Sumários

Not Taught.

16 Março 2020, 13:00 Adriana Veríssimo Serrão

Caros Alunos

Desejando que se encontrem todos bem e que continuem a estudar normalmente, envio indicações sobre as nossas aulas. O plano que estabeleço é mesmo para seguir. As leituras referidas servirão de base às aulas (quando puderem ser retomadas). É importante que, além de lerem, escrevam apontamentos ou resumos.

Da mensagem do director da FLUL”: A vida da Faculdade não acaba. Enquanto durarem estas restrições, os professores da Faculdade 

(ix) Deverão manter os seus alunos informados do trabalho autónomo requerido até ao fim do semestre. (x) Deverão lançar os sumários com a matéria indicada para cada dia, indicando que não houve contacto presencial com os alunos nesse dia. (xi) Poderão continuar, ou começar, a gravar, transmitir ou apresentar aulas online. (xii) Poderão requerer elementos de avaliação não-presenciais não previstos no início do semestre.”

No próximo sumário,  envio-vos os temas e instruções para o teste já agendado.

Irei também reorganizar os elementos de avaliação.

 


LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA

10 Março 2020, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

Caros Alunos

Peço-vos que estejais atentos ao Fénix, onde colocarei sumários e mensagens sobre o plano das aulas que não serão leccionadas presencialmente.

Estarei – se autorizado - terças e quintas-feiras no horário das aulas.

 

10 de Março (aula lecionada)

LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA

As categorias estruturantes poièsis – mimèsis – katharsis

I. A Poièsis entre as actividades humanas fundamentais

Poética: Technè poiètikè - Uma produção com technè (conhecimento)

Distinção das actividades: theôria / poièsis / praxis:

Metafísica A 2, 982b;

E 1, 1025b 18: Dado que também a ciência da natureza  (physis)encontra-se circunscrita a um gênero do ente (pois se circunscreve ao tipo de essência em que o princípio de movimento e repouso está nela mesma), é evidente que ela não é nem ciência prática, nem ciência produtiva (pois o princípio daquilo que é suscetível de ser produzido está no produtor (inteligência, ou técnica, ou alguma capacidade), e o princípio daquilo que é suscetível de ser feito está no agente ( a escolha); de fato, uma mesma coisa é suscetível de escolha e suscetível de ser feita); conseqüentemente, se todo conhecimento racional é ou prático, ou produtivo, ou teórico, a ciência da natureza há de ser teórica, mas teórica a respeito de um ente tal que é capaz de mover-se, e apenas a respeito do tipo de essência que é conforme à definição no mais das vezes, e que não é separada. (Tradução de Lucas Angioni).

 

2. A articulação entre poiesis e mimèsis

 Poética, 4: causas naturais da imitação

Poética, 1: meios, modos e objecto da imitação

A technè como imitação da natureza (physis): diferença e ligação entre o ser natural e a obra humana.

 

17 Março

Ler a Poética segundo o esquema que se segue.

Ler  Sófocles, Édipo-Rei

Édipo Rei - Filme 1967 - AdoroCinema

www.adorocinema.com › Filmes em cartaz › Todos os filmes › Filmes de Drama

 Um filme de Pier Paolo Pasolini com Pier Paolo Pasolini, Franco Citti, Alida ... Baseado na tragédia clássica de Sófocles, Édipo (Franco Citti), ...

 

 

Estrutura geral da Poética

Caps. 1-3: arte poética e mimèsis

·         Meios (por meio de quê): ritmo/ metro/ palavras / canto: imitação poética

cores /sons /figuras: imitação não poética

·         Objecto (o quê): acções: de homens bons ou maus: tragédia e epopeia / comédia

·         Modo (como): narração (epopeia) ou drama (tragédia e comédia)

 

*Cap. 4: Causas naturais da imitação; fonte de conhecimentos / e prazer

(prazer do reconhecimento # prazer imediato, sensitivo/ agradável

Arte como imitação da natureza (physis), Física II, 2, 194a 21;

II, 8, 199a 15: “a technè termina (realiza) o que a natureza não pôde levar a cabo”.

Mimèsis como processo, transposição para o plano da arte

Caps. 4-5: comparação dos géneros (comédia/epopeia/ tragédia)

 

 

Caps. 6-18: a poièsis trágica

 

1449b 20 e ss.

