Sumários

Oficinas dos média (cont.)

25 Novembro 2020, 15:30 Silvia Valencich Frota

Discussão e reflexão sobre os noticiários televisivos: CMTV, RTP, SIC e TVI.


Projeto Instagram: 7ª Etapa

24 Novembro 2020, 17:00 Silvia Valencich Frota

Desenvolvimento da sétima etapa do projeto: validação da distribuição de tarefas, validação da reorganização dos grupos, definição dos próximos passos. 

(Desafio de escrita: produzir texto informativo e/ou opinativo a partir da reportagem indicada.)


Entrevista

20 Novembro 2020, 17:00 Ernesto José Rodrigues

Entrevista.

Resumo da aula anterior e novos conselhos.


É real ou fictícia, delas resultando, sempre, um retrato (ou auto-retrato, porque também há auto-entrevistas).

       A fictícia é uma composição da inteira responsabilidade do jornalista: com o 'entrevistado' geralmente morto, reúne o que dele tem por pertinente – respostas anteriores ou que se lhe põem na boca em função de cortes num texto corrido – e, assim, aviva um retrato ou define uma questão.

       Integrámos o retrato na reportagem porque este exige outra envolvência: como se chegou ao assunto, que 'luz' o envolve, por onde passa a 'moldura' deste rosto, etc. – isto é, demasiados elementos que, partindo de uma ou várias entrevistas (uma metodologia, ou, se quisermos, com Ph. Gaillard, «um género de reportagem particularmente denso», p. 76), transcendem estas para implicar, igualmente, o repórter.

       Este óbice é regularmente contornado por ligeiras notações devidas ao entrevistador, que assinala os risos, exclamações, pausas, sinalética do interlocutor no seu próprio teatro de gestos.

       É um pouco a forma mista, depois que a entrevista sob forma narrativa se aproximou demasiado da reportagem junto de um sujeito, do qual só aqui e ali vai nascendo algum discurso directo. A entrevista que agora nos interessa, como género, técnica e um fim em si é a que surge sob forma predominantemente dialogada.

      

       A clássica entrevista individual confronta duas visões (dizer duas personalidades não prevê o facto tão corrente de o jornal poder enviar dois e mais redactores ou de, mesmo, a outra parte aparecer multiplicada) definidas na alternância de perguntas e respostas. Cabe numa antiquíssima arte da conversação, com certos aspectos doutrinariamente estudados desde o século XVI.

       A situação entre parêntesis no parágrafo anterior daria uma mesa-redonda se a parte inquirida não representasse um colectivo unitário. Sendo, pois, várias as cabeças e os sentimentos confrontados com um ou mais jornalistas à volta de uma mesa e de uma série de matérias, temos essa espécie de entrevista que mais espaço costuma ocupar, às vezes dividido por várias edições.

       Cabe aos anfitriões, quase sempre na própria Redacção, dirigir e moderar, jogando a favor da novidade as eventuais contradições e a geral controvérsia. Uma variante deste processo encontra-se no seminário académico, com apresentação de assunto seguida de debate.

       Numa relação mais distanciada, com um ou mais porta-vozes e ombreados por jornalistas concorrentes, dá-se a conferência de Imprensa, que se distingue, ainda, por a iniciativa partir do exterior.

       Variante desta, à partida mais importante e recente, é a pool, em que se sorteia (e até falseia) um conjunto de repórteres credenciados para espaço reduzido. Tornou-se usual em cenários de guerra e demais catástrofes.

       Iniciativa de dentro ou de fora – e, neste caso, a rogo da Direcção – é a sondagem, que resulta numa série de quadros e gráficos, com leitura da Redacção. Baseia-se num universo definido de respondentes e numa bateria de perguntas breves e claras sob forma de inquérito.

       Este, por seu turno, é uma pequena entrevista, também ao vivo (num frente-a-frente, por telefone) ou por escrito, a que vários entrevistados sucintamente respondem à mesma ou mesmas questões, destacadas graficamente do conjunto. O que há de discurso jornalístico na sondagem perde-se ou reduz-se aqui; o que, além, é demorada análise, interpretação, resumo passa, aqui, a discurso directo; se aquela vive por si, este acompanha, muitas vezes, a actualidade mais premente e é menos 'politizado' - embora uma sondagem de opinião possa versar a infinidade de assuntos de que se faz a mesma opinião...

