Sumários

Teste

28 Outubro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

Prova escrita presencial.


A crise do século VI a.C.

24 Outubro 2019, 10:00 Elisa Rosa Barbosa de Sousa

A desestruturação do mundo colonial fenício


A problemática da crise do século VI a.C.: causas internas e externas. Linhas de continuidade e de ruptura face à Idade do Ferro de cariz orientalizante.

A reestruturação durante a II Idade do Ferro e a emergência dos horizontes culturais regionais:

- Horizonte Ibérico

- Gadir e o Círculo do Estreito de Gibraltar

- Horizonte Turdetano

- A Extremadura espanhola: entre o pós-orientalizante e o horizonte celtizante.

- O território português: Algarve, Alentejo, a Fachada Atlântica e o Horizonte castrejo.


Tartesso: o conteúdo histórico e arqueológico de Tartesso

21 Outubro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

Na historiografia clássica, Tartesso esteve sempre entre o mito e a realidade. Mas continua ainda hoje a constituir um dos mais interessantes e debatidos temas da Proto-História peninsular. Sendo aspecto incontornável em qualquer programa de Arqueologia ou de História Antiga, incide-se aqui sobre ele, com detalhe.

 

Mas Tartesso é também uma construção da historiografia do romantismo alemão do século XIX e a abundante bibliografia produzida sobre a localização de Tartesso é abordada criticamente, desde Schulten até à actualidade.

 

Se é verdade que se pode dizer que Tartesso faz parte da História, também é certo que integra o mito. E o mito de Tartesso foi criado pelos autores gregos, com a participação activa de personagens oriundos da sua mitologia. A localização no Ocidente, e associado a Tartesso, do décimo trabalho de Hércules permite a apresentação da dinastia mítica que engloba Criasor, Gérion, Gargoris e Habis.

 

A variedade de interpretações sobre o conceito de Tartesso é grande, havendo quem defenda que se trata de uma entidade étnica, com os seus respectivos marcadores, enquanto outros negam mesmo a existência de uma unidade cultural englobada sob tal designação. As próprias balizas cronológicas de Tartesso não estão devidamente esclarecidas, não havendo consenso sobre se Tartesso existiu antes das colonizações fenícia e grega do Ocidente. A propósito da geografia tartéssica também não existe unanimidade: o Sudoeste da Península (Huelva, Cádiz, Sevilha); o Sudoeste, mais o Sudeste, o vale do Guadiana, o vale do Guadalquivir e mesmo a Estremadura portuguesa.

 

A associação do conceito a uma determinada cultura material, e a arquitecturas específicas, não é também tarefa fácil, atendendo, justamente, às indefinições atrás explicitadas. 

 

De qualquer modo, são referidos os sítios e os materiais que tradicionalmente se associaram a Tartesso. Carambolo e as suas cerâmicas, Huelva e a necrópole de La Joya, e Carmona são mostrados e comentados.


Fenícios em Portugal: os sítios e os materiais

17 Outubro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

A natureza dos lugares ditos orientalizantes, e a função que terão desempenhado num processo que se traduziu na exploração de recursos locais, não devem ser esquecidas, e o carácter exógeno de Abul é, hoje, inquestionável. A planta, as características dos aspectos construtivos e os materiais arqueológicos recuperados, para além, naturalmente, da própria implantação topográfica, não deixam qualquer dúvida sobre a origem dos construtores. Mas a sua funcionalidade é mais discutível e o plano arquitectónico, a existência de um altar, e as suas reduzidas dimensões, permitem pensar que se trata de um edifício religioso e não de uma feitoria, como foi proposto. 

 

Uma origem exógena pode ser igualmente defendida para Santa Olaia, ainda que, neste caso, os dados que sustentam esta proposta sejam mais escassos. Boa parte dos trabalhos de campo foi realizada nos inícios do século passado, e os mais recentes encontram-se, praticamente na totalidade, por publicar. Mas a descrição que Santos Rocha faz dos processos construtivos, o facto de se tratar de uma fundação ex novo e a implantação numa pequena ilha no meio do estuário são argumentos que pesam no momento de defender esta possibilidade. Depois, e à semelhança de Abul, o sítio é abandonado no final do século VI ou inícios do V a.n.e.

 

Conímbriga, no estuário do Mondego, Santarém, Lisboa e Almaraz, no estuário do Tejo, e Alcácer do Sal e Setúbal, no estuário do Sado, são, pelo contrário, vastos povoados, e na maior parte deles está comprovada uma ocupação do Bronze Final. Esta ocupação anterior, sempre mal definida arquitectonicamente, tem sido o argumento mais esgrimido na defesa do carácter autóctone destes sítios.

 

A presença de populações orientais no litoral, instaladas quer em sítios de características coloniais quer em bairros construídos no interior de povoados indígenas, contribuiu para a alteração dos modelos económicos, culturais e sociais pré-existentes. A adopção de novos hábitos de consumo, de novas tecnologias e de novos rituais funerários que esta presença implicou generaliza-se em grandes áreas do território do centro e do sul, que se vai «orientalizando» progressivamente. 

