Sumários

O Damásio de Henrique Gil

15 Novembro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

NOVEMBRO                        5ª FEIRA                               16ª Aula

 

 

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A nossa aula foi dedicada ainda a António Damásio e à obra A estranha ordem das coisas (capítulos 10, 12 e 13) presentes na exposição e diálogo promovidos pelo aluno Henrique Gil. A colaboração do aluno revelou-se muito inteligente e prática, sistematizada e colaborativa nomeadamente em relação à vivacidade com que decorreu a discussão.

 

Leitura recomendada:

DAMÁSIO, António 2017, A Estranha Ordem das Coisas – A Vida, os Sentimentos e as Cultura Humanas, Lisboa: Temas e Debates / Círculo de Leitores, pp. 227-332.


Como evoluem as espécies: Netos de Gungunhana e Estranha Ordem das Coisas

13 Novembro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

NOVEMBRO                        3ª FEIRA                               15ª Aula

 

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Saída de Campo – São Luiz, Netos de Gungunhana inspirado na trilogia de Mia Couto, Areias do Imperador, encenação de João Brites, Teatro O Bando, 9.11.2018, 21:00-23:00

 

Demos início à discussão sobre o espectáculo assistido em conjunto e que escolhemos como o primeiro de três seleccionados do que poderia ser visto na cidade de Lisboa.

Este trabalho conjunto poderá prolongar-se por algumas aulas, uma vez que reservamos para cada uma das unidades curriculares um tempo de reflexão para obras incluídas no programa.

Ressalvo o facto de no espaço de uma semana termos assistido a três espectáculos. Talvez que esta concentração de objectos artísticos de grande diversidade entre si possa criar alguma perturbação nos alunos para deles se apoderarem verdadeiramente e sobre eles produzirem discurso.

Não consegui apurar se o diário de bordo recomendado a todos tivera algum proveito. Tendo explicado aos alunos que este instrumento de trabalho pessoal teria a função de melhor integrar a opinião de cada um na discussão colectiva, apercebi-me de que a participação oral foi intermitente, parca e muito rodeada de silêncio.

Do espectáculo Netos de Gungunhana teremos acesso, por gentileza do Teatro O Bando, a um vídeo geral do qual talvez possamos visionar alguns momentos para clarificação de posições que me pareceram especialmente intuitivas entre os alunos e que com esse visionamento parcelar talvez adquiram melhor sustentação opinativa.

Apurei que para alguns dos intervenientes a dramaturgia de texto e a dramaturgia de cena foram o mais difícil de seguir. Algumas das vozes até pareciam zangadas. Na opinião de alguns este espectáculo não era para o São Luiz mas para espaço aberto. Outros, entre os quais me incluo, manifestaram-se favoráveis a um espectáculo de maior intimidade. Pessoalmente fez-me falta um espectáculo com cheiro e suor. É verdade que estou a ficar surda e da 2ª plateia muita coisa dita me escapou, como aliás foi referido por algumas alunas também. Mas não é por essas minhas fragilidades do corpo que não desejei escutar melhor o texto do Mia Couto. Talvez esta agora limitação que chega com a idade seja ainda assim uma questão antiga da minha experiência de leitora do escritor moçambicano. Para mim, e especialmente nesta trilogia, ele é menos o escultor da língua e mais a expressão do sensível de uma África que conheço, que amo e da qual sou próxima.

Neste começo de conversa estivemos a debater-nos sobre o que é óbvio e não é: linguagem e comunicação. Optámos por falar da abertura do espectáculo como mote para tudo o resto a partir das duas línguas europeias, as de um primeiro (o português) e segundo (o inglês) colonialismos, e com os cruzamentos de outros linguajares.

Também houve quem se manifestasse sobre NETOS ser um espectáculo muito longo. Julgo que os alunos tiveram razão. Imagino que não tenha sido fácil criar e articular cenas de três grossos e muito substanciais volumes que permitiam várias opções. Útil teria sido conversar sobre esta questão com o dramaturgista Miguel Jesus e com o encenador João Brites.

Do agrado dos alunos foi a funcionalidade mas também a simbologia do cenário, o trabalho de corpo que muito valorizaram e a relação cénica entre os actores. Não se pronunciaram ainda sobre a música e a luz. Os figurinos foram apreciados consensualmente. Acho que em futuras conversas poderemos ir um pouco mais longe. Só espero que o espaço mental nos seja favorável.

Ocupámo-nos ainda da compreensão do conceito de homeostasia na óptica de Damásio em A Estranha Ordem das Coisas que nos proporcionou acesa discussão, tão proveitosa quanto inquietante, na relação biológica que nos envolve entre a cooperação e a competição. Tendo esta relação biológica existido primeiro entre bactérias, e que esteve na origem do processo de regulação da vida, que em nós tem representação na evolução das espécies, fenómeno que ajuda todos os organismos no processo de selecção, considerando que a sobrevivência resulta das estratégias mais produtivas. Este padrão geral  mantém-se e repete-se relativamente ao comportamento humano.

Leitura recomendada:

DAMÁSIO, António 2017, A Estranha Ordem das Coisas – A Vida, os Sentimentos e as Cultura Humanas, Lisboa: Temas e Debates / Círculo de Leitores, pp. 227-332.