       Os objectivos e métodos é que devem ser explicados nos dois casos, desde logo porque o inquérito, apesar de hiper-selectivo, parte de mais fraca amostragem; aqui, as conclusões calham mais ao leitor.

       Destas espécies, a conferência de Imprensa, aparentemente 'mexida', é a menos viva e, até, concorrida. Escolhe-se a hora em função da hora de fecho dos jornais, mas, desde a véspera, se não quer limitar-se ao press-release ou a um discurso quase sempre formalizado em comunicado, o redactor já pode saber o que se vai passar num espaço dominado por quem convida – e que responde como entende ou sai quando lhe apetece.

       A pool sofre destas pechas, embora aconteça mais em cima da hora e a sua natural selectividade e particular matéria justifiquem outra atenção e presença.

      

       A preparação já é diferente quando a iniciativa cabe ao jornalista. Desta feita, mais do que ensaiar um tema multiplicado pelos vários ângulos informativos que o repórter vai encontrar, o entrevistador treina uma miríade de temas possíveis encadeados no discurso de uma só personalidade ou entidade. Em mesa-redonda, tudo cresce geometricamente.

       Ideal é conjugar o peso da visão que o entrevistado possa facultar e o interesse do tema, deste modo acedendo à actualidade, se lhe não preexistia.

       Uma entrevista, marcada com antecedência e reconfirmada, exige a anotação de perguntas ou pontos-base como se fossem avançados pelos diferentes tipos de leitores.

       A garantia de fidelidade ao que é dito on (e muito pode haver off the record) talvez peça gravação, o que as partes definirão, bem como saber se a peça já redigida é previamente conhecida, no essencial ou no todo, pelo entrevistado. O bom trato tudo resolve.

       Da vintena de conselhos que nos dá Mário L. Erbolato (Técnicas de Codificação em Jornalismo, 1979, p. 148), gostaríamos de salientar os pontos de 6 a 20, com leves acrescentos entre rectos:

       «6 - Faça as perguntas de modo concreto [e sem considerandos], para obter informações seguras e completas.

       7 - Não corte as respostas. Espere que cada uma delas termine, antes de formular a próxima pergunta. [Evite silêncios.]

       8 - Se o entrevistado divagar e fugir do assunto, recoloque-o no roteiro previsto, na pergunta seguinte. [Os monólogos em nada ajudam; as respostas longas, de resto, terão de ser cindidas, o que pede respostas desdobradas aquando da redacção final.]

       9 - Não discuta com a pessoa, se ela emitir uma opinião contrária ao seu ponto de vista. [A discordância mostra-se, serenamente, através de outra pergunta encadeada. Não deve, também, corrigir os erros linguísticos ou de estrutura frásica, o que fará, depois, na redacção. Sobretudo em texto corrido, qualquer erro significativo pede, imediatamente a seguir, entre parêntesis curvos, a partícula sic.]

       10 - Procure mostrar interesse real em tudo quanto for dito. Se o entrevistado verificar que o repórter não está atento, abreviará a exposição e colocará ponto final na entrevista.

       11 - Não emita a sua opinião, a menos que ela seja solicitada, e assim mesmo com modéstia e humildade.

       12 - Ao fazer uma pergunta, tenha em vista a riqueza da resposta e não apenas uma afirmativa, ou negativa, ou um talvez. [Não deixe pairar as meias verdades e contradições.]

       13 - Não seja agressivo. Demonstre franqueza e não astúcia. [Note-se que não está a tratar ninguém por tu ou, pelo menos, essa forma será excluída no produto final.]

       14 - Faça as perguntas no mesmo nível de quem responde. Pode acontecer que a entrevista seja importante, por ter sido procurada uma pessoa que saiba bastante sobre algo que ocorreu, embora humilde. Se ela ficar amedrontada, negar-se-á a dar esclarecimentos preciosos para o jornal.

