Sumários

Introdução ao estudo do pensamento e obra de Arthur C. Danto.

31 Março 2022, 11:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Introdução à obra e pensamento de Arthur C. Danto. O conceito de trans-contextualidade. A antropologia das artes. A artworld.


Ainda a Iconologia, de Warburg a Georges Didi-Huberman.

29 Março 2022, 11:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Ainda a Iconologia, de Aby Warburg a Georges Didi-Huberman. A Nova Iconologia de Bolvig ed alii.


A Sociologia da Arte.

24 Março 2022, 11:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Noções de Sociologia da arte, de Frederick Antal a Hadjinicolaoiu. A Teoria Estética de Adorno e a Escola de Frankfurt.


Arias Montano e a bondade das artes

22 Março 2022, 11:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

A Alegoria da Arte da Pintura, ou «a verdadeira Ideia (inteligência) inspira o Pintor», gravura de Cornelis Cort (1533-1578), segundo desenho de Frederico Zuccaro (1542-1609), com poema de Benito Arias Montano, realizada em Roma, cerca de 1577-78, reune o pensamento ético-estético do grande pensador renascentista. A figura nua que aparece ao pintor é APOLO (ou a IDEIA da Arte). O quadro em que trabalha o pintor é a FRAGA DE VULCANO. À direita, vêem-se as FÚRIAS. Sob Apolo, a INVEJA numa gruta. Quando se admira A verdadeira Inteligência (Idea) inspira o Pintor, de Cornelis Cort (1533-78) segundo desenho de Frederico Zuccaro, aberta em 1577-78 em Roma, vemo-la acompanhada por longo poema latino onde Arias discursa sobre o papel pedagógico e emotivo do discurso artístico. A gravura (Staatlische Museum, Berlim) recorre à alegorização clássica e aos conceitos neoplatónicos: Apolo como Ideia das Artes a admirar a tela Fraga de Vulcano, com as Fúrias, a Inveja, o Concílio dos Deuses, Ceres, Vénus, Baco, Hércules, as divindades fluviais, Pan, Diana, Marte, Pomona, Saturno, Tétis, Neptuno, etc, num Olimpo onde a Caritas, Prudentia, Benignitas e Fortituto têm valência qualificante do próprio sentido das artes. Vêem-se na assembleia dos Deuses CERES, VÉNUS, BACO, HÉRCULES, deuses fluviais, PAN, APOLO e DIANA, e mais atrás MARTE, POMONA, SATURNO, TÉTIS,… NEPTUNO, etc. O Deus do Olimpo é rodeado de CARITAS, PRUDENTIA, BENIGNITAS, FORTITUDO

Concílio dos Deuses, pormenor da ALEGORIA DA ARTE DA PINTURA, ou «a verdadeira Ideia (inteligência) inspira o Pintor», gravura de Cornelis Cort (1533-1578), segundo desenho de Frederico Zuccaro (1542-1609), com poema de Benito Arias Montano. Pormenor.

Outra obra de Arias Montano (of. Cristopher Plantin, ed. Antuérpia, 1575), com quarenta e oito emblemas desenhados por Crispin van den Broeck e gravados por Philippe Galle, é o livro DAVID. HOC EST VIRTUTIS EXERCITATISSIMUM PROBATUM DEO SPECTACULUM, EX DAVID PASTORIS MILITIS DUCIS EXULIS AC PROPHETAE EXEMPLIS, onde explorou o carácter polissémico atribuído ao rei-pastor, no contexto das guerras na Flandres. (2ª ed. do David... de Arias Montano, Frankfurt, 1597, ed. Conradus Rittershusius com gravuras de Johannes e Theodor Bry, com versos de Matthias Bergius, e já sem o mesmo sentido de intervenção moralizante da 1ª ed. antes mais inclinada a servir aos exercícios de estilística e a uma poesia aclaratória segundo os dísticos de Arias). É de destacar este ideal do príncipe cristão benigno e tolerante, defendido por Arias Montano, tão ligado ao historial vetero-testamentário de David, rei-pastor cujas virtudes são a FIDES, PIETAS, PRUTENTIA e TEMPERANTIA, e compará-lo com o ambiente vivido nas guerras de religião da Flandres. A proposta de políticas mais indulgentes e a defesa da impunidade dos derrotados (a exemplo da piedade que a cidade bíblica de Abel-Bet-Maaká demonstrara após a entrega do traidor) eram , para os leitores do livro, aspectos que mostravam à época mostrava um evidente contraste face às barbaridades cometidas pelo Duque de Alba contra os protestantes de Malines e Haarlem...  A arte, para Arias, ajuda a corrigir os males do mundo e torna os homens melhores.

