Sumários
Recomeço após interrupção forçada
23 Março 2020, 10:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
MARÇO 2a FEIRA 8ª AULA
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Retomámos as nossas aulas na 4ª feira, dia 26. Desta vez por Skype.
A nossa actividade on-line considerou três momentos distintos.
1. Interessou-me conhecer a realidade que marca actualmente a vida das alunas, todas elas estrangeiras e provenientes de países da América do Sul. Apesar das dificuldades inerentes ao facto de que as habituais rotinas foram interrompidas de uma forma lapidar, verifiquei que todas as alunas têm consciência de que é preciso não perder o pé de cada dia e é necessário darmos relevo ao semestre em curso, facto que pode ajudar a que nos mantenhamos firmes até ao fim do mesmo.
Curiosamente o meio de contacto para os nossos encontros à distância foi referido por algumas das alunas presentes como pouco eficaz. O estar em presença em termos físicos proporciona um relacionamento mais produtivo e, obviamente, mais natural. Trata-se assim por ora de conseguir manter uma atitude colaborativa e disciplinada em benefício de todas.
2. Fizemos a seguir um balanço do que já havia sido realizado, considerando que os dois estímulos artísticos e de sociabilidade propostos (enigma a partir do templo de Om Kom no Egipto e Lambarena – Bach to Africa) surtiram um efeito de apelo à escrita, mas também o último deu origem a uma performance em aula.
Considerou-se ainda neste ponto a entrega de índices e propostas de teses de doutoramento (na actual fase) que foram por mim comentadas.
Existem elementos de avaliação embora ainda não suficientes.
3. Tinha sido lançada pelo aluno João Henriques (que hoje não participou por estar doente) a proposta de prosseguirmos com os laboratórios. Deixei à consideração de todos, e para a próxima sessão, uma resposta a este desafio que terá de ser adaptado em cada caso se, entretanto, for aceite.
4. Conversámos a seguir sobre a viabilidade do trabalho final a ser entregue para já na data combinada, isto é, a 15 de Maio. Em cada caso pede-se que os alunos escolham do índice de trabalho um pequeno núcleo no qual estejam a trabalhar e que a partir dele construam um texto (9.000 palavras) que possa dar conta da investigação em curso, da bibliografia utilizada e principalmente dos pontos de vista e sua articulação no corpo de escrita.
As várias fases deste trabalho final serão acompanhadas por mim a pedido dos alunos. Será para isso utilizado o e-mail como até aqui, sempre que se trate de produção escrita.
Marcámos nova reunião à distância para dia 1 de Abril pelas 16:00.
Até essa data deverão chegar-me pequenos contributos ainda em atraso.
Na primeira parte da aula farei referência a um artigo de opinião sobre a actual situação pandémica e planetária. O referido texto é do filósofo sul-coreano e alemão Byung-Chul Han e intitula-se «Não podemos deixar que o vírus fique com a razão» (tradução minha)
Tratando-se de um texto em língua alemã, farei um resumo alargado do seu conteúdo.
Penso que é importante não colocarmos a cabeça debaixo da asa e ao partirmos deste texto e da sua argumentação poderemos descobrir uma mais ampla compreensão do fenómeno que estamos a viver em quase total isolamento e ao mesmo tempo rodeados pelo sofrimento e dor de cerca de 8 biliões de pessoas.
Perguntar-me-ão o que tem este assunto a ver com o nosso seminário? E eu respondo assim: os vossos trabalhos de doutoramento, quaisquer que sejam as opções individuais, jamais poderão ignorar aquilo que estamos a viver.
Continuamos a trabalhar à distância
16 Março 2020, 10:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
Devido a indicações oficiais da Universidade de Lisboa encontramo-nos afastados das actividades lectivas presenciais.
O nosso trabalho prossegue à distância.
Apresentação de sessão de Improviso
9 Março 2020, 10:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
MARÇO 2ª FEIRA 6ª AULA
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Reunimo-nos pela última vez nesta manhã antes do fecho da Faculdade por período indeterminado, apesar de o dia 27 de Março ter sido apontado como meta provável para o reinício dos trabalhos. Antecipou-se assim o fecho do país por tempo indefinido como medida preventiva contra a COVID-19. Neste dia ainda não prevíamos a catástrofe que nos espera.
