Sumários

Gregório Lopes e as correntes da pintura renascentista.

19 Outubro 2022, 09:30 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


        A idade de ouro da pintura nacional: o ciclo manuelino-joanino. Jorge Afonso e a Oficina Régia de Lisboa. Gregório Lopes e os ‘mestres de Ferreirim’. Vasco Fernandes, o Grão Vasco, entre o mito e a realidade. Oficinas regionais (Viseu, Viana do Castelo, Évora). O italianismo crescente: exercício científico e mental, da terceira dimensão à perspectiva e ao naturalismo das formas.

A escultura: Lisboa, Coimbra, Évora.

17 Outubro 2022, 09:30 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


      A escultura: a vinda de Nicolau de Chanterene em 1517 e a sua obra nos Jerónimos, em Sintra e em Évora. O escultor João de Ruão, a sua «escola», e o ciclo do calcário em Coimbra. Os barristas: Felipe Odarte. Francisco Loreto e os escultores franceses.

Correntes da Arquitectura renascentista em Portugal.

12 Outubro 2022, 09:30 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


    Arquitectura renascentista ‘ao italiano’: João de Castilho, Miguel de Arruda, Diogo de Torralva. Tomar, Évora, Coimbra, centros ‘ao romano’. O fascínio das ‘rovine’ e o culto da Antiguidade. Casos de novidade e de resistência na paisagem arquitectónica nacional.

A pintura da Oficina Régia e a obra do chamado Mestre da Lourinhã.

10 Outubro 2022, 09:30 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


O ambiente artístico desenvolvido no reinado de D. Manuel I revela uma grande dinâmica e um decisivo esforço de ‘aggiornamento’ face aos modelos renascentistas europeus, tanto flamengos como italianos. É no campo da pintura retabular que a arte portuguesa mostra originalidade na busca de repertórios e modelos o mais possível  ‘centralizados’, através de um regime laboral com supervisão régia e um trabalho organizado em «parcerias» e «companhias». O papel de Jorge Afonso à frente da Oficina Régia e o do nórdico Francisco Henriques e seus colaboradores, não esgota o panorama das grandes encomendas de regime, em que se destaca também o enigmático pintor que a historiografia tem apelidado de Mestre da Lourinhã e que actua ao serviço de D. Maria, segunda mulher do Venturoso, dos frades ieronimitas, e da Ordem Militar de São Tiago de Espada. O restauro recente do retábulo da Sé do Funchal permite que a obra deste mestre possa ser apreciada, agora, segundo novos e refrescantes indicadores críticos.

No campo da pintura de corte, que constitui um capítulo da arte portuguesa sob todos os pontos de vista brilhante, é notório o esforço de aggiornamento com modelos renascentistas europeus, tanto de origem flamenga como os de ressonância italiana, a par da definição de «estilemas» e «modos de fazer» que poderíamos considerar, de certa forma, como estilemas portugueses. Tratou-se de um tempo de prosperidade socio-económica e política, de grandioso desenvolvimento da construção, que incrementa a maior especialização dos pintores, em que se multiplicam as grandes encomendas na metrópole e mesmo para espaços ultramarinos (como Goa, Ormuz e Malaca), e em que vários são os artistas estrangeiros (Francisco Henriques e Frei Carlos) que demandam o país e se instalam em Lisboa, e também em Viseu, Coimbra e Évora (ou mesmo em Braga, Viana do Castelo e Tavira), com as suas oficinas, mercados fixos e espaços de actuação determinados. Esta grande pintura mostra sentido de originalidade na busca de soluções plásticas, repertórios e modelos, ainda que nas fontes artísticas seguidas dominem os modelos de Bruges e Antuérpia e as receitas iconográficas continuem a ser muitas vezes as das xilogravuras alemãs e flamengas.

