Sumários

III. Sobre Conceito e Objecto - 2

29 Fevereiro 2024, 09:30 António José Teiga Zilhão


Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Conceito e Objecto (Ueber Begriff und Gegenstand) de 1892 - 2

X. c) Distinção sintáctica entre o caso de frases em que um conceito é predicado de um objecto e o caso de frases em que um conceito de primeira ordem cai sob um conceito de segunda ordem; no caso de frases nas quais se afirma que um conceito de primeira ordem cai sob um conceito de segunda ordem, o conceito de primeira ordem mantém, nessas mesmas frases, a sua natureza predicativa, apesar de, nelas, se estar a dizer algo acerca dele (como acontece no caso dos juízos universal ou existencialmente quantificados que substituem, na Lógica moderna, os juízos gerais da Lógica aristotélica); ora, no caso de frases do género 'O conceito tal e tal tem tal e tal propriedade', nas quais o termo 'O conceito tal e tal' ocorre no lugar do sujeito da predicação, isso não acontece: nestas frases, o termo 'O conceito tal e tal' poderia ser substituído por um qualquer nome próprio (e.g., 'Júlio César') sem que a frase perdesse sentido (tornando-se apenas falsa); já a substituição do termo 'O conceito tal e tal' por um termo geral no âmbito da mesma frase geraria um sem sentido; e sem sentidos surgem, tipicamente, quando se pretende predicar objectos de objectos, objectos de conceitos, conceitos de conceitos, ou conceitos de ordens superiores de objectos; d) Só a teoria da quantificação, introduzida pelo próprio Frege, na qual a universalidade e a existência surgem como conceitos de segunda ordem, permite dar conta de um modo consistente da razão pela qual a negação de uma proposição geral origina a sua contraditória e não a sua contrária; e) A sugestão atribuída por Frege a Kerry: ao arrepio das suas alegações ontológicas, a distinção entre conceito e objecto seria 
contextualmente dependente e não absoluta, uma vez que Frege aceitaria que um conceito e a sua extensão (a qual seria um objecto) seriam idênticos; assim, os casos de frases em que ocorreria uma problemática predicação de primeira ordem sobre um conceito poderiam ser interpretados como constituindo casos em que ocorreria uma não problemática predicação de primeira ordem sobre a extensão desse mesmo conceito; dada a identidade acima mencionada, não haveria qualquer diferença de conteúdo entre essas frases; f) A recusa de Frege em aceitar esta sugestão: i) a sua concepção de conceito é intensionalista; ii) em consonância com i), Frege afirma nunca ter defendido que um conceito poderia ser idêntico à sua extensão; g) Realce da importância do holismo e do princípio do contexto para dissipar confusões em torno da questão em apreço: um mesmo pensamento pode ser decomposto