Sumários

O mito de Ulisses

19 Outubro 2020, 17:00 Ernesto José Rodrigues

Exemplos da actualização do mito de Ulisses na cultura ocidental.

Análise do poema "Ulisses" na Mensagem pessoana.


O «sábio Grego» (Os Lusíadas, I, 3: 1) ou «facundo Ulisses» (II, 45: 1), «O perdido Ítaco» (II, 82: 1) fundador de Lisboa e pai dos Ulisseus (III, 57, 58), tem mais larga menção em VIII, 4: 5-8, 5: 1-4. É, todavia, representação do mito na Mensagem pessoana: «O mito é o nada que é tudo.» A sintaxe e entendimento das três quintilhas são subtis.

A vida, somente «metade de nada», morre, aqui em baixo; o mito, um nada completo, «é tudo», na existência transfiguradora que damos ao inexistente necessário, o qual nos cria, fecundando realidade, falando-a, acima da mesmidade ‒ o «mesmo sol» (grifamos mesmo, para que se sinta a diferença, a novidade) ‒ e da mudez do corpo divino morto. 


O mito de Ulisses

19 Outubro 2020, 15:30 Ernesto José Rodrigues

Exemplos da actualização do mito de Ulisses na cultura ocidental.

Análise do poema "Ulisses" na Mensagem pessoana.


O «sábio Grego» (Os Lusíadas, I, 3: 1) ou «facundo Ulisses» (II, 45: 1), «O perdido Ítaco» (II, 82: 1) fundador de Lisboa e pai dos Ulisseus (III, 57, 58), tem mais larga menção em VIII, 4: 5-8, 5: 1-4. É, todavia, representação do mito na Mensagem pessoana: «O mito é o nada que é tudo.» A sintaxe e entendimento das três quintilhas são subtis.

A vida, somente «metade de nada», morre, aqui em baixo; o mito, um nada completo, «é tudo», na existência transfiguradora que damos ao inexistente necessário, o qual nos cria, fecundando realidade, falando-a, acima da mesmidade ‒ o «mesmo sol» (grifamos mesmo, para que se sinta a diferença, a novidade) ‒ e da mudez do corpo divino morto. 


Túbal e Luso

15 Outubro 2020, 15:30 Ernesto José Rodrigues

Túbal.

Luso e Baco.
Os nomes do país.

Túbal e Luso fundam, segundo Fernão de Oliveira ([1536] 1975: 40), «A antiga nobreza e saber da nossa gente e terra de Espanha, cuja sempre melhor parte foi Portugal, […]». A exemplo do avô Noé, fundador de cidades peninsulares, Túbal «fundou Gibraltar», além de Setúbal, como reiteram Fr. Bernardo de Brito (Monarquia Lusitana, I, 1), Gaspar Barreiros (Chorographia, 1651, fl. 63), Brás Garcia de Mascarenhas (Viriato Trágico [1699], canto I) e outros. 

Quanto a Luso, «que também enobreceu esta terra», diz Oliveira (p. 40-41) que «não foi grego, mas de Portugal nascido e criado, filho de Liceleu», ou Baco (ver Os Lusíadas, I, 30: 2; I, 31: 5; I, 34: 4; I, 39: 3; I, 49: 5 e VI, 14, 20 = Lieu; I, 73: 2 = Grão Tebano; I, 82: 1; II, 10 = filho de duas mães; II, 12: 2 e VI, 6, 26 = Tioneu; II, 39: 2; III, 18; VI, 25; VIII, 3-4, 47-50; IX, 91[1]), do qual rei Luso «se chamou a terra em que vivemos Lusitânia, a qual depois chamaram Turdugal, não do porto de Gaia, como quer Duarte Galvão na História de El-Rei D. Afonso Henriques, mas dos Túrdulos e Galos, duas nações de homens que vieram morar em esta terra, segundo conta Estrabão no terceiro livro da sua Geografia». Esta tese não vingou, antes permanece a de Portus Cale = Portucale resumida em Camões (VI, 52: 1-3): «Lá na leal cidade, donde teve / Origem (como é fama) o nome eterno / De Portugal, […].» Duarte Nunes de Leão, na póstuma Descrição do Reino de Portugal (1610), deriva Lusitânia de Luso, «cõpanheiro de Bacho, a que por outro nome chamão Lysia de que também a dita prouincia se dizia Lysitania. Dahi a muitos centos de anos veo a Lusitania chamarse Portugal por esta causa. Na ribeira do rio Douro ha um lugar antiquissimo que o Emperador Antonino em seu itinerario chama cale, & agora se chama Gaia. O qual por seu lugar firmado em alto, & que tinha trabalhosa seruentia para os moradores que erão os mais delles pescadores, començarão a povoalo na parte baxa perto á ribeira do rio. E assi foi crescendo, & se chamou Porto de Cale, & despois Porto Cale, & per tempo Portugal mudando o C. em G. […].» (p. 11v-12r)  

Somos, assim, «gente / De Luso» (Os Lusíadas, I, 24: 4; I, 39: 4; II, 17: 6; II, 103: 6; III, 95: 8), o Luso (II, 48: 2; III, 51: 7), eventualmente «Luso horrendo» (II, 48: 8), «geração de Luso» (VII, 2: 1). A origem do nome Lusitânia[1] e a filiação no Tebano demora-se em III, 21 e VIII, 2: 7-8, 3: 1-8 e 4: 1-4, com o acrescento de que Luso está sepultado nesta sua terra. 


