Sumários
Governar o Mediterrâneo como uma cidade: a quadratura do círculo.
22 Março 2018, 10:00 • Rodrigo Furtado
I. A sociedade romana e a República tardia.
1. Problemas financeiros ou como manter a elite de uma cidade num Império; os problemas internos das elites romanas;
2. O alargamento lento da cidadania em Itália e as ‘novas elites’;
3. A pressão das ‘novas elites’: a lex Sempronia (123 a.C.) – os requisitos de uma ‘nova ordem’: os Cavaleiros. O objectivo: uma revolução nos tribunais – os novos iudices.
4. O afluxo de escravos; revoltas de escravos.
II. A política romana e a sua impossibilidade
1. O desmoronar de um sistema de checks and balances:
i. ‘Quem combate não vota e quem vota não combate’: o fim da ‘cidadania antiga’?
ii. Para que serve ser cidadão fora de Roma? Uma classe de privilegiados locais, mas despolitizados em termos supra-locais;
2. Um problema de governabilidade: como pode um império ser governado como uma cidade?
3. O desunido mundo itálico: os aliados. Esforço militar e financeiro vs. ‘descompensação’ política.
Um império em crescimento: a necessidade de soldados.A Primeira Catilinária: os actores em presença. A ruptura das elites e a desagregação institucional.
19 Março 2018, 10:00 • Rodrigo Furtado
1. A conspiração de Catilina
1.1 Os problemas em presença:
1.1.1 O endividamento da nobilitas: uma vida política cada vez mais cara; os problemas do Império.
1.1.2 O problema das dívidas e da falta de terras. Como resolver? Comprar terras; fundar colónias em territórios ricos (o Oriente do Mediterrâneo e as conquistas de Pompeio); perdoar dívidas.
1.1.3 A eleição de 66: a ‘desclassificação’ dos vencedores (P. Autrónio Peto e P. Cornélio Sula) por ambitus!
1.1.4 A campanha de 64: uma campanha violenta
1.1.5 A campanha de 63: Catilina, D. Júnio Silano, L. Licínio Murena. Nova derrota.
1.1.6 Os tópicos da campanha de Catilina: perdão das dívidas.
1.1.7 A imagem de Catilina: acusação de corrupção; arruinado; tentar assassinar cônsules de 65; já desclassificado em 66 devido a má gestão na África, na sua propretura de 67.
1.1.8 A ruptura das elites e a desagregação institucional.
1.2 A Primeira Catilinária: 8 de Novembro de 63.
1.2.1 As cartas apreendidas: um plano de assassínio;
1.2.2 A revolta de um ex-centurião, C. Mânlio, no norte da Etrúria (fim de Outubro).
1.2.3 O senatusconsultum ultimum de fim de Outubro.
1.2.4 A tentativa de assassínio de Cícero (7 de Novembro)
1.2.5 A fuga de Catilina (8 de Novembro) – iria entrar em bancarrota a 13 de Nov.
1.2.6 Catilina põe-se à frente do exército de Mânlio.
2. Problemas.
2.1 Por que razão é que Cícero tem de falar?
2.2 De que é que Cícero procura persuadir o seu audotório?
a) Senado: de que Catilina é um inimigo público; a condenar Catilina (Cic. Cat. 1.1.1-1.4.10a).
b) Catilina: de que o Senado o acha um inimigo público; a fugir de Roma (Cic. Cat. 1.5.10b-1.10.27a);
c) Contrariar objecções (Cic. Cat. 1.11.27b-fim)
(Ler Cic. Cat. 1.1.1-2;1.4.10b; 1.5.12; 1.8.20; 1.9.23; 1.11.27-28; 1.12.30.
2.3 Que problemas se punham a Cícero para conseguir persuadir o seu auditório?
2.4 De facto, por que razão não prenderam Catilina? O argumento da salvação da República. E se Cícero estiver a extremar o argumento? A hipérbole como dispositivo retórico.
3. A prisão dos senadores.
3.1 As acusações contra os senadores: planos para assassinar nobiles; revolta de camponeses; invasão de povos gálicos; incêndio de Roma.
3.2 Os nomes: Lêntulo Sura (pretor; ex-cônsul; expulso do senado em 70; tinha agora conseguido voltar ao cursus honorum); C. Cetego (senador) + 3 outros homens presos no Tullianum; L. Cássio (ex-pr.) foge.
3.3 A Quarta Catilinária: 5 de Dezembro – a condenação à morte.
Cícero foi, então, juntamente com o Senado, buscar os homens. Estes não se encontravam todos no mesmo lugar, pois estavam à guarda de diferentes pretores. Trouxe primeiro do Palatino Lêntulo, levando-o pela Via Sacra e pelo meio do fórum. À sua volta e servindo de escolta seguiam os homens mais importantes da cidade; o povo, impressionado com o que se estava a fazer, seguia em silêncio, principalmente os mais novos, que, pelo medo e pelo espanto, pareciam estar a ser iniciados, por assim dizer, nos ritos ancestrais de algum ofício aristocrático. Atravessado o fórum e chegados à prisão, Cícero entregou Lêntulo ao carrasco e ordenou-lhe que o executasse. Depois trouxe Cetego, e da mesma maneira foi trazendo cada um dos outros e entregou-os à morte (Plut. Cic. 22.1-3; trad. M. Várzeas)
A salvação da República e a derrota de Catilina (62).