A aula de hoje constituiu um verdadeiro trabalho artístico-prático em que todos participámos.
Por sugestão de Luana Proença foi realizada pela própria aluna uma intervenção Impro a partir de faixas musicais do CD Lambarena – Bach to Africa. Sob a égide de “Aleatório”, designação que a artista utiliza em situação de improvisação e pedindo a colaboração dos espectadores com sugestões de músicas, ela improvisa e constrói movimento. No caso da nossa aula, ficámos a saber que a escolha a partir de uma única obra conjunta musical iria acontecer pela primeira vez. Cada um de nós escolheu uma faixa que Luana dançou em improviso.
A aluna preparou-se em casa e perante nós apareceu vestida com roupa confortável mas condizente em vários padrões de preto e branco. A escolha da roupa correspondeu ao seu gosto pessoal, muito a propósito, e certamente com leitura simbólica.
A sua intervenção foi sensível à complexidade das músicas e produziu em nós um efeito não “aleatório”. O desenho de movimento criado para cada música introduziu repetição em alguns momentos, muito provavelmente como construção interligada e respeitante à obra escolhida.
Discutimos no final das apresentações o trabalho de Luana Proença. Interroguei-me sobre o espaço do silêncio, da pausa que talvez as músicas propostas implicavam. Por exemplo, a ritualização de uma espiritualidade, de momentos de elevação que não consegui apurar no trabalho da artista, uma vez que toda a concepção deste Improviso tinha uma sequência dinâmica, envolvente e de grande
Esta foi uma aula especial. A apresentação de Luana Proença fez-nos pensar que poderíamos apostar em preparações criadas pelos alunos do Seminário e apresentadas perante todos na óptica do laboratório. A ideia veio de João Henriques e logo apoiada por todos. uma vez que toda a concepção de Improviso tinha uma sequência dinâmica
CD
Lambarena – Bach to Africa (1993)
Espace Afrique. D’aprés une idée originale de Mariella Berthéas
Atravessar continentes com música - Lambarena - Bach to Africa
2 Março 2020, 10:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
MARÇO 2ª FEIRA 5ª AULA
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Saídas de Campo ainda durante esta semana
GLIMPSE, concepção e performance de JOSEFA PEREIRA, dia 7 de Março, Galeria Quadrum, 19:30, duração de 45’.
ORÁCULO, concepção e coreografia de SARA ANJO e TERESA SILVA, dia 7 de Março, Teatro do Bairro Alto, 21:30, duração 60 ‘.
Duas semanas depois da última aula senti necessidade de aferir com os alunos o que estava a acontecer com as diversas propostas em andamento e no âmbito dos seus doutoramentos em preparação. Esperava receber material para leitura e pouco ou nada chegara.
Diversas foram as situações e por isso as detalho agora aqui.
Ouvimos João Henriques que manifestou a explícita vontade de se dedicar a questões metodológicas nesta fase da sua investigação. Mais do que a dedicação a aspectos teóricos relacionados com a voz e sua expressão artística, e já enunciado em documentação entregue, o aluno pretende abrir diversas possibilidades laboratoriais que lhe permitam fundamentar a importância da Direcção Vocal no «contexto teatral português contemporâneo.» A sua actividade artística e técnica de longa data neste âmbito fomenta o interesse em recolher informação a que dará tratamento adequado e aplicativo e que poderá ser discutida em aula.
Aguardamos de Cyntia Floriani a apresentação de uma lista bibliográfica actualizada relacionada com a sua investigação dedicada prioritariamente ao espectador cego de produções teatrais. Continuam a ser relevantes as suas exposições sobre a observação de situações concretas vivenciadas com o seu grupo de trabalho em situação de prática artística.
O mesmo pedido de informação e actualização de dados investigativos foi feito a Elsa Almeida, considerando que o índice apresentado pela aluna estará desactualizado em relação ao estado actual da sua investigação na área da dança clássica que é também o seu campo de exercício profissional.
