Sumários

KANT A EXPERIÊNCIA SENSÍVEL E SENTIMENTAL DO MUNDO

25 Abril 2016, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

 KANT

A EXPERIÊNCIA SENSÍVEL E SENTIMENTAL DO MUNDO

A DESCOBERTA DA SUBJECTIVIDADE ESTÉTICA

 

A. Esclarecimento do conceito de estética

 

A crítica a Baumgarten (à Estética como ciência da sensibilidade)

 

Os alemães são os únicos que se servem actualmente da palavra estética para de­sig­nar o que outros denominam crítica do gosto. Esta denominação tem por fun­da­men­to uma esperança ma­lo­grada do excelente analista Baumgarten, que tentou sub­­­me­­ter a prin­cí­pios racionais a apreciação crítica do belo, elevando as suas re­gras à dig­ni­dade de uma ciência. Mas es­se esforço foi vão. Tais regras ou cri­térios, com efeito, são ape­nas empíri­cos quanto às suas fontes (principais) e nunca po­dem ser­­vir co­mo leis de­­­ter­minadas a priori pelas quais o nosso juízo de gosto se de­ves­se guiar; é antes este último que consti­tui a ge­nuí­na pedra de toque da exac­tidão das regras. (KrV A31).

 

“estética” na Crítica da Razão Pura, 1781

 

A capacidade (Fähigkeit) de receber (receptividade) representações graças à maneira como somos afectados pelos objectos chama‑se sensibilidade. (KrV, A 19).

Designo por estética transcendental uma ciência de todos os princípios da sen­si­bi­li­dade a priori. Tem de haver, pois, uma tal ciência, que constitui a primeira parte da teo­­­­­ria trans­cendental dos elementos, em contraposição à que contém os prin­cí­pios do co­­­­­­­­nhe­cimento puro e que se denominará lógica transcendental. (KrV, A 21; B 35‑36).

 

“estética” na Crítica da Fa­cul­dade do Juízo, 1790

 ... compreendemos pelo termo sensação uma representação objectiva dos sen­­­tidos; e para não corrermos sempre o risco de sermos mal compreendidos, de­sig­na­remos pelo termo, aliás já comum, de sentimento aquilo que tem de per­ma­ne­cer sem­pre me­ra­­mente sub­jectivo e não pode de modo algum constituir uma re­pre­sen­­­­ta­ção de um ob­­jecto. ( KU, §3).

 

À crítica deste poder relativamente à primeira espécie de juízos [estéticos] não cha­­­­ma­­remos Estética (como que: teoria dos sentidos), mas crítica da faculdade de jul­gar es­té­­tica .... (KU, Primeira Introdução, XI).

  

B. Uma analítica do juízo de gosto puro / a estrutura da Analítica do Belo

O modo estético do sentimento

O sentimento é o “modo como o sujeito se sente afectado pela repre­sen­tação” (§1).  


Aliança (síntese) entre sentimento e juízo

 

Para distinguir se algo é belo ou não, nós não referimos a representação ao ob­jecto por meio do entendimento, tendo em vista o conhecimento, mas referimo‑la por meio da ima­gi­nação (talvez ligada ao entendimento) ao sujeito e ao sen­timento de pra­­­zer e des­­­­­prazer deste. O juízo de gosto não é, portanto, um juízo de co­­nhe­ci­mento; por con­se­­quência, não é lógico, mas estético, pelo qual entendemos aquilo cu­jo fun­da­mento de de­ter­mi­na­ção não pode ser senão sub­jectivo. (KU, §1).

 

Faculdade de julgar e sentimento no sistema das faculdades (Introdução, IX).

 

Conjunto das facul­da­des do ânimo

Faculdades de

co­nhecer

Princípios

a priori

Aplicação a

Faculdade de conhecer

Entendimento

Conformidade a leis

Natureza

Sentimento de prazer e desprazer

Faculdade de julgar

Conformidade a fins

Arte

Faculdade de desejar

Razão

Fim final

Liberdade

 

- Distinção entre juízo determinante e reflexionante (Introdução IV)

 

 

- Liberdade e desinteresse / O momento da qualidade: distinção de belo, agradável, bom e útil:

 

Vê‑se facilmente que para dizer belo um objecto […] o que importa é o que eu descubro em mim em relação a essa representação e não aquilo pelo qual dependo da existência do objecto. (KU, §3).