       15 - Esgote cada área do assunto, antes de passar para outra.

       16 - Se necessário, faça alguma pausa, para evitar que o entrevistado se canse. Procure imprimir um pouco de humor ao diálogo.

       17 - Não se mostre superentusiasmado se ouvir uma resposta-bomba, porque o entrevistado, diante da sua reacção, poderá pedir-lhe que suprima o que disse, temeroso pelas consequências.

       18 - Prepare o terreno para cada pergunta. As coisas mais cruéis e indiscretas podem ser indagadas se o jornalista tiver o cuidado de se ir conduzindo com habilidade.

       19 - Se estiver a entrevistar uma senhora não lhe pergunte a idade e o estado civil, a não ser que a matéria se relacione com esses esclarecimentos. [A mesma discrição é devida com as profissões de fé, religiosas, políticas, clubísticas e outras, se desnecessárias ao fulcro da conversa.]

       20 - [...] Se a entrevista for feita na Redacção, as interrupções e chamadas ao telefone devem ser reduzidas ao mínimo.» [Aconselha-se, aliás, uma sala completamente à parte ou um espaço exterior.]     

       As explicações do como e porquê (eventualmente, os demais elementos noticiosos) da entrevista, e um retrato abreviado, seja da matéria nos pontos mais fortes, seja do interlocutor, comparecem no limiar da peça, antes de se proceder à transcrição do diálogo com apresentação dos interlocutores (nome do jornal ou do entrevistador e entrevistado) por extenso e em corpo destacado, passando, logo, às iniciais, ainda separadas por ponto ou travessão. A frequência dos bons modelos de jornalismo (porque não o pingue-pongue de P. R.?) aconselha a forma certa.

       Do que todos comungam é da indispensável exactidão e autenticidade na reprodução do dito.

       Se a entrevista vem em texto corrido, essas declarações, entre aspas e/ou em itálico, não devem ir muito além dos 200 caracteres, havendo o máximo cuidado em quebrar a monotonia dos verbos declarativos, cujo sentido varia muito: disse/precisou/acentuou, etc. ao Telégrafo, e menos: ao nosso jornal.

       Incluirmos numa citação frase ou vocábulo da nossa lavra exige corpo distinto (redondo, p. ex.) e dentro de parêntesis rectos.


Entrevista

20 Novembro 2020, 15:30 Ernesto José Rodrigues


Entrevista.
Resumo da aula anterior e novos conselhos.


É real ou fictícia, delas resultando, sempre, um retrato (ou auto-retrato, porque também há auto-entrevistas).

       A fictícia é uma composição da inteira responsabilidade do jornalista: com o 'entrevistado' geralmente morto, reúne o que dele tem por pertinente – respostas anteriores ou que se lhe põem na boca em função de cortes num texto corrido – e, assim, aviva um retrato ou define uma questão.

       Integrámos o retrato na reportagem porque este exige outra envolvência: como se chegou ao assunto, que 'luz' o envolve, por onde passa a 'moldura' deste rosto, etc. – isto é, demasiados elementos que, partindo de uma ou várias entrevistas (uma metodologia, ou, se quisermos, com Ph. Gaillard, «um género de reportagem particularmente denso», p. 76), transcendem estas para implicar, igualmente, o repórter.

       Este óbice é regularmente contornado por ligeiras notações devidas ao entrevistador, que assinala os risos, exclamações, pausas, sinalética do interlocutor no seu próprio teatro de gestos.

       É um pouco a forma mista, depois que a entrevista sob forma narrativa se aproximou demasiado da reportagem junto de um sujeito, do qual só aqui e ali vai nascendo algum discurso directo. A entrevista que agora nos interessa, como género, técnica e um fim em si é a que surge sob forma predominantemente dialogada.

      

       A clássica entrevista individual confronta duas visões (dizer duas personalidades não prevê o facto tão corrente de o jornal poder enviar dois e mais redactores ou de, mesmo, a outra parte aparecer multiplicada) definidas na alternância de perguntas e respostas. Cabe numa antiquíssima arte da conversação, com certos aspectos doutrinariamente estudados desde o século XVI.