Consuelo Toral tem como incumbência criar pensamento sistematizado a partir do vasto campo prático da sua experiência na área de formação de intérpretes para cena. É seu intento dedicar-se ao estudo da relação pedagógica com a criação, fenómeno que a ocupa há longo tempo. Aguarda-se documento estruturante como anteriormente pedido.
Karla Aguilar encontra-se em leituras de três obras mostradas em aula e que a aluna considera como um primeiro passo na área da reflexão teórica sobre corporalidade, o seu assunto de estudo. Aguarda-se a chegada de fichas de leitura sobre as obras exibidas para que com elas possamos discutir resultados da sua reflexão escrita. Um índice provisório sobre as ideias em gestação foi igualmente pedido. Finalmente Luana Proença, com vastíssima experiência no campo da Improvisação como género artístico deverá poder fornecer pequenos ensaios sobre as questões colocadas em documento prévio.
A todos deixo campo aberto para pequenos exercícios em aula sobre as suas investigações.
Para a aula de hoje reservei uma proposta auditiva como estimulação multissensorial, exercício de memória, cruzamento de culturas, experiências musicais e de canto entre repertório europeu e africano, homenagem a um filantropo.
Refiro-me a Lambarena – Bach to Africa, obra musical e de canto que reúne e intercepta partituras de Johann Sebastian Bach e música tradicional do Gabão, e que foi produzida em 1992 em Paris como projecto memorial a Albert Schweitzer, médico e melómano alemão (1875-1965) que viria a ser prémio Nobel da Paz em 1952, justamente por defender a ideia da “Irmandade das Nações”.
Porquê Gabão? Porque não outras regiões de África? A resposta é simples mas consistente. Albert Schweitzer e a sua mulher Hélène Bresslau decidiram em certa altura das suas vidas que as iriam dedicar a quem precisasse de ajuda médica e conforto na doença. O projecto de ambos nasce como resposta a um pedido urgente de clínicos na então colónia francesa do Gabão. É de Lambaréné que vem esse pedido que o casal Schweitzer de imediato abraça. Aí viriam a construir um hospital a custo próprio, hoje ainda em actividade e dedicado ao estudo das doenças tropicais. O hospital com o nome do médico filantropo nasce de um galinheiro, onde Schweitzer e a sua mulher improvisavam dia a dia a recepção para consulta e tratamento de cerca de 40 pacientes. Pela primeira vez em Lambaréné foi utilizado o éter como forma de adormecimento em doentes que precisavam de anestesia. Para estes o procedimento era conhecido como “pequena morte”, pois dela acordavam ao fim de algum tempo em pós-operatório.
Paralelamente a esta actividade, Schweitzer, que também era filósofo e teólogo, havia encetado muito cedo uma relação de amor com Bach. Exímio organista, aceita com entusiasmo a ideia do seu mestre Charles-Marie Widor de editar um estudo sobre o músico de Leipzig e a sua obra. Esse estudo foi publicado em 1905 com o título J. S. Bach: le musicien-poète. Na altura e de acordo com informação disponibilizada no livrinho que acompanha o CD do qual escutámos em aula algumas faixas, Albert Schweitzer distinguia a música de Bach «pelo seu carácter religioso e místico, comparando o poder expressivo da mesma ao das forças cósmicas do mundo natural.» (p. 3)
Não admira, portanto, que exactamente esta simbiose pudesse ser transposta para um território de abandono e miséria, com gente pobre e sem meios de subsistência que foi o que Schweitzer encontrou no final da primeira década do séc. XX em Lambaréné. Colocar na rua um gramofone e nele fazer escutar a música que tanto amava e conhecia era uma forma de dividir com outros alimento espiritual mas também oferecer um envolvimento do corpo tão caro à música de Bach. O retorno desta experiência vezes sem conta repetida porque os lambaranenses gostavam de ouvir Bach, acabou por promover uma relação de troca com o casal Schweitzer. A enorme gratidão pelo acompanhamento médico regular, pelos laços de amizade estabelecidos entre os autóctones e o médico-músico alemão tornaram-se reviventes com a edição de Lambarena - Bach to Africa. A história da produção deste album reforça uma relação antiga e amistosa na memória de já muito poucos sobreviventes de época, continuada porém em gerações actuais.