 

- Uma fenomenologia da experiência estética:

 

Contemplação, prazer e juízo (reflexionante). (Introdução IV)

 

A forma como condição do objecto  (§14)

 

 Leitura fundamental


Leonel Ribeiro dos Santos, “A Concepção Kantiana Da Experiência Estética: Novidades, Tensões E Equilíbrios”, in Idem, Regresso a Kant. Ética, Estética, Filosofia Política. Lisboa: INCM, 2012, pp.301-348.

 

Outras leituras

 

Leonel Ribeiro dos Santos, A razão sensível. Estudos kantianos. Lisboa, Colibri, 1994 (“O es­­­­tatuto da sensibilidade no pensamento kantiano”; “Lógica e poética do pensamento sensível; “Sen­timento do sublime e vivência moral”).

— "Kant e o regresso à Natureza como paradigma estético", in Cristina Beckert (coord.), Natureza e Ambiente. Representações na cultura portuguesa. Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2001.

— "Kant e a ideia de uma poética da natureza", Philosophica 29 (2007), 19-33.

Adriana V. Serrão, A razão estética. O conceito de alargamento do pensar na Crítica da Faculdade de Julgar de Kant (diss. Mestrado, FLUL), 1985.

Pensar a Sensibilidade: Baumgarten – Kant – Feuerbach, Lisboa, Centro de Filosofia da UL, 2007.

Manuel José do Carmo Ferreira, "O prazer como expressão do absoluto em Kant. No 2.º cen­te­nário da Crítica do Juízo", in Pensar a Cultura Portuguesa. Homenagem ao Prof. Doutor Fran­cis­co da Gama Caeiro, Ed. Colibri/ Dep. Filosofia da FLUL, 1993, 391‑402.

 

 

 

 


O PROBLEMA DO JUÍZO ESTÉTICO SEGUNDO KANT

18 Abril 2016, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

Aula leccionada pelo Prof. Doutor Leonel Ribeiro dos Santos.

ANTOLOGIA DE TEXTOS distribuída na aula.



I. A VIRAGEM SUBJECTIVISTA DA ESTÉTICA

11 Abril 2016, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

 

I. A VIRAGEM SUBJECTIVISTA DA ESTÉTICA

 

1. SENTIMENTO INDIVIDUAL E NORMA DO GOSTO EM DAVID HUME (Of the Standard of Taste, 1757).

Essays and Treatises on several subjects in two volumes, ed. T.H. Green & T.H. Grose Lon­don, vol. 1, 1877; The Philosophical Works, ed. T.H. Green & T.H. Grose, 4 vols., London, 1882-1886.

 

Gosto e sentimento

O gosto não é uma propriedade das coisas, existe unicamente no espírito de quem a con­­­templa, e cada espírito percebe uma beleza diferente. Uma pessoa pode mesmo per­­ce­ber deformidade aí onde outra é sensível à beleza; e cada indivíduo de­veria estar de acordo com o seu próprio sentimento (sentiment), sem pretender re­gular o dos outros. (Of the Stan­dard of Taste; Es­says and Treatises, 245).

 ... todo o sentimento (sentiment) é real (real) e não tem uma referência a não ser a ele mesmo, quer se te­nha ou não consciência disso. (Ibid., 244).

 

A delicadeza da imaginação

Uma causa óbvia de que muitos não sintam o justo (proper) sentimento da beleza é a falta dessa delicadeza da imaginação, que é requerida para dotar a sensibilidade (sen­­si­b­ility) dessas finas emoções. (Ibid., 249).

 

“os princípios gerais do gosto”

Sucede que, no meio de toda a variedade e caprichos do gosto, há certos prin­cípios gerais de aprovação e de cen­sura, cuja influência um olhar atento pode de­tec­tar em to­das as operações do espírito. (Ibid., 248).

Os princípios gerais do gosto são uniformes na natureza humana... (Ibid., 260).

