Sumários

Realização do primeiro teste de avaliação de conhecimentos.

23 Março 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Realização do primeiro teste de avaliação de conhecimentos.

 


Entre nuvens e árvores

21 Março 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

1º Módulo: Nuvens

 

QUARTA SAÍDA CÁ DENTRO COM SARA ANJO

 

Recebemos em aula a bailarina e coreógrafa Sara Anjo que nos propôs a partilha e observação do mapa-partitura da sua última criação Em forma de árvore. Um dos seus propósitos foi acentuar similitude entre a dança e as nuvens a partir do seu carácter efémero. Fonte de inspiração para esta artista é a natureza que ela observa e contempla desde a infância, explicando-nos como as suas raízes madeirenses sempre a inspiram na articulação de um código presente na partitura e ao mesmo tempo impulsionador de um movimento em direcção ao imaginário individual e à relação entre paisagem e corpo.

Sara Anjo defende uma linha de comportamento que associa percepção e propriocepção (capacidade de reconhecer conscientemente a localização do corpo no espaço, posicionamento e orientação do mesmo) em que o mapa-partitura interfere como apoio à consciência do corpo e experiência do mesmo.

Com Sara Anjo saímos para o relvado que se situa em frente à Reitoria e aí caminhámos para trás durante algum tempo. Juntámo-nos de novo sempre em silêncio sob um céu de nuvens entrecortadas pela luz da tarde, rodeadas pela sonoridade urbana.

Na sala de aula aconteceu um momento especial quando, pela primeira vez em 10 aulas, os alunos quiseram todos falar da sua experiência.

Assistimos a alguns minutos do trabalho coreográfico da artista registado em vídeo em que ela se comporta como uma árvore.

Ao longo de toda a apresentação, Sara Anjo foi sempre árvore nos seus pequenos gestos, no entusiasmo com que connosco falou, na sabedoria que demonstrou, na serenidade do seu corpo treinado pela meditação e por outras práticas relacionadas com a respiração que apoia o conhecimento do corpo (Chi Kung) transmitindo-lhe energia. A coreógrafa e bailarina trouxe-nos a Natureza para o interior do edifício onde trabalhamos, deixando que ela sobre nós actuasse.

 

Excertos de leituras apresentadas:

GIL, José 2001, Movimento Total – O Corpo e a Dança, Lisboa: Relógio D’Água.

GOETHE, Johann Wolfgang von 2003, O Jogo das Nuvens, selecção, tradução, prefácio e notas de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, pp. 9-91.

 


O que fazer com as nuvens?

16 Março 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

1º Módulo: Nuvens

Aproveitámos uma aberta no céu visível do jardim de entrada do edifício central da Faculdade para irmos fazer uma observação de campo. Sentados ou de pé olhámos em várias direcções. Tomámos o nosso tempo sem pressa de concluirmos o que quer que fosse. Estávamos apenas ali. Por cima de nós o céu, munido de cumuli e strati, as mais vulgares formações de nuvens que nos visitam, não tinha esplendor. Esparsos tons de azul, cuja gradação um cianómetro com facilidade mediria, criavam zonas de referência para o que se iria seguir. Sobre nós amornavam-se formas indistintas, com fraca variação de colorido. Era preciso escolher, talvez, uma outra perspectiva ou ângulo de observação. O que nos poderia interessar? A direcção das nuvens, a velocidade a que se moviam, o relacionamento entre elas, as tonalidades que iam adquirindo, o efeito que sobre nós exerciam. Constatámos em conjunto que aquele céu não tinha uniformidade nem sobre nós se abatia como uma massa de água ou gelo densos e opacos, aquilo a que familiarmente chamamos um capacete.