O que este projecto desenvolveu, e considerando que se trata de obra musical e coral da tradição europeia e gabanesa, ultrapassa o âmbito desse propósito na medida em que o que verdadeiramente conta é o implementar de dimensão fraterna entre povos e culturas que tornam universal o sentido de humanidade.
https://www.lematin.ch/suisse/docteur-albert-schweitzer-celebre-gabon/story/17726145
O que acabo de escrever era-me desconhecido ao tempo em que pela primeira vez escutei Lambarena – Bach to Africa.
Vivia então um tempo intenso e feliz rodeada de algumas dezenas de intérpretes (música, canto, dança, teatro) com quem preparava Noite e Som Amarelo de Wassily Kandinsky para o CCB.
Menciono esta experiência porque ela foi rampa de trabalho a partir de Lambarena.
A escuta do CD tornou-se uma alegria matinal e fechava o dia para que o sono fosse bom. Passei a dançar por toda a casa e a tentar o canto, nem sempre bem sucedido, porque as vozes infantis são isso mesmo e eu sou fumadora e adulta.
Escutava paralelamente ao CD, cantatas, A Paixão de São João, Prelúdios, Fugas, Gigas, tudo de Bach. De repente estava a descobrir um Bach que já era meu mas que não soara até então da mesma maneira. Neste encantamento que durou muito para além da estreia do espectáculo, ocorreu-me levar para os ensaios Lambarena. Não dei muitas explicações aos intérpretes de dança e teatro, quis apenas que escutassem as faixas do CD. O processo assim durou três dias. Ao quarto dia pedi que escolhessem uma única faixa e que a interpretassem. A princípio o exercício não correu bem porque a intercepção dos dois tipos de música lhes confundia o espírito. Diziam: «Bach não tem nada a ver com música do Gabão. São outros instrumentos, os ritmos também não se ajustam uns aos outros.» Esta era a resposta do bloqueio mental que impedia que recebessem Lambarena como obra sintéctica. Contei-lhes um pouco da história de vida de Albert Schweitzer e voltei a pedir que se concentrassem na música. Criaram pequenas coreografias, primeiro a medo mas depois com liberdade. O aproveitamento do que fizeramos nestes ensaios com Lambarena respondeu à diversidade de propostas dos textos de Kandinsky e não ao resultado final do que iriamos apresentar.
Engraçado foi ouvir alguns dos intérpretes a trautear faixas de Lambarena quando íamos à cantina do CCB jantar ou quando faziam aquecimento de voz (sem Director de Voz, claro) e movimento para os ensaios no espaço cénico.
No campo das experiências com Lambarena refiro ainda e num contexto de sensibilização à música clássica em recriações contemporâneas (Jacques Loussier, entre outros), a singularidade do CD que escutámos em conjunto, apresentado numa turma de licenciatura na cadeira de Teoria e Estética das Artes do Espectáculo.
A reacção dos alunos nasceu no primeiro momento em que se iniciou a audição do CD. Espanto, perplexidade e corpos sentados em movimento. Ao som de Sankanda/Lasset Uns Den Nicht Zerteilen (faixa 2) levantaram-se e começaram a dançar. Juntei-me a eles e assim seguiu a aula até ao fim. Saíamos às 20:00. Não houve perguntas sobre o que era aquilo. Enviaram alguns por e-mail poemas, curtos textos de alegria partilhada. Na aula seguinte conversámos sobre a experiência e voltámos a dançar juntos.
Continuo a dançar com este Bach e com os cantares do Gabão.
Endereço aconselhado
https://www.youtube.com/watch?v=EyNTCyPFFJA
CD
Lambarena – Bach to Africa (1993)
Espace Afrique. D’aprés une idée originale de Mariella Berthéas
Atravessando névoas e nebelinas
17 Fevereiro 2020, 10:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
FEVEREIRO 2ª FEIRA 4ªAULA
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O espaço da aula foi hoje reservado à escuta de diferentes questões colocadas por cada uma das doutorandas presentes, em relação à investigação e escrita que em fases muito distintas é preocupação dominante.
Verificou-se que a progressão de cada horizonte de trabalho, e exposto com toda a frontalidade, determinou diferentes sequências.
