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“O frio do frio e a construção em design do calor”
2 Maio 2017, 16:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
“O frio do frio e a construção em design do calor”
2 maio
A sessão teve o objectivo de abordar as condições de produção e o processo criativo do espetáculo NEOARCTIC (2016), criação da companhia de teatro dinamarquesa, Hotel Pro Forma. Falámos de como uma companhia de teatro, que vem do frio, e tem a experiência privilegiada de estar/viver num local frio, aborda o tema do Árctico – outro local mais remoto e frio. Depois de uma abordagem geral sobre aspectos de comportamento e de cultura material, no contexto dinamarquês, foram explorados exemplos da vivência do frio através do estilo de vida, do design e da arquitetura. O estudo do espetáculo teve em conta aspectos de desenvolvimento da sua dramaturgia visual, composição musical e libreto - sempre com o Árctico em pano de fundo. Tiveram-se em conta, ao mesmo tempo, questões de geopolítica, da poluição e de exploração de minérios e recursos da região. Em resumo, a sessão teve 3 momentos:
1. O Frio
-Como o frio inspira o design do calor?
-Experiência dinamarquesa: estilo de vida; estética; design; arquitetura.
2. O Frio - espetáculo NEOARCTIC
-NEOARCTIC: 12 Canções. 12 Paisagens Sonoras. 12 Paisagens. 1 Planeta.
-Condições de produção e Processo criativo do espetáculo: inspiração; dramaturgia visual; composição musical; o libreto; paisagem sonora; aspeto geopolítico e económico.
3. O futuro
-"how many hours of blue can you live without? — asked the white fox" [citação do libreto do espetáculo da autoria do escritor islandês Sjón]
-O interesse geopolítico e económico num Árctico com cada vez menos gelo.
-Repercussões, reacções, implicação na crítica, e opinião pública do espetáculo.
NEOARCTIC
12 Canções. 12 Paisagens Sonoras. 12 Paisagens. 1 Planeta.
Uma Ópera Cântico.
O Hotel Pro Forma e o Latvian Radio Choir uniram-se para criar um espetáculo de música visual – uma ópera cântico – para o grande placo.
NEOARCTIC é um espetáculo de música evocativo, poético e alarmante sobre o Anthropocene – uma nova época geológica definida por perturbações/distúrbios humanos, sem precedentes, sobre os ecossistemas da terra. NEOARCTIC é uma declaração (statement) artístico.
NEOARCTIC olha para o planeta em fluxo. Independentemente da escala, microestruturas fundem-se em processos globais. Há uma conexão entre o derreter do gelo, poeira e a lama – uma conexão entre respiração, turbulência, temperatura e mudanças.
NEOARCTIC olha para as ruínas e a ascensão de uma moderna e industrializada civilização. Ruinas e extinção, novas formas de vida e novas paisagens. Relações simbióticas num moderno mundo repleto de complexidades. Uma onda de fazer e desfazer está a criar novas possibilidades. O distópico e o utópico estão a fundir-se, e uma nova sensação de espanto sobre as maravilhas da Terra é necessária. Os processos, as estruturas e as suas formas como ‘jogo’ (interplay) são o assunto de NEOARCTIC.
[Sinopse: mais objetiva sobre a dramaturgia do espetáculo. Mais reminiscências da dramaturgia do espetáculo.]
O primeiro navio cruzeiro já partiu na sua viagem via a Passagem do Noroeste [passagem marítima, a norte do Canadá, entre os oceanos Atlântico e Pacífico, via Mar do Ártico. Se o gelo derreter, mais e mais, esta torna-se uma via importante para a redefinição geopolítica da zona, passagem marítima de navios de carga, exploração de matérias primas, etc.]
Os restantes de nós iremos segui-los, em breve, como os eco-turistas do Novo Mundo, carregados de equipamento para registar as maravilhas da natureza e para mapear mudanças geológicas, biológicas e climáticas. O Titanic da Natureza está em andamento. Nós estamos equipados com tecnologia, com livros, artigos científicos e conhecimento factual sobre as consequências desastrosas para o planeta Terra, fruto do nosso estilo de vida atual, assim como, do sistema capitalista.