 

                                                                            BIBLIOGRAFIA:

Silvaine HANDEL, Benito Arias Montano. Humanismo y arte en España, trad., Univ. de Huelva, 1999.

Juan Antonio RAMIREZ, Dios Arquitecto, Ediciones Siruela, Madrid, 1995.

Juan GIL, Arias Montano En Su Entorno (Bienes Y Herederos), ed. Regional Extremadura, Sevilla, 1998.

Aires Augusto NASCIMENTO, «Erudição e livros em Portugal ao tempo de Arias Montano: a biblioteca do Duque de Bragança», Actas do Congresso Benito Arias Montano y los humanistas de su tiempo, vol. II, 2006, pp. 723-750.

Vitor SERRÃO, «As ideias estéticas de Benito Arias Montano e a arte portuguesa do tempo dos Filipes», Actas do Congresso Portugal na Monarquia Espanhola – Dinâmicas de integração e de conflito (FCSH e Instituto Cervantes, Lisboa, 26-28 de Novembro de 2009) (no prelo).

Idem, O Fresco Maneirista no Paço de Vila Viçosa, Parnaso dos Duques de Bragança, 1540-1640, Lisboa, 2008.


Georges Didi-Hubrermann e o pensamento iconológico actual.

17 Março 2022, 11:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Georges Didi-Huberman, historiador de arte e filósofo, professor na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, é o herdeiro intelectual de Aby Warburg, de Walter Benjamin e de Georges Bataille, e tem consagrado a sua reflexão iconológica a uma leitura crítica da tradição da História da Arte e do pensamento das imagens. Abrangendo tanto as artes visuais como a História da Arte, a Psicanálise, a Antropologia e as Ciências Humanas, Didi-Huberman publicou mais de 40 títulos, traduzidos em várias línguas. a sua obra recobre uma multiplicidade assombrosa de temas e artistas, da histeria ao Holocausto, de Fra Angelico a Pasolini, entre outros. Nasceu em Saint-Étienne em 1953 e é filósofo, historiador, crítico de arte, professor da École de Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris e autor de títulos como La Peinture incarnée, suivi de Le chef-d’oeuvre inconnu par Honoré de Balzac (Paris: Minuit, 1985), Devant l’image. Question posée aux fins d’une histoire de l’art (Paris: Minuit, 1990), Ce que nous voyons, ce qui nous regarde (Paris: Minuit, 1992; trad. O que vemos, o que nos olha, São Paulo, Editora 34, 1998; Porto, Dafne, 2011), La Ressemblance de l’informe, ou le gai savoir visuel selon Georges Bataille (Paris: Macula, 1995), Devant le temps. Histoire de l’art et anachronisme des images (Paris: Minuit, 2000) e L’image survivante. Histoire de l’art et temps des fantômes selon Aby Warburg (Paris: Minuit, 2002).

A HISTÓRIA DA ARTE É TAMBÉM UM EXERCÍCIO DE COMPAIXÃO. O trabalho do antropólogo das imagens Georges Didi-Huberman (1953-) é,  pois, um desafio analítico-comparatista do saber ver.

      Como diz, as imagens tomam posição e, mais, coincidem num ponto: exprimem a infinda compaixão pelos outros, os oprimidos da História, as vítimas do mundo transfigurado em arena de cobiças, o mistério vivencial dos deserdados. Sim, as artes não se fazem ignorando a desordem do mundo mas podem consolar os que nela (e com ela) vivem.