de múltiplos modos, dando origem a estruturas frásicas distintas; e um termo só pode ser identificado como um termo singular ou como um termo geral no âmbito de uma estrutura frásica particular (um modo particular de decompor um pensamento): neste sentido, assim como há frases nas quais ocorrem como termos gerais termos que, habitualmente, ocorrem como nomes próprios (como é o caso, e.g., do termo 'Viena' nas frases seguintes: 'Só há uma Viena' ou 'Trieste não é nenhuma Viena'), também há frases nas quais o fenómeno inverso acontece (i.e., nas quais termos, que temos tendência a entender como gerais, ocorrem como termos singulares, os quais referem objectos). h) Conclusão da argumentação: as considerações anteriores constituiriam evidência de que, nas frases apresentadas por Kerry, o termo 'O conceito tal e tal', ao contrário do sustentado por Kerry, não referiria, de facto, um conceito, mas sim um objecto (mesmo que esse objecto ocorresse, em tais frases, como representante de um conceito); logo, a tese da irredutibilidade ontológica conceito/objecto não seria realmente violada por Frege, e a posição de Kerry, de acordo com a qual essa distinção ontológica seria, na realidade, contextualmente dependente, seria, além de incorrecta, independente da posição proposta por Frege. XI. Distinção entre um conceito aparecer como uma propriedade de um objecto e um conceito aparecer como uma característica de um conceito mais complexo; distinção entre os usos distintos do verbo ser (predicação e subordinação ou inclusão) por meio dos quais cada um destes comportamentos de um conceito é expresso. XII. Segundo Frege, Kerry mostra-se incapaz de estabelecer três distinções essenciais, a saber: i) a distinção adequada entre os usos do verbo ser nos quais este surge como indicador de predicação e os usos do verbo ser nos quais este surge como indicador de subordinação ou inclusão; ii) a distinção entre sentido e denotação de uma expressão; iii) a distinção adequada entre os usos do verbo ser nos quais este surge como indicador de predicação e os usos do verbo ser nos quais este surge como indicador da relação de identidade. XIII. A irredutibilidade da insaturação: a proposta que pretende que os termos 'objecto' e 'conceito' nada mais significariam senão 'sujeito' e 'predicado' de uma frase não teria como dar conta da relação de predicação ela própria, uma vez que, para que um qualquer juízo seja possível, é sempre necessário pressupor a existência de uma entidade relacional insaturada que conecte entre si as partes que o compõem. XIV. Conclusão do ensaio: para ver claro no âmbito da Lógica é necessário nunca perder de vista os modos como a linguagem natural pode constituir um obstáculo à expressão da verdadeira estrutura do Pensamento. 