Entramos no Anthropocene, uma nova idade geológica definida por perturbações/ distúrbios humanos, sem precedentes, sobre os ecossistemas da terra. A humanidade tornou-se numa ‘força natural’ que causa mudanças rápidas e violentas no planeta Terra. Este é o ponto de partida do espetáculo NEOARCTIC. Um tema amplo e extremamente complexo. O espetáculo investiga de que formas o Anthropocene pode ser expresso por formas misturadas estéticas e musicais. NEOARCTIC nasceu de um longo período de pesquisa e trabalho de desenvolvimento em cooperação com artistas, cientistas e outras pessoas especializadas em áreas anexas de conhecimento.
Alterações climáticas, a erosão dos solos, a urbanização, a digitalização de todos os campos da nossa vida, a perda drásticas de espécies animais e de plantas, enquanto novas espécies tecnológicas são criadas – é isto o que caracteriza a nossa era. Processos que têm o selo de um período, o qual não pode ser concretamente observado. Independentemente da escala, microestruturas fundem-se em processos globais. No contexto do Anthropocene tudo está em num único jogo, e ao mesmo tempo.
Com o “The Anthropocene Project” (2013/14) a German House der Kulturen der Welt [centro cultural de troca de conhecimento internacional, com foco nas artes contemporâneas, sediado em Berlim] e a sua definição dos conceitos de sedimentos (grain), vapor (vapor) e raio (ray) como pontos de partida, foi desenvolvida uma estrutura dramatúrgica do espetáculo. Os três conceitos representam a qualidade sensual/sensitiva dos materiais e das partículas, da transição e da energia como radiação. Visto como um todo, os elementos exemplificam o que é característico do Anthropocene – a diversidade e mudanças altamente dinâmicas. A mobilidade dos materiais (sedimento), a mudança continuada das fases (vapor) e o transporte da energia (raio) criam, ao mesmo tempo, juntos e separados um novo campo semântico.
Tendo Sedimentos, Vapor, Raio como ponto de partida, NEOARCTIC foi composto através de 12 títulos de canções passadas pela companhia a escritores, que desenvolveram a sua letra, assim como, transmitidas a compositores, designers de vídeo, som, luz, moda e artistas visuais.
SEDIMENTOS
1. Canção para o Plástico
2. Canção para a Poeira
3. Canção para a Lama
4. Canção para os Minerais
VAPOR
5. Canção para o Infinito
6. Canção para a Respiração
7. Canção para a Turbulência
8. Canção para o Acaso
RAIO
9. Canção para a Eletricidade
10. Canção para a Temperatura
11. Canção para o Ótico
12 a. Canção para Cores
12 b. Canção para Cores
[Informação para alunos]
-Sobre o Hotel Pro Forma
-Sobre o espetáculo NEOARTCTIC
http://www.hotelproforma.dk/projects/neoarctic-1664/
-Pesquisa visual – processo criativo NEOARCTIC
https://www.pinterest.pt/annemettefl/neoarctic/
-NEOARCTIC (registo vídeo completo)
-Sobre tópicos relativos ao espetáculo NEOARCTIC
i) The Anthropocene Project
http://hkw.de/en/programm/projekte/2014/anthropozaen/anthropozaen_2013_2014.php
ii) A Passagem do Noroeste
https://www.britannica.com/place/Northwest-Passage-trade-route
Outros links de interesse:
-"Melting Point" (an audio documentary)
http://www.ninaperry.co.uk/ninaperry.co.uk/Highlights.html
-TED TALK: Ben Saunders: “Why did I ski to the North Pole?”
https://www.ted.com/talks/ben_saunders_skis_to_the_north_pole#t-4125
-"Melting Point" (documentário áudio)
http://www.ninaperry.co.uk/ninaperry.co.uk/Highlights.html
-Jacob Kirkergaard - About sound in the Arctic (Exposição Louisiana)
https://www.youtube.com/watch?v=en6yZje_55g&feature=youtu.be
-Darren Almond (Exposição Louisiana)
https://www.youtube.com/watch?v=qbRhNDN1zYg&feature=youtu.be
-Danish researchers help reveal heightened Arctic melting
http://cphpost.dk/news/danish-researchers-help-reveal-heightened-arctic-melting.html
-O que é o ‘hygge’?
https://www.youtube.com/watch?v=YjelfnLA30k
Boas leituras!
Maria Carneiro
3º Módulo: O frio dos frios, oceanos, Antárctida - FRIO
27 Abril 2017, 16:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
Aula de Quinta-feira, dia 27 de Abril de 2017
Novos horizontes da Ciência – Frio
Frio a nova fronteira da ciência
Objectivos:
Recorrendo ao documentário “Novos horizontes da ciência II – Frio” e a duas simples experiências, será dada uma percepção do conceito científico de frio, isto é, o que se entende por FRIO, ou seja, a ausência de calor produzido através da vibração cinemática das partículas.