* Cap. 6: definição de tragédia, os elementos da composição

·         objecto: a história/mito/ enredo (muthos, pl. muthoi) / os caracteres (ethos, pl. ethè) / o pensamento (dianoia)

·          meios: a expressão, ou elocução (lexis) / música ou o canto (melopoiia)

·          modo: o espectáculo (opsis)

  

*Cap. 7: Exigências normativas /formais: a organicidade: completude, totalidade e extensão apropriada.

A beleza, dimensão e ordem/ analogia da obra com o ser vivo

 

sustasis = estruturação

 

* Cap. 8: a unidade da acção / história (crónica) e poesia: “expressa o universal”

*Cap. 9: a verosimilhança e a persuasão

 

Cap. 10: tragédia simples e tragédia complexa

*Cap.11: a inversão (metabolè), o golpe de teatro (peripeteia), o reconhecimento (anagnorisis), o efeito violento (pathos)

Cap. 12: as partes faladas: prólogo, episódios, êxodo; as partes cantadas (párodo, estásimo)

  

*Cap. 13-14: o efeito trágico, a catarse; as paixões ou emoções (pathos, pl. pathè) de temor (phobos) e compaixão (eleos); o prazer próprio da tragédia.

 

PROPOSTAS DA TURMA: libertação/atenuação … /compensação, projecção/ …

 a lógica própria

- função intelectual e ética:

- do prazer do reconhecimento à catarse como elevação (purificação/libertação/ sublimação)

 15: os caracteres: qualidade, conveniência, semelhança, constância

16: tipos de reconhecimento: signos distintivos, signos elaborados, memória, raciocínio, supresa

17: recapitulação: o esquema da tragédia

18: espécies de tragédia: complexa, de efeito violento, de caracteres, de espectáculo

 

Caps. 19-22: linguagem e pensamento / lexis e dianoia

19: pensamento (retórica), lexis (actor)

20: partes da lexis (elocução: elemento, sílaba, conjunção, nome, verbo, articulação, caso, enunciado

*21-22: Nome, metáfora e dizer poético

 

Caps. 23-24-26: epopeia e tragédia

23-24: relação entre tragédia e epopeia

26: superioridade da tragédia

*25: modalidades da mimèsis: ser (real), parecer (opinião), dever-ser (ideal)

 


A revelação da Beleza como Luz e o privilégio da Beleza

3 Março 2020, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

Questão: é preferível ser amante ou ser amado?

- A dialéctica do amante e do amado (discurso de Alcibíades sobre Sócrates), Banquete 215 a e ss.

 

 

 

 

 

Pode o desejo cessar / o amor acabar?

 

 

Qual a especificidade da Beleza?

 

BELO E BEM

 

- 250: a revelação da Beleza como Luz e o privilégio da Beleza

Fedro 250 b – 252:

“É certo que a Justiça, a Sabedoria, tudo o que há ainda de precioso para as almas não possuem nenhuma luminosidade nas imagens deste mundo […] Mas a Beleza era resplandecente, nesse tempo em que, unidos a um coração afortunado, esses tinham como espectáculo a beatífica visão […], Na sua realidade, ela resplandecia entre essas realidades […], Depois da nossa vinda até estas regiões, é ainda ela que nós alcançamos mediante aquele que é o mais brilhante dos sentidos, ela mesma brilhante com uma claridade superior […] De facto, a visão é a mais aguda das sensações que nos chegam por intermédio do corpo; mas o Pensamento (Nous), ela não o vê! Só a Beleza obteve esse privilégio de poder ser o que é mais evidente e cujo encanto é o mais amável.”

 

 

Pedro Carvalho:”Mas o Pensamento consegue pensar  a visão”.

República VI, 509 b-c: “Logo, para os objectos do conhecimento, dirás que não só a possibilidade de serem conhecidos lhes é proporcionada pelo Bem, como também é por ele que o ser e a essência lhes são adicionados, apesar de o Bem não ser uma essência, mas estar acima e para além da essência (ousia) pela sua dignidade e poder [potência/ dunamis].

 

 

Filebo 64 e: “A essência do Bem refugiou-se na natureza do Belo, porque a medida e a proporção realizam em toda a parte a beleza e a virtude.”