       A situação entre parêntesis no parágrafo anterior daria uma mesa-redonda se a parte inquirida não representasse um colectivo unitário. Sendo, pois, várias as cabeças e os sentimentos confrontados com um ou mais jornalistas à volta de uma mesa e de uma série de matérias, temos essa espécie de entrevista que mais espaço costuma ocupar, às vezes dividido por várias edições.

       Cabe aos anfitriões, quase sempre na própria Redacção, dirigir e moderar, jogando a favor da novidade as eventuais contradições e a geral controvérsia. Uma variante deste processo encontra-se no seminário académico, com apresentação de assunto seguida de debate.

       Numa relação mais distanciada, com um ou mais porta-vozes e ombreados por jornalistas concorrentes, dá-se a conferência de Imprensa, que se distingue, ainda, por a iniciativa partir do exterior.

       Variante desta, à partida mais importante e recente, é a pool, em que se sorteia (e até falseia) um conjunto de repórteres credenciados para espaço reduzido. Tornou-se usual em cenários de guerra e demais catástrofes.

       Iniciativa de dentro ou de fora – e, neste caso, a rogo da Direcção – é a sondagem, que resulta numa série de quadros e gráficos, com leitura da Redacção. Baseia-se num universo definido de respondentes e numa bateria de perguntas breves e claras sob forma de inquérito.

       Este, por seu turno, é uma pequena entrevista, também ao vivo (num frente-a-frente, por telefone) ou por escrito, a que vários entrevistados sucintamente respondem à mesma ou mesmas questões, destacadas graficamente do conjunto. O que há de discurso jornalístico na sondagem perde-se ou reduz-se aqui; o que, além, é demorada análise, interpretação, resumo passa, aqui, a discurso directo; se aquela vive por si, este acompanha, muitas vezes, a actualidade mais premente e é menos 'politizado' - embora uma sondagem de opinião possa versar a infinidade de assuntos de que se faz a mesma opinião...

       Os objectivos e métodos é que devem ser explicados nos dois casos, desde logo porque o inquérito, apesar de hiper-selectivo, parte de mais fraca amostragem; aqui, as conclusões calham mais ao leitor.

       Destas espécies, a conferência de Imprensa, aparentemente 'mexida', é a menos viva e, até, concorrida. Escolhe-se a hora em função da hora de fecho dos jornais, mas, desde a véspera, se não quer limitar-se ao press-release ou a um discurso quase sempre formalizado em comunicado, o redactor já pode saber o que se vai passar num espaço dominado por quem convida – e que responde como entende ou sai quando lhe apetece.

       A pool sofre destas pechas, embora aconteça mais em cima da hora e a sua natural selectividade e particular matéria justifiquem outra atenção e presença.

      

       A preparação já é diferente quando a iniciativa cabe ao jornalista. Desta feita, mais do que ensaiar um tema multiplicado pelos vários ângulos informativos que o repórter vai encontrar, o entrevistador treina uma miríade de temas possíveis encadeados no discurso de uma só personalidade ou entidade. Em mesa-redonda, tudo cresce geometricamente.

       Ideal é conjugar o peso da visão que o entrevistado possa facultar e o interesse do tema, deste modo acedendo à actualidade, se lhe não preexistia.

       Uma entrevista, marcada com antecedência e reconfirmada, exige a anotação de perguntas ou pontos-base como se fossem avançados pelos diferentes tipos de leitores.

       A garantia de fidelidade ao que é dito on (e muito pode haver off the record) talvez peça gravação, o que as partes definirão, bem como saber se a peça já redigida é previamente conhecida, no essencial ou no todo, pelo entrevistado. O bom trato tudo resolve.

       Da vintena de conselhos que nos dá Mário L. Erbolato (Técnicas de Codificação em Jornalismo, 1979, p. 148), gostaríamos de salientar os pontos de 6 a 20, com leves acrescentos entre rectos:

       «6 - Faça as perguntas de modo concreto [e sem considerandos], para obter informações seguras e completas.