Serão abordados cinco desenvolvimentos científicos, em diversas áreas e campos desta disciplina, que nos últimos tempos tem vindo a contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade humana e para o melhor entendimento das leis físicas universais, que regem o universo, bem como a natureza que rodeia o homem.
A exposição oral será intercalada com a projecção de parcelas retiradas do documentário e com a realização de experiências, de modo a dar uma visão geral distinta, consistente e interactiva deste fenómeno físico. Nesta apresentação, incidirei a minha atenção na temática em volta do frio, dando maior ênfase às suas particularidades como objecto de ciência. Reservarei os minutos finais da apresentação, para a realização de uma experiência - rápida mudança de estado físico que a água sofre quando é sujeita a um choque térmico.
Como decorrerá a aula:
Iniciar-se-á com a apresentação do documentário, sendo este intercalado com alguns comentários pertinentes e explicações, alguns conceitos científicos que neste surjam. Será dado espaço a perguntas e concluir-se-á a aula com a realização de uma pequena experiência.
Plano de aula:
1. Apresentação.
2. Algumas perguntas sobre a temática. Considerações sobre o assunto a tratar.
3. Introdução ao tema “Frio a nova fronteira da ciência” – explicitação do que iremos tratar, inquirição aos alunos sobre o que eles pensam que é o frio; o que este é; será que realmente existe; porque associamos o frio a algo negativo; Sondagem dos conhecimentos que possuem, relativamente a este fenómeno térmico; Solicitação de alguns conceitos científicos.
4. Apresentação do documentário a analisar. Introdução ao conceito de escala de temperatura; articulação com base nos diversos fenómenos científicos.
5. “Afinal o que é o frio?” – início da explicação detalhada do que designamos por frio e o que o caracteriza. Aqui, para melhor compreensão, irei confrontar o documentário com alguns conceitos científicos como: condução, convecção, calor, frio, calor latente, transferências e propagação energética, organização molecular cristalina, (...) que melhor permitam entender os contributos do frio nas ciências médicas e de compreensão das leis que regem a natureza.
Ao longo da introdução de conceitos, irei intercalar a sua explanação com experiências visuais, fotografias e vídeos que melhor ajudem a entender estes fenómenos.
6. Pequena exposição da relação entre o processamento computacional e a física quântica.
7. Realização de experiência – solidificação de água. (caso a sua realização não seja possível, faremos a demonstração através de vídeo).
8. Sistematização.
9. Conclusão; Momento lúdico.
10. Momento de dúvidas.
Conceitos a introduzir, recordar, explicitar e sistematizar:
Condensação; Convecção; Massa; Ionização; Plasma; Princípio da energia mínima; Estados da matéria; Transferências energéticas; Escalas de temperatura; Entalpia; Metabolismo; Processamento computacional.
Experiências a realizar:
· Rápido congelamento de água na garrafa
· Cristalização de H20
Vídeos propostos:
Supercondutores - https://www.youtube.com/watch?v=zPqEEZa2Gis
Gelo instantâneo - https://www.youtube.com/watch?v=kEHdyiBMgAg
Computadores quânticos - https://www.youtube.com/watch?v=JhHMJCUmq28
Tecnologia Maglev - https://www.youtube.com/watch?v=D1h4R6XRY6o
Novos estados da matéria (condensado de Bosse-Einstein) - https://www.youtube.com/watch?v=nAGPAb4obs8 https://www.youtube.com/watch?v=9RDocoSWqPY
António Carmo Gouveia - As minhas plantas
20 Abril 2017, 16:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
2º Módulo: Montanhas, Vegetações, Vulcões, Cavernas, Desertos
António Carmo Gouveia
As minhas plantas
Aula conduzida pelo biólogo e ecologista António Carmo Gouveia, director do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.
O nosso convidado iniciou a sua palestra apresentando-nos o espaço onde actualmente trabalha. Este Jardim Botânico foi iniciado em 1772, no tempo do Marquês de Pombal, com o intuito de criar uma colecção de plantas que pudesse ser identificada e inventariada como era então frequente noutros espaços europeus. Seguia-se à época um procedimento comum às plantas, aos seres vivos de todas as espécies, às pedras e a tudo o que pudesse ser catalogado. Esta vontade de sistematizar e organizar o mundo natural de modo a melhor poder compreendê-lo fez parte do ideário iluminista disseminado e aplicado pelos estudiosos de cada área em que o conhecimento da Ciência ia sendo revisto, mudado e aumentado como hoje ainda se faz.