Gestão da Avaliação - 1

27 Fevereiro 2024, 12:30 António José Teiga Zilhão


Fixação dos temas e títulos dos ensaios finais. Elucidações metodológicas a respeito dos mesmos. Indicações bibliográficas relevantes.

III. Sobre Conceito e Objecto - 1

22 Fevereiro 2024, 09:30 António José Teiga Zilhão


Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Conceito e Objecto (Ueber Begriff und Gegenstand) de 1892 - 1

I. Distinção entre uso lógico e psicológico do termo 'conceito' e necessidade de não os confundir. II. O problema da definição: o uso de definições é necessariamente limitado - aquilo que é ontologicamente simples não pode ser definido, apenas pode ser apontado ou elucidado por meio de sugestões e descrições. III. Conceitos e objectos como simples ontológicos; enquanto simples ontológicos distintos uns dos outros, conceitos e objectos são indefiníveis e irredutíveis uns aos outros. IV. O problema da identificação dos simples ontológicos: estes não são dados imediatamente à experiência; aquilo que é dado imediatamente à experiência são sempre compostos; é necessário muito trabalho de análise e decomposição dos compostos dados à experiência para se conseguir identificar os simples que os integram. V. As duas teses fundamentais de Frege acerca de conceitos e objectos: i) O conceito tem uma natureza irredutivelmente predicativa; ii) Os objectos são irredutivelmente não predicativos. VI. As críticas gerais de Kerry às teses de Frege: i) a distinção entre conceito e objecto não seria ontologicamente irredutível, tendo antes uma validade meramente contextual; ii) o próprio Frege violaria nos seus escritos o princípio da irredutibilidade. VII. A resposta de Frege a Kerry: i) Apresentação de um conjunto de contra-exemplos aparentes à segunda das teses de Frege acima mencionadas: nestes contra-exemplos, nomes próprios aparecem à direita da cópula em juízos singulares ocupando o lugar que é aparentemente o do predicado (e.g., 'O dono de Bucéfalo é Alexandre Magno', etc.); ii) Demonstração de que estes contra-exemplos são apenas aparentes: o que, na realidade, os caracteriza é serem frases de identidade, nas quais ou dois termos singulares são feitos cair sob um mesmo predicado binário (x=y), o qual denota um único conceito relacional, ou um dos termos singulares é apenas parte constituinte de um predicado unário sob o qual é feito cair o outro termo singular (e.g., x=4) - um tal predicado unário denota então um conceito sob o qual apenas um único objecto cai; iii). Apresentação de um conjunto de contra-exemplos aparentes à primeira das teses de Frege acima mencionada: nestes contra-exemplos, termos gerais aparecem à esquerda da cópula no lugar que é aparentemente o do sujeito (e.g., 'Os homens são numerosos', etc.) em juízos que têm a aparência externa de juízos gerais universais afirmativos mas que são essencialmente distintos destes, uma vez que neles não se estabelece a inclusão de um dos conceitos no outro; poderia assim fazer sentido interpretá-los como juízos nos quais um dos conceitos (o conceito sujeito) ocuparia no juízo um lugar não predicativo; iv) Demonstração de que estes contra-exemplos são apenas aparentes: o que, na realidade, os caracteriza é serem juízos nos quais se faz cair um conceito de primeira ordem (e.g., ser um homem) sob um conceito de segunda ordem (e.g., ser satisfeito por um grande número de objectos); ora, estes juízos são essencialmente distintos de juízos nos quais se predica um conceito de um objecto. VIII. Apresentação dos contra-exemplos de B. Kerry às teses de Frege: estes consistem em frases nas quais um termo do género 'O conceito tal e tal' aparece no que parece ser o lugar do sujeito de uma predicação com sentido (e.g., 'O conceito cavalo é fácil de obter'; 'O conceito acerca do qual acabei de falar é singular'). IX. Resposta de Frege aos contra-exemplos de Kerry: em tais casos, o termo do género 'O conceito tal e tal' seria um termo singular que, de facto, referiria um objecto; mas esse objecto manter-se-ia essencialmente distinto do conceito (e.g., ser um cavalo) identificado por Kerry, mesmo que, numa tal frase, o representasse. X. Justificação da resposta de Frege: a) ela estaria de acordo com as marcas da objectualidade e da conceptualidade presentes na língua; no uso linguístico, os termos para objectos viriam associados ao artigo definido no singular, enquanto que os termos para conceitos viriam associados ao artigo indefinido; b) Análise de contra-exemplos à validade do apelo para estas marcas (e.g., 'O Turco cercou Viena'; 'O Cavalo é um quadrúpede') e sua elucidação como meramente aparentes: no primeiro caso 'O Turco' seria um termo singular que referiria um povo, i.e., um objecto colectivo, enquanto que no segundo caso estaríamos apenas perante uma variação estilística de um juízo universal afirmativo.

II. Sobre Sentido e Denotação - 4

20 Fevereiro 2024, 12:30 António José Teiga Zilhão


Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Sentido e Denotação (Ueber Sinn und Bedeutung) de 1892 - 4 