A regulação da vida como projecto cultural em António Damásio

8 Novembro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

NOVEMBRO                                 5ª FEIRA                      14ª Aula    

 

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Na ausência justificada do aluno Henrique Gil que connosco se comprometera a comentar três dos capítulos finais da obra de António Damásio, A Estranha Ordem das Coisas – A Vida, os Sentimentos e as Cultura Humanas, fizemos leitura de passagens do primeiro desses capítulos que nos envolveram em acérrima discussão.

Insistimos na ideia de homeostasia – regulação da vida e de tudo o que a ela diz respeito – como sustentadora dos sentimentos que são por sua vez os depositários das emoções e dos «comportamentos emotivos». (Damásio, 2017: 231-232) Reconhecida e defendida por Damásio a perspectiva subjectiva de cada um de nós, ela está associada ao aparecimento da mente e às respectivas evoluções que integram a memória, o raciocínio, a linguagem verbal e outras expressões de linguagem afectas à inteligência criadora. Todo este processo, que até hoje se mantém, propicia, essencialmente nos humanos, resposta cultural que encontra noutros seres vivos (abelhas, formigas, elefantes) um outro tipo de resposta que nos é também comum: a resposta social.

Neste contexto breve referimos dois seres vivos que também são parte natural do processo homeostático desde os primórdios da vida no planeta, ainda que sem possuírem mente: a amiba e a lula. A discussão tornou-se assim mais ampla e referenciada pois pudemos observar imagens de ambos os animais.

 

DAMÁSIO, António 2017, A Estranha Ordem das Coisas – A Vida, os Sentimentos e as Cultura Humanas, Lisboa: Temas e Debates / Círculo de Leitores, pp. 227-332.


Realização do primeiro teste de avaliação de conhecimentos com consulta

6 Novembro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Realização do primeiro teste de avaliação de conhecimentos com consulta


Kathakali - arte difícil para mentes elásticas

30 Outubro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

OUTUBRO                                     3ª FEIRA                               12ª Aula

 

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Ocupámo-nos na aula de hoje com o visionamento de um espectáculo de Kathakali realizado em Cochim (Estado do Kerala, Índia) em 2008.

Salientámos ao longo do visionamento intervalado aspectos como a necessidade de tomarmos consciência do fluir do tempo. O tempo da representação, que possui uma extensão demasiado longa para os hábitos ocidentais, revela-se como um tempo em camadas que por nós devem ser apreendidas.

Se considerarmos o facto de o Kathakali pertencer ao universo das artes compósitas, a distensão temporal considera a simultaneidade e a consecutividade das acções executadas em palco de forma lenta.

Como espectadores do desconhecido, nós somos obrigados a desenvolver um espectáculo próprio, emocional e intelectualmente desafiador, que nos exige atenção a vários níveis. A música é, por exemplo, construída sobre fraseado repetitivo e de inter-resposta com instrumentos de percussão que dialogam à vista do público. Embora de fácil reconhecimento, a repetição pode não ser para os nossos ouvidos uma fonte de prazer. No entanto, ela sublinha e cria os ritmos da representação.

Associada à música vem o contributo do cantor-narrador (às vezes dois) que nos apresenta os episódios ou episódio que constituem a história da representação e que é matéria própria da oralização de textos sagrados da cultura indiana hindu. Atendendo ao facto de que a oratura, como hoje se designa a cultura e a literatura orais, assenta sobre modelos baseados na repetição e na criação de imagens fortes reconhecíveis pelo público presente no espectáculo, torna-se compreensível que a toada narrativa ocorra por sequências de repetição. Também este acto performativo contribui para uma melhor compreensão do que o Kathakali oferece em termos da palavra e do canto.

Finalmente a intervenção dos bailarinos-actores, a mais complexa acção em palco, pede que descodifiquemos várias linguagens ao mesmo tempo. Em primeiro lugar, a mímica facial é em si uma arte que nos confronta com o que conhecemos e praticamos e com aquilo que nos supera. Em segundo lugar, a linguagem gestual cria um fraseado simbólico e codificado de aplicação ao texto que está a ser dito e cantado, seguindo ao memso tempo o ritmo e a cadência musicais. Em consequência de tudo isto, e em terceiro lugar, o movimento dos corpos estiliza-se na correspondência entre o peso e o volume dos figurinos, dos adereços, de entre os quais se salienta o encaixe do toucado em madeira (cerca de 15 a 20 Kg) de quem representa a figura principal (geralmente um deus ou filho do mesmo, destacado também pelas unhas artificiais em lata que a divindade usa na mão esquerda e só nela).

É pois natural que nós, que em comparação pouco esforço temos de fazer, nos percamos entre tanta exigência.

O nosso cérebro não responde com facilidade ao que é novo, quanto mais ao que é novo e múltiplo ao mesmo tempo, e com uma toada milenar, de um tempo em que a estimulação periférica (vinda do exterior) não nos obrigava a uma constante solicitação e estimulação. É pois natural que rejeitemos esta arte performativa e que a achemos difícil para as nossas mentes desfasadas daquilo que sendo História cénica continua a encantar outras culturas e civilizações.

Estranho é, porém, que os modelos espectaculares com que nos confrontamos hoje me dia, também eles plenos de polivalência, não nos ocorram e não nos visitem quando observamos um espectáculo de Kathakali.

 

DVD visionado:

MARGI, Thiruvananthapuram (agrupamento) 2008, Kathakali, DVD, Legendas em inglês, 1h 29 min.

 

Youtube - Kathakali

https://www.youtube.com/watch?v=xGMRmoR7GPk