 

As influências orientais chegam ao interior, concretamente ao Alentejo, em momento um pouco mais tardio, mas parece claro que a rede de povoamento constituída por pequenos sítios de habitat, ou casais agrícolas, e respectivas necrópoles, conhecida na região de Ourique desde os anos 70 do século XX, e em Castro Verde, que pode datar-se do século VI a.n.e., não corresponde ao momento da chegada das influências mediterrâneas. Essas influências puderam ser rastreadas no Concelho do Redondo, em momento localizado na segunda metade do século VII, mas em sítio de características distintas dos «casais agrícolas», casais esses que agora se estendem também ao Alentejo Central. 

 

As necrópoles litorais, concretamente a do Senhor dos Mártires, em Alcácer do Sal, e a do Convento da Senhora da Graça em Tavira são ainda abordadas neste ponto, registando-se os rituais e a arquitectura funerária que são confrontados com os que foram identificados no interior alentejano, bem como com os que estão documentados nas áreas meridionais da Andaluzia, que foram também tocadas pela colonização fenícia.

  

Muito importante é, sem dúvida, a questão do uso da escrita, quer a que se designa por «do Sudoeste», quer pelos testemunhos de ostraca em Abul e Tavira. A estela funerária de Lisboa e o grafito também identificado na cidade merecem destaque.


Fenícios em Portugal: Contexto geral, geografia e cronologias

14 Outubro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

A presença fenícia em Portugal foi identificada já no século XIX, mas foi no decorrer dos anos 80 do século passado que o estudo sobre a chegada de populações orientais ao território actualmente português se desenvolveu consideravelmente. 

 

As escavações e as descobertas de materiais mediterrâneos quase triplicaram a partir de 1980, sendo hoje abundantes e variados os espólios e os vestígios arquitectónicos que podem ser estudados no contexto da Idade do Ferro do centro e do sul de Portugal. A tipologia e a cronologia da cerâmica, a arquitectura doméstica e funerária, as datações de 14C e, mesmo, a topografia dos sítios são elementos que servem para compreender as motivações das viagens de fenícios ao Extremo Ocidente. 

 

A repartição geográfica dos sítios arqueológicos onde a presença fenícia foi detectada evidencia o carácter eminentemente litoral do fenómeno da colonização em geral. 

O carácter indígena da maior parte dos sítios onde as presenças orientalizantes foram detectadas foi acentuado. Conímbriga, no Mondego, Almaraz, Lisboa e Santarém, no Tejo, Alcácer do Sal e Setúbal, no Sado, e Castro Marim e Tavira no Algarve oriental são sítios onde a ocupação remonta pelo menos ao Bronze final e nos inícios da Idade do Ferro as cerâmicas orientais são ainda percentualmente insignificantes. Somente Abul (no estuário do Sado) e Santa Olaia (na foz do Mondego) parecem corresponder a fundações fenícias. 


O primeiro conjunto inclui sítios de altura (Conímbriga, Santarém, Almaraz, Alcácer do Sal, Castro Marim, Tavira, Lisboa e Setúbal), bem visíveis na paisagem, com boas condições naturais de defesa e controlando grandes porções do território. Quase todos estão localizados em posições elevadas, dominando o curso dos rios, o que lhes permitia controlar o tráfego fluvial, e em alguns casos, as chegadas por via marítima. Os dados disponíveis confirmam que anteriormente aos estabelecimentos fundados ex nihilo, os fenícios frequentavam a costa portuguesa e tinham já contactos com os fenícios ocidentais. Mas é possível admitir que nesses sítios indígenas existiam bairros fenícios.

Não são apenas as tipologias cerâmicas que suportam as propostas cronológicas, mas existem também sequências radiocarbónicas que possibilitam admitir uma data em torno ao século VIII a.n.e. para os contactos iniciais. 

 

Os sítios de Abul e de Santa Olaia são fundados de raiz já no decorrer do século VII a.n.e.

Foram os dados que a radiometria proporcionou, associados a alguns materiais recolhidos em contextos seguros, que permitiram verificar que o estuário do Tejo foi a área mais precocemente visitada pelas populações orientais, o que mostra que o percurso dos navegadores fenícios não foi linear para montante, e que houve, logo de início, uma determinação em chegar a determinadas áreas, neste caso às localizadas no centro da fachada ocidental peninsular hoje portuguesa. 

 

O estuário do Tejo representa, aliás, uma área de grande densidade de povoamento orientalizante, materializada, num primeiro momento, pela ocupação de um sítio localizado no limite nordeste do estuário – Santarém. 

 

Tudo indica, também, que a região assiste a um processo de colonização interna a partir do século VI a.n.e. Mas, durante os séculos VII e VI a.n.e., Santarém permanece fortemente orientalizada e sítios como Lisboa e Almaraz, localizados na foz do estuário, estão já ocupados.