XIX) Determinação de se a denotação de uma oração subordinada condicional no contexto de uma frase condicional complexa é sempre constituída por um valor de verdade. Divisão desta determinação na análise de dois sub-casos distintos. Sub-caso A): O caso das frases condicionais que não contêm qualquer termo singular determinado. Neste caso, estas frases têm como função exprimir generalidade (por exemplo, nómica) e apenas a frase no seu todo exprime um pensamento, não o fazendo as orações constituintes; estas orações têm então apenas denotação indirecta, não denotando por isso quaisquer valores de verdade; há que notar, a este respeito, que muitas frases de aparência gramatical substantiva ou adjectiva são, na realidade, frases condicionais usadas para exprimir generalidade. Sub-caso B): O caso das frases condicionais nas quais ambas as orações constituintes, subordinante e subordinada, contêm um termo singular determinado. Neste caso, estas frases são frases condicionais genuínas e ambas as orações que as compõem exprimem pensamentos completos; ambas as orações denotam então valores de verdade e o valor de verdade da frase condicional completa obtém-se por composição vero-funcional a partir dos valores de verdade das orações constituintes. XX) Determinação da questão acima no caso das orações subordinadas conjuntivas e de alguns tipos de orações subordinadas concessivas: nestes casos, as orações subordinadas têm um pensamento completo como sentido; elas denotam, por isso, um valor de verdade; também aqui o valor de verdade da frase completa se obtém por composição vero-funcional a partir dos valores de verdade das orações constituintes. XXI) Distinção entre sentido e tonalidade de uma frase. XXII) Análise de alguns casos de difícil decisão: estes são ou i) aqueles casos nos quais, além do pensamento que prima facie exprimem, as orações subordinadas estão também associadas a pensamentos colaterais, não sendo claro se estes fazem ou não parte do sentido da frase completa ou ii) aqueles casos nos quais as orações subordinadas desempenham, em simultâneo, dois papéis semânticos, estando, nomeadamente, associadas a duas denotações, uma directa (um valor de verdade) e outra indirecta (um pensamento). XXIII) Análise dos casos das orações subordinadas de causalidade: as frases complexas nas quais a oração subordinante e a oração subordinada estabelecem um nexo de causalidade devem ser consideradas como entimemas, i,e., como argumentos nos quais uma das premissas - tipicamente, a premissa universal de carácter nómico - está subentendida mas não formulada; nestes casos tão-pouco é possível considerar que as orações subordinante e subordinada denotam, cada uma delas, um valor de verdade. XXIV) Conclusão do ensaio SSeD: esta constitui uma recapitulação da solução de Frege para o enigma da identidade, i.e., da tese de que, no estabelecimento de uma relação de identidade do género 'a=b', apesar de ser condição da verdade da frase que exprime a identidade que os termos partilhem a mesma denotação, estes não deixam, por isso, de diferir no seu sentido; esta diferença de sentido permite, por sua vez, explicar por que é que o estabelecimento de uma identidade pode conter um valor cognitivo genuíno e fecundo. 

II. Sobre Sentido e Denotação - 3

15 Fevereiro 2024, 09:30 António José Teiga Zilhão


Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Sentido e Denotação (Ueber Sinn und Bedeutung) de 1892 - 3

XVI. C) Extensão da análise anterior ao caso das orações adverbiais finais e imperativas, i.e, inclusão destas no mesmo âmbito do das orações substantivas que ocorrem no âmbito de uma frase complexa de atribuição de atitude proposicional. Assim, as primeiras denotam pensamentos, nomeadamente, aqueles pensamentos que constituem o sentido da oração subordinada quando esta ocorre como uma frase independente; já as segundas denotam ordens, uma vez que uma frase imperativa não tem um conteúdo declarativo, não podendo por isso ser verdadeira ou falsa. D) Análise do caso das orações subordinadas substantivas relativas; na realidade, estas frases desempenham o papel de uma descrição definida, a qual é um termo singular; nestes casos, a denotação dessa oração subordinada é então o objecto ou indivíduo cujo nome próprio, ou cuja descrição definida, o pronome relativo substitui e o seu sentido é apenas parte de um pensamento (i.e., é um modo de apresentação) e não um pensamento completo. E) Análise do caso das orações subordinadas adjectivas; na realidade, estas frases desempenham o papel de um termo conceptual sendo, portanto, a sua denotação um conceito. XVII) A tese, característica da Lógica clássica, de que, no âmbito dos usos cognitivos do discurso, o uso correcto de um nome próprio pressupõe que o mesmo tenha que ter uma denotação. Em acordo com esta tese, Frege defende, ao contrário de Russell, que uma descrição definida não contém qualquer frase existencial escondida; utilizar uma descrição definida sem denotação numa frase seria, na realidade, violar uma regra de sintaxe lógica; deste modo, uma tal frase seria, na realidade, uma 'fórmula mal formada' da linguagem. Deste ponto de vista, não se põe, para Frege, a questão de saber nem qual seria o sentido de uma tal frase, nem qual seria o sentido da sua negação. XVIII) Análise do caso das orações subordinadas adverbiais de tempo e lugar como um sub-caso das orações substantivas anteriormente analisadas em que as mesmas se comportam como termos singulares e têm, por isso, por denotação um objecto; caracterização lógica concomitante de instantes ou durações temporais e de lugares ou porções do espaço como objectos.