 

 

 

 


A fundamentação platónica: dialéctica do saber e dialéctica da Beleza

18 Fevereiro 2020, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

A Metafísica do Belo

 

A fundamentação platónica: dialéctica do saber e dialéctica da Beleza

Banquete (Symposion) (ou Do Amor): 198 ss (teoria filosófica de eros); 201 d-207 a (Sócrates e Diotima); 210 ss (dialéctica de eros); 215 a (dialéctica do amante e do amado)

 

 

 

- O elogio de Eros nos convivas – Fedro (mitologia), Pausânias (eros celeste e eros popular); Erixímaco (eros e as artes); Aristófanes (mito de Andrógino e as variedades do amor); Agaton (o mais belo dos deuses).

- A intervenção de Sócrates (do esclarecimento do conceito à teoria filosófica do amor.

Eros é um em si ou um relativo? Desejo de qualquer coisa.

- A aporia do desejo e da privação / e sua resolução: a revelação de Diotima: o nascimento de eros de Poros e Penia sob a égide de Afrodite

A natureza sintética e função mediadora.

A ligação de kalos e agathos (kalokagathia)

 

Amor-filósofo, a sabedoria do amor: desejo, posse e procriação

 A ascensão dialéctica do sensível ao inteligível ou a pedagogia pelo amor.

“um corpo, muitos corpos / virtude da alma, pensamentos

 

Da escala gradual à visão intuitiva (noesis) (210 e):

“não se vê uma imagem, mas a verdade” (212)

Graus/ degraus do ser = graus/ degraus da beleza

 

- A dialéctica do amante e do amado (discurso de Alcibíades)

 

 


PLATÃO: Uma teoria da arte : Ideia e Imagem

11 Fevereiro 2020, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

PLATÃO:

Uma teoria da arte e uma metafísica do Belo

 

1. O conceito platónico de arte (technè).

Um conhecimento aplicado, saber fazer, um fazer orientado por um saber. Distingue-se da epistèmè, saber teorético, puro, contemplativo, conhecimento intelectual das essências.

Capacidade comum a todos que possuem uma determinada technè, mas não capacidade individual: ex: tecelagem, marcenaria, governação, pilotagem, política ….

A interpretação da teoria platónica da arte tem de ser integrada nesta significação (=técnica, actividade baseada em conhecimentos e correctamente orientada para um fim), distinta da concepção moderna das belas-artes. Possui regras gerais; pode ser aprendida e ensinada.

 

… porque se a justa medida existe, as technai também existem, e se as artes existem, a medida existe também, mas se uma delas não existir, então não existirá nenhuma delas (Político 284c).

Com efeito, todos os produtos da technè participam de uma maneira qualquer da medida” (Político 284 e).

 

 São poesia, pintura, escultura, música, arquitectura…. technai ?

 

2. A concepção platónica da mimèsis.

República III (392a ss) e X (595 c e ss).

Sofista 219 a- 221 c; 232 b-235 c; 264 c.

 

Questão: São poesia, pintura, escultura technai? Possuem um modelo? Possuem logos?

2.1. No livro III da República (República III (392 a ss): análise dos modos do discurso poético:

·         diegesis (diegese) - “o poeta fala em seu nome e não procura fazer-nos crer que é um outro diferente dele que fala” /“ele introduz, quer os diversos discursos pronunciados, quer os acontecimentos intercalados entre os discursos”

·         mimèsis (mimese) – “esforça-se por nos dar a ilusão de que não é Homero que fala, mas sim o ancião, sacerdote de Apolo” / “quando ele pronuncia um discurso sob o nome de um outro, ele procura adequar a sua linguagem à de cada personagem à qual vai conceder a palavra”

·         Modos:

·         Diegético – narrativo (narrativa do poeta, o ditirambo)

·         Mimético – imitativo (tragédia e comédia)

·         Misto: epopeia

 

Condenação da poesia mimética:

“porque lhe são necessárias todas as harmonias, todos os ritmos, a fim de encontrar uma expressão apropriada, visto que ela comporta variações de toda a espécie”

 

 

“vamos admitir no nosso Estado os dois géneros? Vamos ficar apenas com a narrativa simples que imita a virtude”; “a excelência do discurso, da graça e do ritmo provêm da simplicidade da alma […] dessa simplicidade verdadeira de um carácter onde se aliam a verdade e a beleza”

398 a

 

 

 

 

Continuação do tema na República X

 

A hierarquia das technai

segundo o duplo critério da mimèsis o bom modelo e a boa imitação.

