Astonishment); assombro consiste no estado da alma no qual todos os seus movimentos se encontra suspensos, com um certo grau de horror (horror). (Enquiry, Parte II, 1).
II. A ESTÉTICA NA ESFERA DA RACIONALIDADE
1. BAUMGARTEN: A EMANCIPAÇÃO DO PENSAMENTO SENSÍVEL
Uma lógica do conhecimento sensitivo, Aesthetica (1750‑1758)
Sunt ergo nohta cognoscenda facultate superiore objectum logices, aisqhta episthmhV aisqhtikhV sive aesthetica. (Meditationes philosophicae de nonnulis ad poema pertinenbus (1735), §116).
Se os inteligíveis conhecidos pela faculdade superior são objecto da lógica, os sensíveis são objecto da ciência estética ou estética.
AESTHETICA (theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, ars pulchre cogitandi, ars analogi rationis) est scientia cognitionis sensitivae. (Aesthetica, § 1).
A ESTÉTICA (teoria das artes liberais, gnosiologia inferior, arte de pensar com beleza, arte do analogon da razão) é a ciência do conhecimento sensitivo.
Aesthetices fines est perfectio cognitionis sensitivae, qua talis. Haec autem est pulchritudo. (Aesthetica, § 14).
A finalidade da Estética é a perfeição do conhecimento sensitivo enquanto tal. Ora esta é a beleza.
A sensibilidade como analogon rationis
Ad characterem felicis aestheticus generalem requiritur [...] Aesthetica naturalis connata [...], dispositio naturalis animae totius ad pulchre cogitandum, quacum nascitur.
A característica geral do esteta feliz [...] deve compreender a estética natural inata [...], que é a disposição natural da alma inteira a pensar com beleza, disposição com a qual se nasce. (Aesthetica, §28).
2. KANT
Kant: a autonomia da experiência estética. Gosto e sentimento. Reciprocidade da contemplação e da criação. A tensão imaginação-razão na génese do sublime. Ideia estética e intuição criadora.
Crítica da Faculdade do Juízo
Kritik der Urteilskraft 1790
Textos de trabalho: Analítica do Belo (1.º momento e 2.º momento); §1-8
Analítica do Sublime §§23, 25, 26.
LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA
11 Abril 2018, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
Poética: Technè poiètikè
Uma produção com technè (conhecimento)
As categorias estruturantes poièsis – mimèsis – katharsis
I. A Poièsis entre as actividades humanas fundamentais
Distinção das actividades: theôria / poièsis / praxis:
Metafísica A 2, 982b;
E 1, 1025b 18: Dado que também a ciência da natureza encontra-se circunscrita a um género do ente (pois se circunscreve ao tipo de essência em que o princípio de movimento e repouso está nela mesma), é evidente que ela não é nem ciência prática, nem ciência produtiva (pois o princípio daquilo que é susceptível de ser produzido está no produtor (inteligência, ou técnica, ou alguma capacidade), e o princípio daquilo que é susceptível de ser feito está no agente (a escolha); de fato, uma mesma coisa é susceptível de escolha e susceptível de ser feita); consequentemente, se todo conhecimento racional é ou prático, ou produtivo, ou teórico, a ciência da natureza há-de ser teórica, mas teórica a respeito de um ente tal que é capaz de mover-se, e apenas a respeito do tipo de essência que é conforme à definição no mais das vezes, e que não é separada. (Tradução de Lucas Angioni).
2. A articulação entre poiesis e mimèsis
Poética, 4: causas naturais da imitação
Poética, 1: meios, modos e objecto da imitação
A technè como imitação da natureza (physis): diferença e ligação entre o ser natural e a obra humana.
LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA
Technè como imitação e aperfeiçoamento do natural (Física II, 8)
Causas naturais da imitação (cap.4)
Analogia entre a obra e o ser vivo: tal como o natural, a arte segue um processo (energeia) que deve tender para o seu fim (telos) como realização completa (enteléqueia).
Compreensão da mimèsis em termos de processo diacrónico / do movimento (metabolè) que produz a obra como um ente singular determinado (ousia).
Critérios formais / intrínsecos/ da obra / adequação entre forma e fim
Equivalência entre beleza e perfeição, ou concepção objectivista da beleza / a per-feição como acabamento, finita, completa.