Embora seja certo que beleza e deformidade, mais ainda que doce e amargo, não são qualidades nos objectos, mas pertencem inteiramente ao sentimento, interno ou ex­­terno, deve reconhecer-se que há certas qualidades nos objectos que são dis­pos­tas (fitted) pela natureza a produzir estes sentimentos (feelings) particulares. (Ibid., 250).

 

O consenso dos críticos

Se bem que os princípios do gosto sejam universais e quase, senão inteiramente os mes­mos em todos os homens, todavia muito poucos homens estão qualificados pa­ra dar o seu juízo sobre uma obra de arte ou para estabelecer o seu próprio sen­ti­men­to como sendo o padrão da beleza. (Ibid., 257).

 

A norma (Standard) do gosto

... uma regra pela qual os sentimentos diversos dos homens possam ser re­con­ciliados ou pelo menos uma decisão, proposta, confirmando um sentimento ou con­de­nando outro. (Ibid., 244).

... um sentido (sense) forte, unido à delicadeza do sentimento, melhorado pelo exer­cí­cio (practice), aperfeiçoado pela comparação, e depurado de todo o pre­conceito, só ele pode conferir a um crítico este carácter apreciável; e o ve­re­dic­to conjunto de tais ho­mens [...] é a verdadeira norma do gosto e da beleza. (Ibid., 258).

  

2. SENTIMENTOS ESTÉTICOS E ANTROPOLOGIA EM EDMUND BURKE

A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beau­­­tiful (1757); ed. de David Womersley, com o título A Philosophical Enquiry into the Subli­me and Beautiful, London, Penguin, 2004 (contém a Introdução de 1759 "On Taste").

 A afecção das paixões

Belo e  sublime são ambos ideias (ideas) provocadas por qualidades das coisas, têm nelas a causa efi­­ciente. O belo por qualidades como a pequenez, a variação gradual, a de­­­li­­­­ca­­­deza, a cor, a graça, a elegância; o sublime por qua­­li­da­des, tais a gran­­­dio­si­dade, a obs­­­­curidade, a vastidão, a infinitude.... Não resultam de um raciocínio, mas de uma afecção das paixões, sem inter­ven­ção de processos intelectuais.

Não é pela força de uma atenção e de um exame prolongado que julgamos belo um ob­jecto; a beleza não requer nenhuma assistência do nosso raciocínio (rea­soning); e mes­mo a vontade lhe é indiferente; a presença da beleza desperta tão efi­­­­­caz­­mente em nós um certo grau de amor quanto a aplicação do gelo ou do fogo pro­­­­­­­duz as ideias de ca­lor ou de frio. (A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beau­­tiful, Parte III, II).

 

... a beleza consiste [...] numa qualidade dos corpos que age mecanicamente sobre o espírito humano, mediante a intervenção dos sentidos. (Enquiry, Parte III, XII).

 

... o gosto (Taste) [...] não é uma ideia simples, mas uma ideia composta, em parte de uma per­cepção dos prazeres primários dos sentidos e dos prazeres secundários da ima­­­gi­na­ção, e em parte dos veredictos da faculdade do juízo, no que concerne às vá­­rias re­­­lações dessas duas espécies de prazeres e no que diz respeito às paixões hu­­­­manas, aos costumes e às acções dos homens. São esses os elementos cons­ti­tuin­tes do gosto e o fundamento de todos eles é o mesmo no espírito humano, pois co­mo os sentidos são as grandes fontes das nossas ideias e, por conseguinte, de to­­dos os nossos prazeres, a base intei­ra do gosto é comum a todos os homens e exis­te, portanto, um fundamento sólido para um raciocínio irrefutável sobre essas ma­té­rias. (Enquiry, Introdução).