       7 - Não corte as respostas. Espere que cada uma delas termine, antes de formular a próxima pergunta. [Evite silêncios.]

       8 - Se o entrevistado divagar e fugir do assunto, recoloque-o no roteiro previsto, na pergunta seguinte. [Os monólogos em nada ajudam; as respostas longas, de resto, terão de ser cindidas, o que pede respostas desdobradas aquando da redacção final.]

       9 - Não discuta com a pessoa, se ela emitir uma opinião contrária ao seu ponto de vista. [A discordância mostra-se, serenamente, através de outra pergunta encadeada. Não deve, também, corrigir os erros linguísticos ou de estrutura frásica, o que fará, depois, na redacção. Sobretudo em texto corrido, qualquer erro significativo pede, imediatamente a seguir, entre parêntesis curvos, a partícula sic.]

       10 - Procure mostrar interesse real em tudo quanto for dito. Se o entrevistado verificar que o repórter não está atento, abreviará a exposição e colocará ponto final na entrevista.

       11 - Não emita a sua opinião, a menos que ela seja solicitada, e assim mesmo com modéstia e humildade.

       12 - Ao fazer uma pergunta, tenha em vista a riqueza da resposta e não apenas uma afirmativa, ou negativa, ou um talvez. [Não deixe pairar as meias verdades e contradições.]

       13 - Não seja agressivo. Demonstre franqueza e não astúcia. [Note-se que não está a tratar ninguém por tu ou, pelo menos, essa forma será excluída no produto final.]

       14 - Faça as perguntas no mesmo nível de quem responde. Pode acontecer que a entrevista seja importante, por ter sido procurada uma pessoa que saiba bastante sobre algo que ocorreu, embora humilde. Se ela ficar amedrontada, negar-se-á a dar esclarecimentos preciosos para o jornal.

       15 - Esgote cada área do assunto, antes de passar para outra.

       16 - Se necessário, faça alguma pausa, para evitar que o entrevistado se canse. Procure imprimir um pouco de humor ao diálogo.

       17 - Não se mostre superentusiasmado se ouvir uma resposta-bomba, porque o entrevistado, diante da sua reacção, poderá pedir-lhe que suprima o que disse, temeroso pelas consequências.

       18 - Prepare o terreno para cada pergunta. As coisas mais cruéis e indiscretas podem ser indagadas se o jornalista tiver o cuidado de se ir conduzindo com habilidade.

       19 - Se estiver a entrevistar uma senhora não lhe pergunte a idade e o estado civil, a não ser que a matéria se relacione com esses esclarecimentos. [A mesma discrição é devida com as profissões de fé, religiosas, políticas, clubísticas e outras, se desnecessárias ao fulcro da conversa.]

       20 - [...] Se a entrevista for feita na Redacção, as interrupções e chamadas ao telefone devem ser reduzidas ao mínimo.» [Aconselha-se, aliás, uma sala completamente à parte ou um espaço exterior.]     

       As explicações do como e porquê (eventualmente, os demais elementos noticiosos) da entrevista, e um retrato abreviado, seja da matéria nos pontos mais fortes, seja do interlocutor, comparecem no limiar da peça, antes de se proceder à transcrição do diálogo com apresentação dos interlocutores (nome do jornal ou do entrevistador e entrevistado) por extenso e em corpo destacado, passando, logo, às iniciais, ainda separadas por ponto ou travessão. A frequência dos bons modelos de jornalismo (porque não o pingue-pongue de P. e R.?) aconselha a forma certa.

       Do que todos comungam é da indispensável exactidão e autenticidade na reprodução do dito.

       Se a entrevista vem em texto corrido, essas declarações, entre aspas e/ou em itálico, não devem ir muito além dos 200 caracteres, havendo o máximo cuidado em quebrar a monotonia dos verbos declarativos, cujo sentido varia muito: disse/precisou/acentuou, etc. ao Telégrafo, e menos: ao nosso jornal.

       Incluirmos numa citação frase ou vocábulo da nossa lavra exige corpo distinto (redondo, p. ex.) e dentro de parêntesis rectos.