7, 1450b34: completude, totalidade e extensão
7, 1451a 10: “quanto à extensão, o mais comprido é o mais belo”
13, 1453a 21: “a mais bela tragédia do ponto de vista da arte”
15, 1454b 9: “ao fornecerem a forma própria, pintam retratos semelhantes, mas em mais belo.
Primado do critério do objecto
a) primado do objecto (enredo (mythos), os caracteres (ethos, pl. ethè) e o pensamento (dianoia) sobre os meios ( expressão, ou elocução (lexis) / música, ou canto (melopoia) e sobre o modo (o espectáculo).
b) primado do enredo – homens em acção - sobre os caracteres e o pensamento (Cap.6).
1450a 15: a tragédia é representação, não de homens, mas de acções
O enredo não é o real dado, mas é constituído pela actividade mimética segundo uma correcta estruturação dos factos (sustasis)
Transposição da realidade em obra
1451b 27: “não deixa de ser poeta por contar factos reais”
1451b 22: “não é preciso seguir exclusivamente as histórias tradicionais”
“talento”: 51b …
Tragédia e teoria das causas
A obra é um composto (sunolon) de matéria e forma
Causa material: o objecto (enredo, caracteres e pensamento)????
-- formal: perfeição intrínseca/ regras da technè poética (para cada género)????
-- eficiente: technè poética + o talento do poeta
-- final: prazer próprio da catarse (ouvinte/ espectador/ leitor)
Poética, Pedagogia e Ética
Cap. 4: prazer de aprender/ prazer de reconhecimento
Cap.25: ser, parecer, dever ser
1460 b 23: Sófocles (como devem ser), Eurípides (como são)
Poética e Linguagem
--Teoria da metáfora (cap. 21-22): “bem metaforizar é ver (theorein) o semelhante” (1459a 4-8)
1. - do género à espécie: o meu barco parou / o meu barco está ancorado
2. - da espécie ao género: Ulisses realizou dez mil façanhas / Ulisses realizou um grande número
3. da espécie à espécie dentro de um género comum: (tirar) :
Arrancando a vida com a brônzea espada
Cortando com o bronze indestrutível
4.- por analogia
- quando falta o termo
- por negação ou privativa
- a lógica própria
- função intelectual e ética:
- do prazer do reconhecimento à catarse como elevação (purificação/libertação/ sublimação)
Obra singular expõe um universal: poesia e filosofia
Comentários:
Nietzsche, O nascimento da Tragédia: apolíneo e não dionisíaco;
Freud, “A criação literária e o sonho acordado”; “Caracteres psicopatológicos sobre o palco”
José Pedro Serra, Pensar o Trágico.
Estética de Aristóteles
4 Abril 2018, 17:00 • Filipa de Almeida Afonso
Estética de Aristóteles: a poesia e a catarse do temor e da compaixão; leitura de excertos da Poética de Aristóteles.
Uma prova escrita
4 Abril 2018, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
ESTÉTICA – 2017-2018
Docente: Adriana Veríssimo Serrão
Uma prova escrita, a realizar na 1ª aula a seguir às férias da Páscoa: 4 de Abril.
Esta prova incide sobre a matéria leccionada e será realizada com consulta dos textos obrigatórios.
Deverá localizar todas as referências textuais e bibliográficas.
Serão desclassificadas as respostas que não incidam directamente nas questões.
As respostas serão avaliadas em função: a) do nível de conhecimento da matéria; b) da adequação às questões formuladas; c) da compreensão e rigor da exposição; d) clareza e correcção da expressão escrita; e) maturidade de pensamento e espírito crítico.
I.
a. Escolha um dos temas propostos.
- Pode a beleza ser imitada?
- Qual a justificação para a “expulsão” dos poetas?
- É a pintura uma technè?
- O estatuto da imagem em O Sofista.
b. Seleccione duas passagens dos textos de Platão relevantes para a elucidação do tema e transcreva-as.
c. Justifique a sua escolha.
d. Elabore um comentário detalhado dessas passagens.
II.
O Banquete apresenta dois retratos de Sócrates, ambos em estrita correlação com a figura de eros. Compare as diferentes descrições do amor no auto-retrato de Sócrates e na descrição de Sócrates por Alcibíades, mostrando as implicações mais pertinentes para a concepção platónica da beleza.
Estética de Aristóteles
21 Março 2018, 17:00 • Filipa de Almeida Afonso
Estética de Aristóteles: a arte mimética; o carácter pedagógico da mimesis; mimesis e possível; mimesis e universal; poesia e história; exercício de comparação entre pintura e estética aristotélica.