A identificação da obra do Mestre da Lourinhã remonta a 1933, quando o historiador de arte Luís Reis-Santos encontrou em dependências da Misericórdia da Lourinhã as duas tábuas procedentes do mosteiro da Berlenga e as associou estilisticamente às do retábulo da Sé do Funchal, ao Pentecostes , à Profissão de Santa Paula e às do antigo retábulo de São Tiago de Palmela, expostas no Museu Nacional de Arte Antiga, e ainda ao São Jerónimo do Museu Soares dos Reis, considerando-os obra de um único e só mestre luso-flamengo de altíssima qualidade, que designou por Mestre da Lourinhã e do Funchal.O anónimo Mestre da Lourinhã actuou ao serviço de D. Maria, segunda mulher de D. Manuel, e da Ordem Militar de São Tiago, e deixou um rol de tábuas notabilíssimas, todas do mesmo estilo e da mesma ‘mão’, integradas em alguns dos ciclos retabulares referidos (Palmela, Funchal, Almeirim, Caldas). O restauro recente do retábulo da Sé do Funchal  (W.M.F.) permitiu, aliás, que a obra deste Mestre pudesse ser apreciada segundo novos e refrescantes indicadores críticos, explicando melhor esta ambiência laboral, sob todos os títulos notável, que foi a produção de pintura na corte lisboeta do tempo de D. Manuel I e no início do reinado de D. João III, em que o Mestre se destacou.

O mercado global da Lisboa quinhentista.

3 Outubro 2022, 09:30 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão


A Lisboa do século XVI tendeu a abandonar a imagem de cidade medieval, o seu urbanismo sinuoso ao longo de sete colinas e oseu carácter desalinhado, e assume-se como uma grandiosa metrópole da pimenta, uma rota comercial onde acorrem povos de todas as origens. Segundo a saudosa olisipógrafa Dra Irisalva Moita (Lisboa Quinhentista, CML, 1983), a multidão da «nações» concentrada na zona portuária (na Praça do Pelourinho e na Ribeira Velha) incluía «flamengos, castelhanos, galegos, andaluzes, alemães, florentinos, genoveses empregados nas artes da marinharia, nas operações cambiais e nos ofícios mecânicos, a par de escravos africanos, berberes, índios de diversas origens, e muitos indigentes… «uma mancha exótica constituída por negros da Guiné, semi-nus, andrajosos, índios, chineses, berberescos, lado a lado com regateiras brigonas e marítimos de linguagem afiada labutando em promiscuidade na zona da Ribeira das Naus, nas fundições, enfarruscados na fuligem das bigornas, o que dava ao local um aspecto de paisagem do outro mundo ou antro de Vulcano, como já a classificara Jerónimo Munzer no seu Itinerario de 1494».

No século XVI, a Rua Nova dos Mercadores, em Lisboa, era uma pequena babel. Aí moravam italianos, flamengos, andaluzes, portugueses, cristãos-novos, judeus estrangeiros, escravos vindos de vinte nações africanas, e escravos árabes. Faziam-se trocas comerciais. Esta realidade é trazida pelo livro The global city. On the streets of the Renaissance Lisbon (A Cidade Global . Nas Ruas da Lisboa Renascentista), obra das historiadoras Annemarie Jordan Gschwend, do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar, e Kate Lowe, da Universidade Queen Mary de Londres. A obra estuda dois quadros descobertos em 2009 numa mansão inglesa em Oxfordshire, de cª 1570-1620, obra de artista holandês. Vemos mais de uma centena de figuras que conversam, montam a cavalo, numa rua com uma fileira de edifícios. Há homens, mulheres, negros, brancos, cavalos, movimento e vestes apropriadas ao Outono ou ao Inverno. Lisboa tinha uma vasta população negra. O quadro mostra também os estrangeiros que ajudaram Lisboa a tornar-se uma grande cidade comercial. Também se mostram animais, um cão que abocanha uma ave, e um peru, ave que veio da América e que os portugueses tornaram numa ave global, levando-a para a Índia e outras partes do mundo.