O que víamos então? «Seres vivos», diria Goethe, que se deslocavam de sudeste em direcção a nós (à nossa posição como observadores) e que articulavam entre si um lento movimento, davam-nos uma composição, tão abstracta quanto as que Kandinsky concebeu como pintura mas sem as cores vibrantes que lhe eram características. Em sobreposição deslocavam-se essas nuvens e entre si interagiam. Como nós que estávamos ali? Certamente que não. O que as compelia era uma dinâmica natural que poderia transformar-se nos minutos seguintes, mudando-lhes o rumo, suscitando-lhes outras formas. Devido ao ângulo em que nos colocáramos era possível registarmos visualmente um céu em profundidade, serenamente inquieto. Fizemos pequenas deslocações, rodámos a cabeça à procura de uma qualquer novidade que nos pudesse assistir como ideia, como discurso. Não nos exaltámos porque a beleza daquele céu com nuvens não era excepcional. As nossas expectativas sabiam com o que contar. Mas é provável que alguns se tenham sentido íntimos das nuvens e que em silêncio com elas tenham mantido diálogo. Outros provavelmente não, tal era o barulho circundante da cidade em fim de tarde.

Ao regressarmos à sala de aula já não éramos os mesmos que dela tínhamos saído. O que fizéramos em conjunto complementava o nosso trabalho ao longo de semanas, através de leituras e discussões, visionamentos em diferido, experiências e contributos de outros. Cruzámos Ciência em laboratório, Artes Plásticas, Literatura, Cinema, Música. Teremos ainda a oportunidade de relacionar dança com nuvens, um modo singular de apreender e integrar o mundo natural no corpo artístico.

 

Leituras recomendadas:

BUZZATTI, Dino 1994, As Tentações de Santo António in: A Queda da Baliverna, Lisboa: Cavalo de Ferro (esgotado), pp. 197-203.

GOETHE, Johann Wolfgang von 2003, O Jogo das Nuvens, selecção, tradução, prefácio e notas de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, pp. 9-84.

PRETOR-PINNEY, Gavin 2007, O Mundo das Nuvens – História, Ciência e Cultura das Nuvens, tradução de Sofia Serra, Cruz Quebrada: estrelapolar.


Sobre Tecnologia, Arte e Nuvens

14 Março 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

CIÊNCIA E ARTE

Módulo 2 – Nuvens

SESSÕES SOBRE “TEN SKIES”, de JAMES BENNING

SUMÁRIO

Docente:

·         Pedro Florêncio, doutorando em Artes Performativas e da Imagem em Movimento (UL), mestre em Cinema e Televisão (FCSH), licenciado em montagem e argumento (ESTC), professor de cinema nos cursos profissionais de Animação Sociocultural e Interpretação (IDS).

 

SESSÃO 2: Sobre Tecnologia, Arte e Nuvens

6. Seria irracional, e contraditório, pensar que aquilo que nunca foi até hoje realizado o possa ser sem utilizar meios diferentes daqueles que foram até hoje utilizados.”

51. O entendimento humano tende naturalmente para as abstracções, imaginando aquilo que flui como constante. Contudo, é preferível dissecar a natureza do que abstrair dela. (…) É necessário considerar a matéria e os seus esquematismos, meta-esquematismos, o acto puro e a lei do acto ou do movimento, pois as formas são ficções do espírito humano, a menos que demos o nome de formas às próprias leis do acto.”                    
                                                                                                                 Francis Bacon, Novum Organum

Data:

·         2017-03-14

Objetivos:

·         Pensar a relação histórica entre formas de expressão artísticas e aparatos/aparelhos tecnológicos, no caso da pintura e do cinema. Visionamento de um excerto de “10 Skies”, de James Benning.

Material bibliográfico de apoio:

·         Bazin, André (2005). “The Ontology of the Photographic Image”, in What Is Cinema?. University of California Press: Los Angeles, California

·         Crary, Jonathan (2017). Técnicas do Observador. Orfeu Negro: Lisboa

Filmes visionados (excertos):

·         Ten Skies (2004), James Benning

·         Stellar (1993), Stanley Brackhage

·         Zabriskie Point (1970), Michelangelo Antonioni


Do Realismo à Abstracção

9 Março 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

CIÊNCIA E ARTE

Módulo 1 – Nuvens

SESSÕES SOBRE “TEN SKIES”, de JAMES BENNING

 

SUMÁRIO

Docente:

·         Pedro Florêncio, doutorando em Artes Performativas e da Imagem em Movimento (UL), mestre em Cinema e Televisão (FCSH), licenciado em montagem e argumento (ESTC), professor de cinema nos cursos profissionais de Animação Sociocultural e Interpretação (IDS).

