Sumários

culpa, desculpa

10 Novembro 2020, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

NOVEMBRO                        3ª FEIRA                               11ª Aula

 

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ZOOM

 

Retomámos a apresentação de trabalhos sobre o livro de Giovanni Frazzetto, tendo a aluna Tara Loncarevic feito uma boa exposição sobre a emoção da culpa. Foram salientados os aspectos relacionados com a culpa social, mas também se exemplificou a presença desta emoção na dimensão individual.

Estudos sobre a culpa são historicamente reconhecidos na experiência de vida e de investigação de Sigmund Freud que é perturbado por um sonho em que um caso de diagnóstico incorrecto o assola inconscientemente. Aquilo que perturba Freud pode ser detectado em qualquer pessoa, desde que possa recorrer ao material onírico. Quem não tem registo consciente dos sonhos e não possa proceder à sua verbalização ou a outra forma de expressão possível, como a pintura e o exemplo de Caravaggio apresentado no capítulo, não deixa de experimentar os efeitos de uma emoção e de um sentimento de culpa. Segundo Frazzetto, o nosso cérebro «acende luzes» sempre que nos sentimos culpados de alguma coisa e perante alguém. (p. 77) Mas mais importante do que isso é o sentimento de que, uma vez assumida a culpa, ela possa diluir-se em arrependimento e reparação.

No fundo, quantas peças de teatro não vimos já em que este assunto seja representativo das relações entre personagens em cena. Todo um Shakespeare enche as nossas memórias nas mais variadas formas e sempre criando diversos pontos de vista. A universalidade da emoção culpa, como outras, destaca na representação artística o espelho da nossa quotidianidade.

Em curso encontra-se ainda a apresentação de um último trabalho dedicado ao luto pelas alunas Mihaela Gradinaru, Ana Caetano e Beatriz Ferreira.

 

FRAZZETTO, Giovanni, 2014. Como sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não – dizer sobre as nossas emoções, Tradução de Pedro Carvalho, Lisboa: Bertrand Editora.

 

A gravação premeditada de aulas retira às mesmas a espontaneidade de participação.


A cor das emoções

5 Novembro 2020, 15:30 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

NOVEMBRO                        5ª FEIRA                               10ª Aula

 

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Aulas presenciais TP1A/TP1B

 

Voltámos à expressão particular do rosto no contexto também particular do filme Shirin de Abbas Kiarostami. O espectáculo que contemplámos joga às escondidas com sentimentos e emoções. E nós colaborámos nesse jogo por ignorância e desatenção. Manifestámo-nos solidários, diria mesmo empáticos, com rostos colaborativos de mulheres e só de mulheres que aceitaram sentar-se numa primeira fila de um cinema improvisado, onde havia em fundo homens e outras mulheres. Destes os rostos eram fugazmente iluminados em travellings de mão sempre da esquerda para a direita. Importava que nós como espectadores de espectadoras concentrássemos a nossa atenção nas suas reacções à narração de uma história.

E afinal o que viam essas mulheres que tanto as comovia? Nada.

Nós e elas escutávamos uma história muito antiga da tradição iraniana que era representada como se fosse uma peça radiofónica. Tornava-se esta história tão real, não só por ser uma trágica história de amor, mas também porque havia um cenário acústico, uma sonoplastia que tornava os acontecimentos, os pensamentos e as interpelações num fio consequente de desgraça credível a que nos afeiçoámos.

Qual era então a linha de fronteira entre reagir de forma natural ou representacional?

Para além de possível resposta a esta questão, o acesso ao making of do filme ajudará à compreensão de como uma obra de arte oscila entre uma realidade que lhe é intrínseca e a sustentação dos meios de que dispõe. Até ao visionamento do making of Taste of Shirin (21’) de Hamideh Razavi não teremos acesso aos bastidores do trabalho de Kiarostami e das suas equipas artística e técnica que aceitaram fazer um filme sobre o antigo e o contemporâneo do Irão a partir do ponto de vista de mulheres. E esse ponto de vista dissemina-se, apenas e tão só, na expressividade de rostos e em vozes, através dos quais são captadas as emoções. Cada mulher, diz Kiarostami, “deverá ser ela mesma.”

Poderemos então explorar com Kiarostami muitas das possibilidades de querermos tornar visível, palpável, o que é invisível e se nos escapa. Assim nos manteremos atentos a uma narrativa que nos acompanha do princípio até ao fim do filme, ao mesmo tempo que nos devolve reacções de espectadoras que acorrem às suas próprias histórias numa simbiose com o que escutam.