A República romana era democrática?
15 Março 2018, 10:00 • Rodrigo Furtado
1. O forum Romanum.
2. Por onde tudo começa: Políbio 6. Nas origens de uma ‘constituição mista’.
2.1 O pensamento político romano nasce na Grécia: nas origens do problema ‘constitucional’.
2.2 Políbio: um Grego em Roma – representar a Urbe como se fosse uma polis.
2.2.1 As constituições de Políbio (6.3.5-6.4.13).
- Os três tipos de constituição e os seus contrários;
- A constituição mista.
2.2.2 Roma (Políbio 6.11-18): checks and balances para perpetuar a República.
- o poder ´régio’ dos cônsules;
- o poder ‘aristocrático’ do senado;
- o poder ‘democrático’ do povo.
2.3 ‘Meter o Rossio na rua da Betesga’: os anacronismos de Políbio.
2.3.1 O objectivo de Políbio: o contributo constitucional para a existência do Império;
2.3.2 ‘Explique-me como se eu fosse Grego’: a simplificação institucional;
A estrutura política: tipologia e poderes das instituições da Respublica.
12 Março 2018, 10:00 • Rodrigo Furtado
I. As assembleias de cidadãos.
- Os comitia curiata.
- as tribos – Ramnes, Lúceres e Tícios. As trinta cúrias.
- o carácter simbólico das suas funções.
- Os comitia tributa.
- tribos urbanas (Palatina, Colina, Esquilina, Suburana) e tribos rurais;
b. A votação de leis, os processos judiciários e as eleições;
c. O processo de votações:
i. Quando? Julho?
ii. Onde? Entre o comitium e o templo de Castor (145 a.C.).
iii. Quantos? 4000? 5000? 20000? 30000?
iv. Quem falava?
v. Quem pode ser eleito?
- Os comitia centuriata.
- as centúrias e a sua origem: as ‘reformas de Sérvio Túlio’.
b. A votação de leis, os processos judiciários e as eleições;
c. O processo de votações:
i. Quando? Julho.
ii. Onde? O campo de Marte e os Saepta.
iii. Quantos? 30000?
iv. Quem falava?
v. Quem pode ser eleito?
- O concilium plebis.
II. Magistraturas:
1. O cursus honorum e a disputa eleitoral. O acesso ao cursus honorum.
2. Os questores: eleição; funções;
3. Os edis curuis e da plebe: eleição; funções;
4. Os pretores: eleição; funções; o imperium domi militiaeque.
5. Os cônsules: eleição; funções; o imperium domi militiaeque..
6. Magistraturas extraordinárias: censores; ditador; mestre de cavalaria (magister equitum).
III. O Senado.
1. Acesso;
2. Funcionamento: a Curia Hostilia; o princeps senatus; tomar a palavra e votar;
3. Poderes e aconselhamento. O senatusconsultum ultimum de re publica defendenda.
4. Importância política e social.
The frozen waste theory e a reacção democrática.
8 Março 2018, 10:00 • Rodrigo Furtado
I. A construção da República: um processo longo.
II. Os instrumentos: prosopografias.
1. Prosopographia Imperii Romani saec. I, II, III, editio altera, VIII partes, Berlin, 1933-2009 (= PIR2).
2. M. Th. Raepsaet-Charlier, ed. (1987), Prosopographie des femmes de l'ordre sénatorial : Ier-IIe siècles, Lovanii, 2 vol. (= FOS).
III. A frozen waste theory.
1. Textos fundamentais:
a. M. Gelzer (1915), Die Nobilität der römischen Republik, Berlin, 1912 [trad. ingl. (1969), Roman nobility, Oxford].
b. F. Münzer (1920), Römische Adelsparteien und Adelsfamilien, Stuttgart (trad. ingl. Roman Aristocratic Parties and Families, Baltimore and London, 1999rev.).
c. N. Rouland (1979), Pouvoir politique et dépendance personelle dans l’antiquité romaine, Bruxelles.
d. L. Burckhardt (1990), ‘The political elite of the Roman Republic: comments on recent discussion on the concepts of Nobilitas and Homo Nouus’, Historia 39, 80-84.
2. Teses:
a. Pequena oligarquia muito fechada e endogâmica que controla a cidade (cf. árvore genealógica dos Cipiões-Paulos);
b. Eleições e votações determinadas pelas relações de clientela;
c. Processo eleitoral e votações meramente formal: comportamento eleitoral determinado por pré-conceitos sociais.