Recolha e selecção de notícias

19 Novembro 2020, 17:00 Ernesto José Rodrigues

Recolha e selecção de notícias. Fontes.

Da proximidade.

Resumo:

 Há três tipos fundamentais de fontes de informação: pessoais, documentais e o serviço das agências.

       As primeiras podem ser directas ou indirectas, subdividindo-se, ainda, em singulares e colectivas.

       Assim, quem protagoniza um acontecimento pode ser o seu transmissor ou pode ser transmitido por outrem. Trata-se de um indivíduo singular ou de uma entidade colectiva. Neste caso, a mensagem passa por um porta-voz (gabinete de Imprensa ou relações públicas, p. ex.) ou através de declarações escritas (comunicados, press-releases...).

       Em princípio, o jornal tem uma rede própria de correspondentes e de informadores regulares ou pontuais. O jornalista, por seu lado, alarga essas relações, como se demonstra pela agenda recheada de endereços e números de telefone quase sempre directos. Frequenta lugares onde encontra as figuras da notícia ou conserva aí sólidos informadores. Um bloco de apontamentos sempre à mão, um gravador (desde que não dissuada), um telefone portátil, eis óptimos companheiros de percurso.

       É, sem favor, amigo de toda a gente, inclusive de camaradas da concorrência, cujo serviço de agenda o pode ajudar. Há notícias que, reconhecidamente, só interessam aos outros e que graciosamente passamos.

       As fontes, quando não solicitem o anonimato, devem ser claramente identificadas. Em caso de dúvida, corroboradas, confrontadas por outras.

       Gentileza é dar a ler a peça ao entrevistado, ou referir, por telefone ou em conversa, o essencial. Muitas dúvidas podem tirar-se, então. Criar uma boa relação é tão importante como confirmar a sua idoneidade, esquivando, à partida, qualquer sombra de manipulação.

       A verificação in loco, se possível, deve ser um ponto de honra e não só privilégio dos enviados especiais.

       As pequenas vaidades ficam em casa. É ridículo querer, à viva força, entrar na fotografia com um entrevistado. O reconhecimento dos erros próprios é salutar; estes nunca devem ser da ordem da calúnia, do mais ou menos corrosivo ataque pessoal, da deformação, em resumo.

       A resposta e a defesa do bom nome são direitos de quem se sente lesado; forcejar, pois, por evitar desmentidos. O sigilo profissional garante a defesa das fontes, que marcarão, sempre, se se trata de um on the record ou de um off the record.

       Neste caso, só há duas soluções: partir em busca de outra fonte que caucione a publicação do que já nos arde nas mãos; se impossível, deixar que o tempo arrefeça o assunto e, ainda que não chamado ao lead, ministrá-lo dias ou semanas depois já diluído no background de outra notícia. Sem, todavia, comprometer o informador.

       Falhas a contornar, também, decorrem do nosso próprio discurso quando nos referimos às fontes. Se o impacto nasce do afirmativo, devemos obviar a estruturas do género: consta que, ouvimos que, diz-se que, parece que, há rumores de que, e quejandas.

       A frase «notícias não confirmadas» pode desgraçar a notícia. E a pecha na vária qualificação das fontes – fidedignas, insuspeitas, bem informadas, dignas de crédito, próximas de, oficiais, oficiosas, governamentais, etc. – ou de certos círculos, e observadores, e especialistas na matéria, deixam muito a desejar, se não nos atemos, afinal, a rotineiros hábitos discursivos que em nada reforçam a notícia.

       É preferível recorrer a fontes duplas – como é a história de um "quem" citado por publicação concorrente – devidamente identificadas. Mas, aqui, entramos no segundo tipo de fontes.

      

       Sem a consulta a um arquivo (centro de documentação) dificilmente havia entrevistas e, em menor grau, reportagens ou background noticioso. A memória fotográfica também aí repousa. Por vezes, lamentamos a pobreza dos ditos.

       O seu constante enriquecimento – em bibliografia, mormente enciclopédias e obras de divulgação, desde que haja colaboradores especializados, e iconografia – será preocupação constante dos documentalistas e de quem a eles acorre.