Dito em farsi, com legendas em inglês, o filme conta-nos a epopeia antiga iraniana do amor da princesa Shirin da Arménia e do seu amado Khusraw do Irão, acrescido do amor profundo e desinteressado de Fahrad, o escultor, por Shirin. Esta cadeia relacional está ferida de morte desde o seu início. Pesadelos e sonhos de Shirin, a sua natureza sensível e sentimental são anúncio de uma tragédia que se repercute no desenvolvimento dos acontecimentos. Que amor é este que mata todos os directamente implicados?

É a esta narrativa poética e perturbadora que damos nós corpo através de imaginação despertada por audição. É uma das nossas formas de apropriação. Este é o processo afecto à ideia de peça radiofónica de que muito poucos já terão memória. Partilhamos assim um mesmo universo com as actrizes presentes na sala de cinema que se sujeitam ao mesmo desafio que nos é proposto sem que nos demos conta disso.

Os rostos que contemplamos não são rostos naturo-artísticos como os que vimos no espectáculo de Kathakali e que requerem longo treino de domínio muscular e concentração mental. Os rostos que não nos olham nos olhos porque observam uma história que não vêem, adquirem uma consciência artística sendo naturais.

 

Filme visionado:

KIAROSTAMI, Abbas, Shirin, DVD, 2008, em farsi com legendas em inglês, 91 min.


A cordas emoções

5 Novembro 2020, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

NOVEMBRO                        5ª FEIRA                               10ª Aula

 

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Aulas presenciais TP1A/TP1B

 

Voltámos à expressão particular do rosto no contexto também particular do filme Shirin de Abbas Kiarostami. O espectáculo que contemplámos joga às escondidas com sentimentos e emoções. E nós colaborámos nesse jogo por ignorância e desatenção. Manifestámo-nos solidários, diria mesmo empáticos, com rostos colaborativos de mulheres e só de mulheres que aceitaram sentar-se numa primeira fila de um cinema improvisado, onde havia em fundo homens e outras mulheres. Destes os rostos eram fugazmente iluminados em travellings de mão sempre da esquerda para a direita. Importava que nós como espectadores de espectadoras concentrássemos a nossa atenção nas suas reacções à narração de uma história.

E afinal o que viam essas mulheres que tanto as comovia? Nada.

Nós e elas escutávamos uma história muito antiga da tradição iraniana que era representada como se fosse uma peça radiofónica. Tornava-se esta história tão real, não só por ser uma trágica história de amor, mas também porque havia um cenário acústico, uma sonoplastia que tornava os acontecimentos, os pensamentos e as interpelações num fio consequente de desgraça credível a que nos afeiçoámos.

Qual era então a linha de fronteira entre reagir de forma natural ou representacional?

Para além de possível resposta a esta questão, o acesso ao making of do filme ajudará à compreensão de como uma obra de arte oscila entre uma realidade que lhe é intrínseca e a sustentação dos meios de que dispõe. Até ao visionamento do making of Taste of Shirin (21’) de Hamideh Razavi não teremos acesso aos bastidores do trabalho de Kiarostami e das suas equipas artística e técnica que aceitaram fazer um filme sobre o antigo e o contemporâneo do Irão a partir do ponto de vista de mulheres. E esse ponto de vista dissemina-se, apenas e tão só, na expressividade de rostos e em vozes, através dos quais são captadas as emoções. Cada mulher, diz Kiarostami, “deverá ser ela mesma.”

Poderemos então explorar com Kiarostami muitas das possibilidades de querermos tornar visível, palpável, o que é invisível e se nos escapa. Assim nos manteremos atentos a uma narrativa que nos acompanha do princípio até ao fim do filme, ao mesmo tempo que nos devolve reacções de espectadoras que acorrem às suas próprias histórias numa simbiose com o que escutam.

Dito em farsi, com legendas em inglês, o filme conta-nos a epopeia antiga iraniana do amor da princesa Shirin da Arménia e do seu amado Khusraw do Irão, acrescido do amor profundo e desinteressado de Fahrad, o escultor, por Shirin. Esta cadeia relacional está ferida de morte desde o seu início. Pesadelos e sonhos de Shirin, a sua natureza sensível e sentimental são anúncio de uma tragédia que se repercute no desenvolvimento dos acontecimentos. Que amor é este que mata todos os directamente implicados?