 

SESSÃO 1: Do Realismo à Abstracção

As minhas ideias quase não são mais do que sensações, e a esfera do meu entendimento não vai além dos objectos que me rodeiam de perto.” (Jean-Jacques Rousseau, Os Devaneios do Caminhante Solitário, p. 106)

“Preferi, por isso, seguir o meu velho método, que me obriga a observar todos os fenómenos da natureza numa determinada sequência, acompanhando atentamente as transições, para diante e para trás. E assim cheguei sozinho a uma perspectiva viva, a partir da qual se forma um conceito que depois, numa linha ascendente, se encontrará com a ideia.” (J. W. Goethe, O Jogo das Nuvens, p. 46)

Data:

·         2017-03-09

Objetivos:

·         Contextualizar o trabalho cinematográfico de James Benning, relacionando-o com outros autores e diferentes conceitos de abstracção. Breve exposição sobre o conceito de Dupla Artialização da Natureza, por Alain Roger.

Material bibliográfico de apoio:

·         Alain Roger, Natureza e Cultura. A Dupla Artialização

·         Edward T. Hall, A Dimensão Oculta, cap. X “A perspectiva na Arte”

·         John Berger, Modos de Ver

·         Clive Bell, Arte

·         Jean-Jacques Rousseau, Os Devaneios do Caminhante Solitário

·         J. W. Goethe, O Jogo das Nuvens

 

Material visual de apoio:

·         Ruhr (2009), James Benning

·         4’33’’, John Cage (exemplo citado em: https://www.youtube.com/watch?v=Oh-o3udImy8)

·         A Line Made by Walking (Inglaterra, 1967), Richard Long

·         Mont Sainte-Vitoire (vários), Paul Cézanne

·         Seascapes, Hiroshi Sugimoto

·         Black on Gray (e outros), Mark Rothko

·         Black Painting(s), Ad Reinhardt

·         Nightfall (2012), James Benning

Excertos lidos:

Jean-Jacques Rousseau, Os Devaneios do Caminhante Solitário, p. 109

“As plantas parecem ter sido semeadas na terra com profusão, tal como as estrelas no céu, para convidar o homem, atraído pelo prazer e pela curiosidade, ao estudo da natureza; mas os astros estão longe de nós; são necessários conhecimentos preliminares, instrumentos, máquinas, longas escadas para os atingir e os colocar ao nosso alcance. As plantas, essas, estão naturalmente ao nosso alcance. Nascem sob os nossos pés e, por assim dizer, nas nossas mãos e, embora a pequenez das suas partes essenciais as esconda por vezes à vista, os instrumentos que as tornam visíveis são de um uso muito mais fácil do que os da astronomia. A Botânica é o estudo apropriado para um solitário ocioso e preguiçoso: um estilete e uma lupa constituem todo o equipamento de que precisa para as observar. Passeia, vagueia livremente de um objecto para outro, analisa cada flor com interesse e curiosidade e, logo que começa a aprender as leias da sua estrutura, saboreia, ao observá-las, um prazer sem esforço, tão intenso como se lhe tivesse custado muito.”

 

J. W. Goethe, O Jogo das Nuvens (do prefácio de João Barrento), p. 22-23

“O jogo é sempre o mesmo – o das formas e a sua mutação –, como uma moeda de duas faces, uma onde tudo se dissolve e outra onde tudo se fixa, que parecem querer anular-se, mas que Goethe, é claro, vê como necessariamente complementares. (…) Diz Goethe: “A ideia da metamorfose é uma dádiva que nos vem de cima, a um tempo imensamente digna e altamente perigosa. Leva ao informe, destrói o saber, dissolve-o. É uma espéce de vis centrifuga, e perder-se-ia no infinito se não encontrássemos um contrapeso para ela: falo do impulso classificatório, de uma tenaz capacidade de persistência de tudo aquilo que um dia veio à realidade.”

                                                                                                                                                                                            

Sugestão de leitura para a sessão seguinte:

·         McDonald, Scott (2007). “James Benning’s 13 LAKES and TEN SKIES, and the Culture of Distraction” (págs. 218-231), in James Benning, (org.) Barbara Pichler & Claudia Slanar. SYNEMA: Vienna.

Os materiais encontram-se na reprografia azul na pasta da cadeira.