Do Auto Chamado da Lusitânia (Gil Vicente, 1532: pela filha de Lisibeia – donde vem o nome de Lisboa –, chamada Lusitânia, apaixonou-se o cavaleiro grego Portugal, que caçava na Hungria e ouviu falar de Solércia, ou Sintra, aonde veio) à Lusitânia de Almeida Faria (1980), também transformada (Fernão Álvares do Oriente, 1607), restaurada (Vicente de Gusmão Soares, Lusitânia Restaurada dirigida a seu restaurador El-Rei D. João 4.º, 1641), ou Lusónia (Teófilo Braga, Viriato, 1904), e longínquo Turdugal, aos derivados de Portugal (que F. Pessoa trocou por Mensagem, ao contrário de Miguel Torga, 1950; Mensagem, cujo “Nevoeiro” nos oximoriza em «fulgor baço») ‒ Portugalete (Tomé Pinheiro da Veiga, Fastigínia, 1605), Portugalinho (João Medina), Portuguex (Armando Silva Carvalho, 1977) ‒, aos pronomes (isto, Sá de Miranda), metáforas, perífrases e desvios com o seu quê de simpáticos (Maria Velho da Costa, Casas Pardas, 1977; minha terra, país de Camões, «onde a terra acaba e o mar começa», pessoano rosto da Europa; “O Reino Cadaveroso” de A. Sérgio, da conferência coimbrã de 1926 [21972: 25-61], inspirado em Ribeiro Sanches (1777); O Reino da Estupidez [1961] seniano, trazido de Francisco de Melo Franco; Rui Belo, País Possível, 1973), Vergílio Ferreira afunda-nos em lama e porcaria: Portugal «é uma valeta» (Conta-Corrente 1, 1980: 153), e, com ou sem consciência de uma charge camiliana ao jardim da Europa à beira-mar plantado do D. Jaime ‒ em que seríamos jardim da Europa à beira-mar latrinário (Nostalgias, 1888) ‒, lembra-se deste descaso: «Ó país do tamanho de um papel higiénico.» (p. 135) Cristovam Pavia (1982: 198) andara perto: «Ó Portugal minha pátria de meia-tigela». É um pérfido desenvolvimento em relação a piolheiras ou à choldra de Eça, D. Carlos, Aquilino, Luís Naves; embora negativo, o caixão vazio de Baptista-Bastos significa bem mais do que tanta latrinice. Se fôssemos para os habitantes, teríamos lusitanos, portugueses, Os Lusíadas (Camões; Manuel da Silva Ramos e Alface, 1977), portugãos (Fastigínia), povo eleito, cafres da Europa (ambos no Padre A. Vieira), magriços (1966), «pascácios» e «palhaços» (Conta-Corrente, p. 147, 258), Gente Feliz com Lágrimas (de João de Melo, 1988)…   




Quatro mitologemas

12 Outubro 2020, 17:00 Ernesto José Rodrigues

Mitologemas segundo Gilbert Durand.

Gilbert Durand (Imagens e Reflexos do Imaginário Português, Lisboa, Hugin, Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin.Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin. Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin.1997: 204) assenta em quatro mitologemas: o Fundador vindo de longe, seja, Luso ou São Vicente – que não abarca o todo nacional ‒, sendo de acrescentar um conde D. Henrique ‘húngaro’; o nostálgico desejo do impossível incarnado em D. Pedro / Inês, Mariana Alcoforado, Nuno Álvares Pereira derrotando Castelhanos em Aljubarrota; a crença num rei salvador oculto; a transmutação paraclética [em nome do, devida ao Espírito Santo] do mundo, inspiradora de todas as descobertas, cujo objectivo era conhecer o reino de Preste João, influenciada pela instituição do culto do Espírito Santo e pela rainha Santa Isabel.


Quatro mitologemas

12 Outubro 2020, 15:30 Ernesto José Rodrigues

Mitologemas segundo Gilbert Durand.

Gilbert Durand (Imagens e Reflexos do Imaginário Português, Lisboa, Hugin, Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin.Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin. Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin.1997: 204) assenta em quatro mitologemas: o Fundador vindo de longe, seja, Luso ou São Vicente – que não abarca o todo nacional ‒, sendo de acrescentar um conde D. Henrique ‘húngaro’; o nostálgico desejo do impossível incarnado em D. Pedro / Inês, Mariana Alcoforado, Nuno Álvares Pereira derrotando Castelhanos em Aljubarrota; a crença num rei salvador oculto; a transmutação paraclética [em nome do, devida ao Espírito Santo] do mundo, inspiradora de todas as descobertas, cujo objectivo era conhecer o reino de Preste João, influenciada pela instituição do culto do Espírito Santo e pela rainha Santa Isabel.