É a esta narrativa poética e perturbadora que damos nós corpo através de imaginação despertada por audição. É uma das nossas formas de apropriação. Este é o processo afecto à ideia de peça radiofónica de que muito poucos já terão memória. Partilhamos assim um mesmo universo com as actrizes presentes na sala de cinema que se sujeitam ao mesmo desafio que nos é proposto sem que nos demos conta disso.

Os rostos que contemplamos não são rostos naturo-artísticos como os que vimos no espectáculo de Kathakali e que requerem longo treino de domínio muscular e concentração mental. Os rostos que não nos olham nos olhos porque observam uma história que não vêem, adquirem uma consciência artística sendo naturais.

 

Filme visionado:

KIAROSTAMI, Abbas, Shirin, DVD, 2008, em farsi com legendas em inglês, 91 min.


Empatizar é um acto de felicidade inesperada que nos anima em direcção a outros

3 Novembro 2020, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

NOVEMBRO                        3ª FEIRA                               9ª Aula

 

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Aula ZOOM

 

Dedicámos a aula de hoje à apresentação de pequenos trabalhos dos alunos sobre novas emoções ainda não comentadas. Foi o caso da Empatia que foi abordada pelos alunos Ariana Galamba, Marta Sanches e Diogo Lourenço. A exposição revelou-se muito enriquecedora da parte dos três apresentadores que optaram por introduzir resultados de experiência própria, mas também fizeram referência à dimensão neurocientífica desta emoção a partir do conhecimento dos neurónios-espelho.

Para além das referências apontadas por Frazzetto, no capítulo em estudo sobre a especificidade dos neurónios-espelho, constatámos como a importância destes fenómenos empáticos que nos caracterizam no processo de evolução da espécie recebem actualmente o benefício da mobilização de partes do cérebro que interagem com o nosso corpo, também no espelhamento do nosso rosto. Esta descoberta e progressiva investigação em curso, veio complementar a nossa compreensão do que somos e do que ainda não sabemos que somos.

 

Leitura recomendada

FRAZZETTO, Giovanni, 2014. Como sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não – dizer sobre as nossas emoções, Tradução de Pedro Carvalho, Lisboa: Bertrand Editora.

 

Link aconselhado:

https://maestrovirtuale.com/neuronios-espelho-a-construcao-e-o-entendimento-da-civilizacao/

 

A gravação premeditada de aulas retira às mesmas a espontaneidade de participação.


Questionar as emoções

29 Outubro 2020, 15:30 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

OUTUBRO                                     5ª FEIRA                               8ª Aula

 

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Aulas presenciais TP1A/TP1B

 

Saída de Campo

Ida ao Teatro da Trindade para assistirmos ao espectáculo Chicago de Fred Ebb e Bob Fosse, com música de John Kander. Encenação de Diogo Infante. Dia 28 de Outubro, entre as 21:00 e as 23:15.

 

Cada uma das aulas presenciais foi dedicada a apresentação de trabalhos orais dos alunos sobre diferentes capítulos do livro de Giovanni Frazzetto, Como sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não dizer sobre as nossas emoções.

Na primeira aula participou Miguel Cavaco sobre o Luto. A sua exposição abriu acalorada discussão a propósito de um assunto – processos de luto -, que sendo presença inquestionável e incontornável nas nossas vidas, constitui frequentemente matéria obscura em debates que se alicerçam sobre experiência emocional profundamente traumática. Recuperar em discurso trajectos com a morte de próximos conduz a uma exposição que não queremos que aconteça, uma vez que esses recortes de rememoração avivam feridas mais ou menos expostas.

De forma quase espontânea alguns alunos expuseram-se através de diferentes tipos de discurso que se sustentaram também numa gestualidade acompanhante, solidária com o próprio, e que reflectiu um sentir autêntico e confiante nos interlocutores.

Participaram ainda Ariana Galamba, Marta Sanches e Diogo Lourenço sobre o tema da Empatia. O trabalho deste grupo de alunos encontra-se ainda em curso.

 

Na segunda turma discutiu-se a emoção Alegria a cargo dos alunos Lia Silva, Filipe Afonso e José Martins. O âmbito desta emoção, no pólo oposto da anteriormente tratada, permitiu um comentário mais controlado e até bastante próximo do que defende Giovanni Frazzetto. Na sequência desta apresentação pedi aos alunos que escrevessem sobre as suas próprias alegrias.

 

Leitura recomendada

FRAZZETTO, Giovanni, 2014. Como sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não – dizer sobre as nossas emoções, Tradução de Pedro Carvalho, Lisboa: Bertrand Editora.