 

 

 

No livro X (República 595 c e ss): Exemplificação dos graus do ser

 

 

Ideia

 (inteligível, una)

“no que diz respeito à Ideia não existe nenhum artífice que a possa executar”

 

Entes sensíveis

múltiplos, particulares, mas referidos ao modelo, como produções múltiplas (da unidade).

O artesão “fixa os seus olhos na Ideia para fazer, a partir dela, as camas, as mesas e os objectos de que nos servimos” (technè)

 

 

Imagens

 (eidolon, pl: eidola)

Coisas aparentes (phainomena) mas sem qualquer verdade (aletheia)

“este mesmo artesão não tem apenas o talento de fazer todos os móveis,

mas ainda todas as plantas e modela todos os seres vivos e a si mesmo; faz a terra, o céu, os deuses, tudo o que existe no céu e tudo o que existe na terra…”

 

 

Pergunta:

“imita as coisas como são ou como parecem? (598a)

- alteração do ângulo de visão, multiplicação das perspectivas,

diferenças de estilo, produção de irrealidades (phantasma/ pl: phantasmata)

“os poetas só criam phantasmata e não entes (to onta)”

 

 

 

“Mas vê agora que nome dás ao artesão que te vou dizer […], que faz todas as coisas que os diversos artesãos fazem cada um no seu género”.

 

Analogia com o espelho: Pintor

 

 

 

Ser (inteligível)

Aparecer (sensível)

Parecer – sombras / imagem

 

 

 

O primado da filosofia (pensamento) sobre a poesia e pintura (produções de imagem)

 

Livro III: critério pedagógico e moral; critério político

Livro X: fundamentação ontológica

 

 

 

 

A mimèsis em O Sofista

219 a - 221 c

 technai → da aquisição →troca / captura →caça

     → da produção (poiètikè)

 

 

264 c- 268d

artes da produção (poiètikè)→ produção divina → realidade (mundo)

                        → imagens (sonhos)

              → produção humana → realidade (coisas, entes)

                        → imagens (eidolon / pl. eidola)

 

232 b-235 c

produção humana de imagens (arte mimética)

               → cópia (eicastikè technè). icástica

               → simulacro (phantastikè technè)

 

Cópia: eikôn (ícone)

Simulacro (phantasma)

 

 

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-- São as produções de imagem technai?

 

-- Technai da medida: - astronomia, arquitectura, música, geometria

 

 

Leituras complementares

 

Walter Benjamin, A obra de arte na era da sua reproductibilidade técnica (1936) “aura”

Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação (1981)

José Saramago, A Caverna (2000)

 

 

 

 

 

 

Obras de carácter geral e introdutório

France Farago, L'art, Paris, Armand Colin, 1998, trad, port. A Arte, Porto, Porto Editora, 2002.

Raymond Bayer, Histoire de l'Esthétique, Paris, Armand Colin, 1961, trad. port. História da Estética, Lisboa, Ed. 70, diversas edições.

David Cooper (ed.), A Companion to Aesthetics. Oxford/Cambridge (USA), Blackwell, 1996.

Dizionario di estetica. A cura di Gianni Carchia e Paolo d’Angelo, Roma-Bari, La­terza, 1999, há trad. port.: Dicionário de Estética.

Jean Lacoste, La Philosophie de l'art, Paris, PUF, 1981

 

Sobre Platão

Pierre‑Maxime Schuhl, Platon et l'art de son temps, Paris, F. Alcan, 1933 / Platão E A Arte De Seu Tempo, Lisboa, Almedina.

Léon Robin, La théorie platonicienne de l'amour. / A teoria platónica do amor/ Paris, PUF, 1964.

Erwin Panofsky, Idea. Ein Beitrag zur Begriffsgeschichte der älteren Kunsttheorie. Berlin, W. Volker Spiess, 1985, 5ª ed; trad. franc.; Idea. Contribution à l'histoire du con­cept de l'ancienne théorie de l'art. Paris, Gallimard, 1983 / Idea a Concept in Art Theory; múltiplas traduções.

José Pedro Serra, Pensar o Trágico. Categorias da Tragédia Grega, Lisboa, Gulbenkian, 2006.