A duplicidade dos prazeres e das paixões

Aconselha‑nos, pois, o bom senso que se deva distinguir mediante algum outro no­me duas coisas de naturezas tão diversas, como um prazer (pleasure) que é sim­ples e sem ne­­nhuma relação com outro sentimento, daquele prazer cuja existência é sem­pre relativa e estreitamente vin­culada à dor (pain). Seria muito es­tranho se esses sen­­­timentos (affections), tão diferentes nas suas causas e de efeitos tão dife­rentes, de­­vessem ser con­­fundidos porque o uso vulgar os colocou sob uma mesma de­no­mi­nação genérica. Sempre que tiver oportunidade de falar sobre es­­se tipo de pra­zer re­lati­vo, chamo‑o de deleite (delight). [...] Tal como em­pregarei a palavra de­leite pa­ra in­­dicar a sen­sação (sen­sation) que acompanha a eli­minação da dor ou do pe­rigo; por­­­­tanto, quando me referir ao prazer positivo cha­má‑lo‑ei, na maioria das ve­zes, sim­­­­plesmente de prazer (plea­sure). (Enquiry, Parte I, IV).

 

O sublime, analogon delicioso do medo

Tudo o que seja de algum modo capaz de incitar as ideias de dor e de perigo, isto é, tudo o que seja de alguma maneira terrível (terrible), ou relacionado com objectos ter­ríveis ou que opera de modo semelhante ao terror (terror) constitui fonte de su­blime, isto é, produz a mais forte emoção (emotion) que o espírito é capaz de sentir. (Enquiry, Parte I, VII).

 

A paixão a que o grandioso e sublime na natureza dão origem quando essas causas actuam de modo mais poderoso, é assombro (Astonishment); assombro consiste no es­tado da alma no qual todos os seus movimentos se encontra sus­pensos, com um certo grau de horror (horror). (Enquiry, Parte II, 1).

 

  

II. A ESTÉTICA NA ESFERA DA RACIONALIDADE

 

1. BAUMGARTEN: A EMANCIPAÇÃO DO PENSAMENTO SENSÍVEL

 

 Uma lógica do conhecimento sensitivo, Aesthetica (1750‑1758)

Sunt ergo nohta cognoscenda facultate superiore objectum logices, aisqhta episthmhV aisqhtikhV sive aesthetica. (Meditationes phi­losophicae de nonnulis ad poema per­ti­nen­bus (1735), §116).

Se os inteligíveis conhecidos pela faculdade su­perior são ob­jecto da lógica, os sensíveis são objecto da ciência estética ou es­tética.

 

AESTHETICA (theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, ars pulchre cogi­tandi, ars ana­­logi rationis) est scientia cognitionis sensitivae. (Aesthetica, § 1).

A ESTÉTICA (teoria das ar­tes li­be­rais, gnosiologia inferior, arte de pensar com be­leza, arte do analogon da ra­zão) é a ciên­cia do conhecimento sensitivo.

 

Aesthetices fines est perfectio cognitionis sensitivae, qua talis. Haec autem est pul­chritudo. (Aesthetica, § 14).

A finalidade da Estética é a perfeição do conhecimento sen­sitivo en­quan­to tal. Ora es­ta é a be­leza.

 

. A sensibilidade como analogon rationis

 

Ad characterem felicis aestheticus generalem requiritur [...] Aesthetica naturalis connata [...], dispositio naturalis animae totius ad pulchre cogitandum, quacum nas­citur.

A característica geral do esteta feliz [...] deve compreender a estética natural inata [...], que é a disposição natural da alma inteira a pensar com beleza, disposição com a qual se nasce. (Aesthetica, §28).

 

 2. KANT. O SUJEITO ESTÉTICO E O SISTEMA DAS FACULDADES DO ÂNIMO

A crítica a Baumgarten (à Estética como ciência da sensibilidade)

Os alemães são os únicos que se servem actualmente da palavra estética para de­sig­nar o que outros denominam crítica do gosto. Esta denominação tem por fun­da­men­to uma esperança ma­lo­grada do excelente analista Baumgarten, que tentou sub­­­me­­ter a prin­cí­pios racionais a apreciação crítica do belo, elevando as suas re­gras à dig­ni­dade de uma ciência. Mas es­se esforço foi vão. Tais regras ou cri­térios, com efeito, são ape­nas empíri­cos quanto às suas fontes (principais) e nunca po­dem ser­­vir co­mo leis de­­­ter­minadas a priori pelas quais o nosso juízo de gosto se de­ves­se guiar; é antes este último que consti­tui a ge­nuí­na pedra de toque da exac­tidão das regras. (KrV A31). 1781

 

“estética” na Crítica da Razão Pura

A capacidade (Fähigkeit) de receber (receptividade) representações graças à maneira como somos afectados pelos objectos chama‑se sensibilidade. (KrV, A 19).