       Em cada novo dia, já a secretaria de redacção seleccionou recortes e organizou uma agenda mínima com acontecimentos a cobrir.

       Restam os serviços das agências, com uma redacção própria e capacidade de distribuição de telegramas e fotos, entre múltiplas propostas. Distribuem serviços de congéneres internacionais e têm delegações regionais.

       Os seus textos procuram abarcar o maior número de interessados. Sendo estes díspares, querem-se textos claros, precisos e concisos, além de completos e isentos. A técnica passa aos vários géneros, a serviços noticiosos especializados (economia, desporto...), aos exclusivos para certas publicações.

       Na LUSA, p. ex., o parágrafo vai até às cinco linhas e o telegrama (que se pode continuar só por mais dois) procura não ultrapassar as 25 linhas. Existem pequenas agências de jornalistas, agências fotográficas, regionais, cadeias de jornais não concorrentes, que reproduzem, traduzidos, os mesmos artigos. É uma forma de exclusivo, que pode combinar-se, também, entre órgãos regionais e nacionais, de modo a evitar o já estafado «com as devidas vénias"...

       A ainda tão recente técnica do corta-e-cola, no caso de telexes, continua nos ecrãs dos computadores. Se não conjugarmos o telegrama (este termo mal dá ideia das várias formas de apresentação da notícia de agência) com a nossa própria investigação, saibamos, ao menos, dar-lhe a volta ou, através dele, recomeçar. Já entrámos na fase da selecção.       

       Esta decorre da arte da recolha e do saber perguntar com algum fundamento ou prévias informações. Exige-se segurança na confirmação dos dados. Anotámos muito, quase tudo, sem equívocos ou dúvidas na cabeça, e o mais forte começa a impor-se-nos. Relendo, sublinhamos, assinalamos, numeramos o que, no seu aspecto concreto, temos por mais importante e chamativo. Se se apanha a ideia, o resto segue pacificamente, em frases curtas, com desprezo do pormenor não significativo, do acidental, secundário e anedótico.

       Hoje, este trabalho é já integralmente feito pelo repórter e não por redactores ou noticiaristas que, sedentarizados, tiravam do saber da tarimba o que entretanto haviam perdido em gosto pela inquirição.

       Rever e corrigir a peça (mostrá-la, inclusive, a camarada de trabalho) é o último acto, se a ela não voltar o chefe de redacção, um editor ou um desk.

 

DA PROXIMIDADE

       Lamentava Guilherme de Melo (O País, 23-1-1976) que certo ministro da então Comunicação Social tivesse o desplante de afirmar que «Há neste país demasiadas folhas de couve», referindo-se à multidão de folhas noticiosas que proliferam entre nós. Além de ministro irresponsável, descurava a gastronomia.

       Esquecia, também, a longevidade de muitos títulos – ou primazia, no caso, p. ex., d'O Açoriano Oriental, que resiste desde 1835 –, o peso epocal de O Bejense, em 1863, quando redigido por João de Deus, ou o queirosiano O Distrito de Évora (1867), bem como a decisiva importância que os ditos 'pasquins' assumem em contextos onde só por milagre chega a dita grande Imprensa, ou de expansão nacional - eufemismos que escondem, não raro, truques e mazelas de envergonhar quem já tem a vantagem de partir dos centros metropolitanos.

       Porta-vozes das vivências e aspirações locais, propagadores de conhecimentos úteis, elos de ligação aos que partiram, neles se revê o estado da nação e do país real, perfazendo o cimento da unidade enquanto se constituem sismógrafos dos movimentos comunitários.

       No entretempo, cada região, se bem reflectida, identifica casos de alcance nacional e mundializável a que o jornalismo estará atento.

       A distância e localização geográficas configuram uma iniludível distância psicológica, que, por seu turno, define a actualidade e significação da notícia, logo, o seu eventual interesse.

       A vitória de um oeirense em prova internacional pode constituir manchete nas folhas locais. Mas a contaminação de centenas em praias distantes e paradisíacas – diferentemente de um tipo de catástrofe que não afectasse, psicologicamente, o turismo local – podem remeter aquele feito desportivo para segundo plano.