Expôs Cyntia Floriani aspectos relacionados com sensibilização e comprometimento institucional; investigação prática a partir da constituição de um grupo de trabalho permanente, exclusivamente com pessoas cegas, com as quais realiza experiências de assistência a espectáculos de teatro em estruturas artísticas (Teatro São Luiz e TDMII) com o objectivo de observar comportamentos e reacções dos elementos desse grupo e ao mesmo tempo estar atenta à receptividade institucional (funcionários do teatro) na aproximação aos elementos deste grupo, de cada vez que se trata de audio-descrição, reconhecimento do espaço e outros procedimentos afins. Este assunto produziu fértil discussão, nomeadamente no que diz respeito a serem os elementos deste grupo público ou não-publico. Tendo em conta esta divergência, a discussão alargou-se ao papel institucional efectivo de integração destas pessoas no espaço social e cultural. Interessante parece ser o modo como a doutoranda venha a encarar esta questão e outras semelhantes em nome de um posicionamento ético e verdadeiro.
A doutoranda está a iniciar leituras aconselhadas pelos seus orientadores em Novembro passado. Pedi-lhe que nos fornecesse lista bibliográfica actualizada.
Elsa Almeida trouxe-nos uma situação de trabalho artístico com os seus alunos na área da dança clássica e em função também do acompanhamento musical ao piano proposto para essas aulas. A doutoranda relatou e identificou um problema auditivo, provavelmente de natureza neuronal, em dois dos seus alunos. Foi-lhe sugerido que procurasse ajuda científica junto de investigadores de neurociência que pudessem seguir o caso. Da observação, e segundo Elsa Almeida, existia um desdobramento de movimento nestes dois rapazes que não era comum aos outros alunos. A audição musical, porventura desfasada, conduzia o exercício a realizar em direcção diferente e com ritmos e tempos diferentes. Tratando-se de um problema específico mas que integra o corpus do trabalho da doutoranda, na medida em que este também referencia fenómenos de desintegração dos alunos não só sociais mas também causados por outros motivos, chamou-se a atenção de Elsa Almeida para a importância da sua capacidade de atenção, face aos alunos com os quais trabalha, com o intuito de ao identificar problemas que lhe pareçam irresolúveis, o fazer com um espírito integrativo e de melhoramento das capacidades de cada um.
Pedi índice actual de trabalho e não índice constitutivo de trabalho de mestrado.
Consuelo Toral traz do seu país de origem (Equador) e de outras partes da América do Sul e também da Europa uma vontade profissional de criar invólucro para uma longa experiência prático-artística como forma de sistematização dessas experiências, de criação de pensamento autónomo, de sequenciação de respostas que possam ir além do que é revelado por pensadores canónicos. Identifica-se neste contexto a dificuldade de com clareza não só dar o salto de um domínio para o outro, ainda que com tudo muito bem apetrechado e pronto a alcançar os objectivos pretendidos.
Vou querer pôr “as mãos na massa” e começar a ler. Só assim sentirei que estou a ter acesso a algo que é importante mas cujo discurso e propósito permanece diluído em névoa.
Karla Aguilera tem investigação e prática pedagógica na área da corporalidade cénica, interrogando-se, por exemplo, sobre corpos formatados e seus efeitos na pessoa e socialmente. Defendeu já oralmente e por escrito a ideia do que pretende desenvolver como dissertação de doutoramento. Considero que a doutoranda ainda se encontra à procura de muita coisa, embora com conhecimento da matéria em estudo.
Faz actualmente leituras de obras que desconheço, e para as quais pedi uma ficha de leitura após conclusão do que delas tiver retirado.
Entre as obras que trouxe para a aula veio um título primoroso: Jacques Rancière, O Mestre Ignorante que a aluna irá ler. Vejo com agrado a presença desta obra no conjunto das referências apresentadas. Talvez seja possível equacionar os propósitos e objectivos do futuro trabalho de Karla Aguilera (também colombiana) a partir da revolucionária pedagogia de Rancière que nunca deixa de ser um acto político.
Aguardo a chegada do índice provisório de trabalho ainda não chegado.
Aulas previstas em Fevereiro – 4 |
Aulas dadas em Fevereiro – 4 |
Saídas culturais – 1 |