O Planeta encontrava-se não só numa fase de descoberta observacional científica, criada muito antes do séc. XVIII, através das viagens intercontinentais realizadas em nome da Ciência, da Religião, da Política e sobretudo das trocas comerciais. Esta nova cartografia entre regiões planetárias, levada a cabo pelo mundo ocidental, não só fez crescer o interesse por cada exemplar estudado e inventariado, como também envolveu a presença de formas de associar cada exemplar a outros com semelhantes características em distintos lugares. O comparativismo nasce então como um modo de reconhecimento de espécies existentes e fenómenos, cuja observação e cujo estudo antecipavam e promoviam.
Se antes havíamos acompanhado descrições de subidas a vulcões e as observáramos em filme (Humboldt, Herzog), se antes tomáramos conhecimento da existência de gigantesca floresta dentro da terra (Gruta de Hang Son Doong no Vietname), agora passáramos a reflectir sobre as diversas funções de um Jardim Botânico que tem 4.000 espécies identificadas e sempre em processo de estudo, porque este espaço, sendo criado pela mão humana e apresentando-se como um lugar de prazer e recreio, continua a ser um dinâmico produto da relação entre Natureza e Ciência.
Como demonstrou o nosso convidado, é preciso que se ultrapasse a visão cega (plantblindness) e antropocêntrica sobre as plantas, valorizando antes as suas características e propriedades como constituintes de um movimento científico, cultural e biológico dinâmico, absolutamente essenciais à nossa sobrevivência.
António Carmo Gouveia teceu ainda algumas considerações sobre imagem da estátua de 1887, existente no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, a Felix de Avelar Tito Brotero, eminente botanista português do séc. XIX. Mostrando-nos a frente e o reverso dessa estátua, pudemos observar que o botanista estava sentado sobre livros e não hieraticamente apresentado de pé. Esta opção fez-nos perceber a escolha do artista plástico em valorizar um modo de representação mais descontraída, embora sem perder de vista o horizonte científico do retratado.
O nosso convidado estabeleceu posteriormente relação com outros lugares em regiões africanas, onde o estudo botânico tem em conta a presença de exemplares e a sua adaptação endémica relacionados com culturas locais e com práticas ritualísticas. Neste sentido a botânica estabelece nexo com a antropologia e com o estudo de religiões.
Por fim, fomos esclarecidos sobre o misterioso comportamento de plantas e árvores dentro da gruta vietnamita. Nada mais simples do que a abertura por derrocada de uma área suficientemente grande para deixar entrar a luz solar no espaço de envolvência do interior da gruta.
Apesar de invulgar, à primeira vista, a exuberância da gruta de Hang Son Doong, segue os preceitos naturais de surgimento de florestas à superfície da Terra – luz para o processo de fotossíntese, humidade suficiente, temperatura adequada, mineralização do solo.
Leituras recomendadas:
GOETHE, Johann Wolfgang von 1992, Viagem a Itália Prefácio, Tradução e Notas de João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores (excertos)
HUMBOLDT, Alexander von 2007, Pinturas da Natureza – Uma Antologia, selecção, apresentação e tradução de Gabriela Fragoso, posfácio de Hanno Beck, Lisboa: Assírio & Alvim, pp. 21-132.
HUMBOLDT, Alexander von, 1993, Briefe aus Amerika 1799-1804, Ulrike Moheit (ed.), Berlin: Akademie Verlag, pp. 208-214. (para alunos com conhecimento de francês)
MENDES, Anabela | FRAGOSO, Gabriela (ed.) 2008, Garcia de Orta e Alexander von Humboldt – Errâncias, Investigações e Diálogo entre Culturas, Lisboa: Universidade Católica Editora, pp. 69-79.
WULF, Andrea 2016, A Invenção da Natureza – As Aventuras de Alexander von Humboldt, o herói esquecido da ciência, Lisboa: Temas e Debates | Círculo de Leitores, pp. 112-122.
Endereço electrónico com o currículo científico do nosso convidado:
http://cfe.uc.pt/index.php?menu=18&tabela=pessoaldetail&user=9&language=pt