       O factor humano pesa, assim, na decisão de quem elabora a primeira página. A manchete – nunca procurada freneticamente na Imprensa regional – estabelece, desde logo, diferença substancial em relação à dita nacional. É outro mundo que se entreabre, do estatuto editorial à estrutura redactorial. Pouca informação − mas nenhum sensacionalismo; ao invés, um programa simples e seguro, eivado de militância não raro apelidada de anacrónica. Eis, em síntese, um projecto deste tipo, que também interessa à disciplina científica.

       Assim, Edward T. Hall (A Dimensão Oculta, 1986) lançou o conceito – que nos pode ser útil – de proxémia, definida enquanto «conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico» (p. 11).

       Decorrente dele, com exemplos que explora na fauna, está o de territorialidade, esse «comportamento característico adoptado por um organismo para tomar posse de um território, defendendo-o contra os membros da sua própria espécie» (p. 19).

       No contexto que nos ocupa, este segundo conceito é positivo, ou seja, dialecticamente produtivo - se entrevirmos na discussão que uma sociedade exerce nas colunas do jornal, ou nas polémicas e vontade de ultrapassagem que um jornal alimenta em relação ao concorrente, a melhoria do espaço colectivo «enquanto produto cultural específico».

       Basta, por outro lado, pensar na experiência que da maquetagem temos para ver como funcionamos segundo escalas: modificando uma foto ou um texto, é toda a página que se altera. O mesmo se dirá da tentativa de reproduzir (como se faz com uma pintura, cujas medidas e leitura saem prejudicadas na reprodução) os factos e acontecimentos locais, para que deve haver, sempre, uma medida, sob risco de cairmos em tolo provincianismo.

       Vasco Pereira da Costa vergastou os seus («Regional, universal / e um caso açoriano», Diário de Notícias, 4-8-1983) ao parodiar certa «menção honrosa na folhinha da paróquia em termos encomiásticos de glorificação familiar: o nosso ilustre poeta, quiçá o nosso maior escritor vivo, deu-nos o seu estro mais um precioso livro de versos de fino recorte, etc.» O adjectivo esmaga, baba-se de admiração e ridículo (que não sente).

       Cita, depois, alguns dos melhores autores nacionais – entre os quais Aquilino e Vitorino Nemésio – em quem a localização geográfica não é obstáculo ao universalismo, cujos horizontes abarcam os seguintes pontos: «A crítica sociológica (os limites sociais, a sociedade tolhendo a liberdade do Homem), o paisagismo (o telúrico e o pagão), o sofrimento do isolamento, as evocações fechadas, o drama humano no concerto das forças naturais, a expressividade da língua de nível popular, os caracteres típicos dos camponeses, dos burgueses, dos aristocratas decadentes, dos oligarcas ascendentes»...

       O conhecimento de nós e dos outros - dominados por uma realidade cultural oculta por que seguimos e vamos desfiando − é mester de qualquer equipa redactorial. Saber, p. ex., se certo estrangeiro gosta de ser fotografado numa praia implica dominar o seu universo de valores (ou, quem sabe, ser perseguido e sovado).

       Hall identifica, a propósito, os quatro tipos de distância que organizamos – íntima, pessoal, social e pública –, cada uma comportando duas modalidades, a próxima e a longínqua. Identificá-los no momento da recolha e selecção do material obvia a respostas e problemas mais ou menos graves.

       O próprio discurso jornalístico sofre, para bem – no caso da identificação, em que entram as formas de tratamento do quem da notícia –, os efeitos da simplificação a que obriga a proximidade. Se o onde está mais ou menos localizado, é pena que as notícias desta nossa Imprensa abram, ainda e maioritariamente, por quando, esse momento que relega para segundo lugar o acontecimento (o quê?).

       Quando se fala em proximidade, exigimos, em suma, à Imprensa local (vocábulo cada vez mais no lugar de 'regional') que evidencie os ditos e feitos do nosso próximo. É a única maneira de salvaguardar a já parca solidariedade, talvez a inter-subjectividade, que a telemática pode arruinar a breve trecho.