Designo por estética transcendental uma ciência de todos os princípios da sen­si­bi­li­dade a priori. Tem de haver, pois, uma tal ciência, que constitui a primeira parte da teo­­­­­ria trans­cendental dos elementos, em contraposição à que contém os prin­cí­pios do co­­­­­­­­nhe­cimento puro e que se denominará lógica transcendental. (KrV, A 21; B 35‑36).

 

“estética” na Crítica da fa­cul­dade do Juízo” 1790

 ... compreendemos pelo termo sensação uma representação objectiva dos sen­­­tidos; e para não corrermos sempre o risco de sermos mal compreendidos, de­sig­na­remos pelo termo, aliás já comum, de sentimento aquilo que tem de per­ma­ne­cer sem­pre me­ra­­mente sub­jectivo e não pode de modo algum constituir uma re­pre­sen­­­­ta­ção de um ob­­jecto. ( KU, §3).

 

À crítica deste poder relativamente à primeira espécie de juízos [estéticos] não cha­­­­ma­­remos Estética (como que: teoria dos sentidos), mas crítica da faculdade de jul­gar es­té­­tica .... (KU, Primeira Introdução, XI).

  

O modo estético do sentimento

 Vê‑se facilmente que para dizer belo um objecto […] o que importa é o que eu descubro em mim em relação a essa representação e não aquilo pelo qual dependo da existência do objecto. (KU, §3).

 O sentimento é o “modo como o sujeito se sente afectado pela repre­sen­tação” (§1).

 Para distinguir se algo é belo ou não, nós não referimos a representação ao ob­jecto por meio do entendimento, tendo em vista o conhecimento, mas referimo‑la por meio da ima­gi­nação (talvez ligada ao entendimento) ao sujeito e ao sen­timento de pra­­­zer e des­­­­­prazer deste. O juízo de gosto não é, portanto, um juízo de co­­nhe­ci­mento; por con­se­­quência, não é lógico, mas estético, pelo qual entendemos aquilo cu­jo fun­da­mento de de­ter­mi­na­ção não pode ser senão sub­jectivo. (KU, §1).

 

 


LINHAS INTERPRETATIVAS DA POÉTICA

4 Abril 2016, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão


Arte e Natureza

Technè como imitação e aperfeiçoamento do natural (Física II, 8)

Causas naturais da imitação (cap.4)

Analogia entre a obra e o ser vivo: tal como o natural, a arte segue um processo (energeia) que deve tender para o seu fim (telos) como realização completa (enteléqueia).

Compreensão da mimèsis em termos de processo diacrónico / do movimento (metabolè) que produz a obra como um ente singular determinado (ousia).

 Critérios formais / intrínsecos/ da obra / adequação entre forma e fim

Equivalência entre beleza e perfeição, ou concepção objectivista da beleza / a per-feição como acabamento, finita, completa.

  

Primado do critério do objecto

 a) primado do objecto (enredo (mythos), os caracteres (ethos, pl. ethè) e o pensamento (dianoia) sobre os meios ( expressão, ou elocução (lexis) / música, ou canto (melopoia) e sobre o modo (o espectáculo).

b) primado do enredo – homens em acção - sobre os caracteres e o pensamento (Cap.6).

 

Tragédia e teoria das causas

A obra é um composto (sunolon) de matéria e forma

Causa material: o objecto (enredo, caracteres e pensamento)

-- formal: regras da technè poética (para cada género)

-- eficiente: o poeta /mimèsis

-- final: prazer próprio da catarse (ouvinte/ espectador/ leitor)

  

Poética, Pedagogia e Ética

Cap. 4: prazer de aprender/ prazer de reconhecimento

Cap.25: ser, parecer, dever ser


 ---Teoria da metáfora (cap. 21-22): “bem metaforizar é ver (theorein) o semelhante” (1459ª 4-8)

1. - do género à espécie: o meu barco parou / o meu barco está ancorado

2. - da espécie ao género: Ulisses realizou dez mil façanhas / Ulisses realizou um grande número

3. da espécie à espécie dentro de um género comum: (tirar) :

Arrancando a vida com a brônzea espada

Cortando com o bronze indestrutível

 4.- por analogia

4.1. - quando falta o termo

4.2 - por negação ou privativa

 Leituras:

José Barata-Moura, Episteme. Perspectivas gregas sobre o saber, diss. doutoramento.