3. As liturgias da visibilidade:
a. O culto aos deuses Manes;
b. As máscaras dos antepassados;
c. Os funerais de um nobre;
‘Sempre que um dos seus homens ilustres morre, durante o funeral, o corpo […] é levado para o forum, para os Rostros, como se chama uma espécie de plataforma aí erguida. […] O seu filho […] sobe aos Rostros e faz um discurso sobre as virtudes do falecido e as façanhas por ele realizadas ao longo da vida. […] Depois do funeral, […] colocam uma imagem do falecido no local mais visível da casa […]. Estas imagens são mostradas nos sacrifícios públicos, adornadas com muito cuidado. E quando algum outro membro ilustre da família morre, estes máscaras são levadas por homens […] o mais parecidos possível com os originais, em tamanho e peso. E estes substitutos vestiam-se com roupas de acordo com o estatuto da pessoa representada. […] Quando chegavam aos Rostros, todos eles se sentavam nas carruagens de marfim, de acordo com a sua ordem de precedência. Dificilmente haveria espectáculo mais inspirador para um nobre jovem ambicioso e com aspirações virtuosas’ (Políbio 6.52-54).
d. A generosidade aristocrática: o do ut des aristocrático.
4. Os critérios das escolhas dos senadores.
a. Nascimento;
b. Currículo político e militar;
‘A maior parte dos Romanos concorda que este homem, Lúcio Cipião, foi o melhor de entre os homens bons. Filho de Barbato, aqui foi cônsul, censor, edil [?]. Ele tomou a Córsega e a cidade de Aléria. Ofereceu às Tempestades um templo merecido’ (CIL 12.8–9).
c. Mos maiorum.
‘Conseguiu as dez coisas maiores e melhores que os homens sábios passam a vida a procurar: quis ser um o primeiro dos guerreiros, o melhor orador, o general mais forte, administrar os mais elevados assuntos com a sua autoridade, gozar da máxima honra, ter a máxima sabedoria, ser tido como o mais importante senador, conseguir grande riqueza de forma honesta, deixar muitos filhos e ser o mais ilustre homem na cidade’ (elogio fúnebre de Lúcio Cecílio Metelo, cos. 251, 247 apud Plin. nat. 7. 62).
IV. A reacção democrática.
1. Textos fundamentais:
a. L. Perelli (1982), II movimento populare nell'ultimo secolo della repubblica, Turin.
b. K. Hopkins, - G. Burton (1983), Death and Renewal. Sociological studies in Roman history, Cambridge.
c. F. Millar (1984), ‘The political character of the classical Roman Republic’, JRS 74, 1 -19;
d. R. Develin (1985), The practice of politics at Rome, Bruxelles.
e. P. A. Brunt (1988), The fall of the Roman Republic, Oxford.
2. Teses:
a. Oligarquia aberta à entrada de novas gentes no sistema;
b. Relações clientelares: menos fechadas e previsíveis, mais negociadas;
c. Carácter imprevisível das votações.
V. Os dados sociológicos [cf. Hopkins-Burton (1983)].
Quadro 1 |
232-183 a.C. |
182-133 a.C. |
132-83 a.C. |
82-33 a.C. |
Gentes patrícias com cônsules |
13 |
11 |
10 |
7 |
Nº total de cônsules patrícios |
47 |
34 |
22 |
20 |
Gentes plebeias com cônsules |
25 |
28 |
40 |
39 |
Nº total de cônsules plebeus |
43 |
53 |
67 |
65 |
Gentes patrícias ou plebeias com apenas um cônsul eleito durante o período |
17 |
17 |
30 |
24 |
Quadro 2 |
Cônsules de (datas a.C.) que tiveram antepassados ou descendentes consulares (%): |
||||||
|
249-220 |
219-195 |
194-170 |
169-140 |
139-110 |
109-80 |
79-50 |
Avô e Pai consulares |
8 |
22 |
20 |
24 |
23 |
25 |
17 |
Apenas Pai consular |
30 |
16 |
10 |
18 |
33 |
16 |
17 |
Apenas Avô consular |
8 |
8 |
16 |
11 |
5 |
12 |
16 |
Apenas Bisavô consular |
2 |
5 |
0 |
4 |
2 |
8 |
16 |
Quadro 3 |
Cônsules |
Cônsules |
|||
249-220 a.C. |
219-195 a.C. |
194-140 a.C. |
139-80 a.C. |
79-50 a.C. |
|
% de cônsules/pretores com filhos com sucesso político |
53 |
62 |
48 |
43 |
34 |
% de cônsules/pretores provenientes de famílias consulares ou pretorianas |
64 |
86 |
59 |
52 |
36 |
VI. Problemas.
1. Entre 2/3 e 4/5 da elite consular não era estável;
2. Contudo: confirma-se existência de uma elite senatorial hereditária;
3. Por que razão se perdia estatuto social? Qual é o elemento de controlo? Apoio do populus?
4. Era o processo de aceitação ou de rejeição determinado apenas ou sobretudo pelas eleições ou pelo apoio do populus?
5. O apoio dos nobiles a um dado candidato era determinante ou não no processo eleitoral?