(Nietzsche, O nascimento da Tragédia: apolíneo e não dionisíaco;

 Freud, “Criação literária e o sonho acordado”; “Caracteres psicopatológicos sobre o palco”

  

Próxima aula - Introdução a Kant , Analítica do Belo e Analítica do Sublime

$$1-29

 


Como caracterizar a questão estética em Aristóteles?

28 Março 2016, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

 Como caracterizar a questão estética em Aristóteles?

Conceitos centrais: poièsis, mimèsis, catharsis

poièsis: sentido positivo da arte poética: saber que conduz à produção de um resultado / de uma obra que seja bela.

Processo que vai da potência ao acto (enteléquia)

Distinção das actividades: theôria / poièsis / praxis: Metafísica A 2, 982b; E 1, 1025b

 

Estrutura geral da Poética

Caps. 1-3: arte poética e mimèsis

  • Meios (por meio de quê): ritmo/ metro/ palavras / canto: imitação poética

    cores /sons /figuras: imitação não poética

  • Objecto (o quê): acções: de homens bons ou maus: tragédia e epopeia / comédia

  • Modo (como): narração (epopeia) ou drama (tragédia e comédia)

 

*Cap. 4: Causas naturais da imitação; fonte de conhecimentos / e prazer

(prazer do reconhecimento # prazer imediato, sensitivo/ agradável

Arte como imitação da natureza (physis), Física II, 2, 194a 21;

II, 8, 199a 15: “a technè termina (realiza) o que a natureza não pôde levar a cabo”.

Mimèsis como processo, transposição para o plano da arte

Caps. 4-5: comparação dos géneros (comédia/epopeia/ tragédia)

 

Caps. 6-18: a poièsis trágica

* Cap. 6: definição de tragédia, os elementos da composição

  • objecto: a história/mito/ enredo (muthos) / os caracteres (ethos, pl. ethè) / o pensamento (dianoia)

  •  meios: a expressão, ou elocução (lexis) / música ou o canto (melopoia)

  •  modo: o espectáculo (opsis)


*Cap. 7: Exigências normativas: a organicidade: completude, totalidade e extensão apropriada.

A beleza, dimensão e ordem/ analogia da obra com o ser vivo

* Cap. 8: a unidade da acção / História (crónica) e poesia: “expressa o universal”

*Cap. 9: a verosimilhança e a persuasão

Cap. 10: tragédia simples e tragédia complexa

*Cap.11: a inversão (metabolè), o golpe de teatro (peripeteia), o reconhecimento (anagnorisis), o efeito violento (pathos)

Cap. 12: as partes faladas: prólogo, episódios, êxodo; as partes cantadas (párodo, estásimo)

*Cap. 13-14: o efeito trágico, a catarse; as paixões ou emoções (pathos, pl. pathè) de temor (phobos) e compaixão (eleos); o prazer próprio da tragédia.

15: os caracteres: qualidade, conveniência, semelhança, constância

16: tipos de reconhecimento: signos distintivos, signos elaborados, memória, raciocínio, supresa

17: recapitulação: o esquema da tragédia

18: espécies de tragédia: complexa, de efeito violento, de caracteres, de espectáculo

  

Caps. 19-22: linguagem e pensamento / lexis e dianoia

19: pensamento (retórica), lexis (actor)

20: partes da lexis (elocução: elemento, sílaba, conjunção, nome, verbo, articulação, caso, enunciado

*21-22: Nome, metáfora e dizer poético

 Caps. 23-24-26: epopeia e tragédia

23-24: relação entre tragédia e epopeia

26: superioridade da tragédia

*25: modalidades da mimèsis: ser (real), parecer (opinião), dever-ser (ideal)